O rapaz do blusão azul defensor do ambiente que “tropeçou” na campanha da CDU

Dois jovens abordaram o candidato da CDU em Alcochete para lhe entregar uma carta sobre as alterações climáticas assinada por estudantes e para lhe perguntar, por três vezes, a sua opinião sobre o ambiente. Foram parcos em explicações aos jornalistas – e o rapaz foi depois visto no comício de Almada.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

Andava João Ferreira a distribuir panfletos da CDU na esplanada de um café no centro de Alcochete, ao final da manhã deste sábado, quando foi abordado por dois jovens que lhe queriam entregar uma carta sobre as alterações climáticas e saber quais as suas propostas para as combater. O candidato começou por dizer que esse não pode ser só tema de bandeira eleitoral, que é uma preocupação constante da CDU, e lá foi enumerando as propostas que já tinha defendido no dia anterior, na visita ao distrito de Beja.

Falou da directiva das emissões industriais que deve incluir os gases poluentes, do alargamento dos novos passes sociais a todo o país e de maior redução do preço, da recuperação para o controlo público de empresas estratégicas do sector energético com a EDP, REN e Galp, e da criação de um observatório europeu da seca em Portugal.

Para quem é biólogo e estava a falar com dois jovens activistas supostamente conhecedores do assunto, João Ferreira usou uma linguagem muito básica e didáctica. Por exemplo: “o mercado do carbono, não sei se sabem o que é, é um comércio em que se compra e vende direitos de emitir poluentes…”, ou “e olhem uma medida que já devem ter ouvido falar, do alargamento dos passes sociais a todos os operadores e áreas metropolitanas, com uma redução significativa do preço”.

Depois da longa explicação de João Ferreira, o jovem lá pediu desculpa por ter “entrado um bocado de repente” na arruada e, de forma atabalhoada, lá foi dizendo umas generalidades como “o assunto é grave a nível da população em geral e o nosso planeta está em risco” e depois disse querer “perceber um bocadinho melhor” a posição de João Ferreira “enquanto cidadão em relação às questões do ambiente e como se posiciona”.

O candidato diz “valorizar muito a preocupação” dos jovens porque é também a da CDU e convida-os a olhar para o trabalho dos eurodeputados na página do Parlamento Europeu e a comparar o que fez cada um dos 21 em cada área. Conta que a CDU contribuiu para denunciar os escândalos da manipulação de emissões da indústria automóvel e a promiscuidade desta com instituições europeias, entre outras medidas. Mas nada de falar sobre a sua preocupação enquanto cidadão, como o jovem pedira.

Por isso, este quis saber “como é que a CDU vê, no futuro, esta questão das alterações climáticas caso nada seja feito”. João Ferreira criticou o impacto do capitalismo sobre a natureza e defendeu a necessidade de “repensar uma sociedade nova”. Além de elogiar os jovens: “É importante que eleitores jovens e críticos, como vocês me parecem ser, mantenham essa visão crítica e que olhem para lá da espuma dos dias da campanha”.

“Obrigado por nos ouvir”, respondeu o rapaz – quando na verdade fora ele o ouvinte. Aos jornalistas, disse estudar no Seixal e ela em Alcochete, e tencionarem entregar a carta a “qualquer tipo de partido que quiser” ir a Alcochete ou ao Seixal. E a missiva diz precisamente o quê? “Fala sobre as alterações climáticas e tudo o que se está a passar sobre os interesses das empresas e que estão a ter as causas que todos podemos ver no nosso ambiente”, respondem, dizendo quererem “alertar o eurodeputado sobre o futuro”.

Daniel, de 19 anos, e Laura, de 17, afirmam não integrar qualquer movimento. “Somos apenas estudantes preocupados”, responde ela. “Participámos em ambos [os protestos recentes] e não estivemos à frente de nada, mas quem sabe se não organizamos algum? Algo tem que ser feito porque isto está grave”, acrescenta ele.

O “encontro” não pareceu natural: os jovens fizeram a pergunta e deram todo o tempo a João Ferreira para falar sem nunca pedir qualquer explicação específica, e depois insistiram exactamente na mesma questão mais duas vezes. Nunca contrapuseram qualquer argumento. E os organizadores da campanha, sempre tão cuidadosos com o tempo e com quem se aproxima do candidato, deram rédea larga aos dois jovens, que ouviram João Ferreira falar por oito minutos – mais tempo do que às vezes fala aos jornalistas.

Questionados depois pelos jornalistas, os jovens deram nomes diferentes consoante com quem falaram – primeiro eram só o Daniel e a Laura; depois eram o Daniel Alexandre e a Laura Ribeiro; no fim já era o Daniel Rodrigues. E pareceram demasiado acanhados para alguém que se desloca vários quilómetros para entregar um manifesto e não parece querer divulgá-lo. E depois, à tarde, o rapaz estava no comício de Almada, logo na primeira linha – foi denunciado pelo mesmo blusão azul que trazia vestido - e acabou por desaparecer quando alguns jornalistas olhavam para ele ostensivamente, identificando-o entre a plateia.

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