Ser Enfermeiro em Oncologia

Não é o cancro que me assusta. É a capacidade que temos para o combater. E é o conhecimento que tenho sobre essa mesma capacidade.

Quando digo o que faço a resposta é, geralmente, a mesma: “Não sei como consegues”. Já não pergunto o porquê de me responderem isso. Já percebi que o cancro continua a ser assustador. Já percebi que ainda continua a ser associado à finitude da nossa vida, independentemente de todos os avanços que têm existido. Não é o cancro que me assusta. É a capacidade que temos para o combater. E é o conhecimento que tenho sobre essa mesma capacidade. Sobre o que já é, ou ainda não é, possível. E, diariamente, cuidar de pessoas sabendo isso.

Posso já ter alguns conhecimentos sobre o cancro mas todos os dias aprendo mais. Não sobre o cancro. Sobre nós, pessoas. É indescritível a força que conseguimos ter, o amor que conseguimos dar e a coragem nos tempos de maior medo.

Sou enfermeira de oncologia por isto. Porque todos os dias são diferentes e porque sinto, verdadeiramente, que também faço a diferença. Às vezes sei disso através de um “obrigado”, outras vezes através de uma lembrança ou um abraço mas, na maioria das vezes, basta o olhar. Porque, infelizmente, o tempo continua a não chegar para tudo e as exigências são cada vez maiores. O tempo escasseia e não me permite estar apenas com aquele doente. Ou com aquela família. Falamos mais depressa do que deveríamos, apertamos as mãos e terminamos com “se precisar de alguma coisa diga”. Mas o que frequentemente vejo é que já precisam. Precisam de mais do meu tempo e precisam, também, de mais tempo.

Na sala de quimioterapia despedimo-nos desejando as melhoras. Como enfermeiros desejamos isso e fazemos por isso. Ser enfermeiro em oncologia implica uma constante atualização, inerente aos novos métodos e tratamentos para a cura e controlo do cancro, uma generosa dose de empatia e um grande trabalho em equipa. Seria impossível trabalhar sozinha. São os meus colegas que tornam o meu dia mais fácil e os meus sonhos profissionais possíveis. Eles não cuidam apenas das pessoas que estão com eles na sala. Também cuidam de mim. E eu espero também conseguir cuidar deles.

Neste dia, 18 de maio, Dia Europeu do Enfermeiro Oncologista, quero agradecer às pessoas de quem cuidei, aos que estão e aos que já partiram, por me fazerem crescer enquanto pessoa e procurar ser melhor enfermeira. Mas quero, sobretudo, agradecer, como colega e como familiar de uma pessoa com doença oncológica, a todos os enfermeiros de oncologia pela competência, empatia e dedicação que demonstram no seu trabalho.

A todos os Enfermeiros Oncologistas, o meu Obrigada.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários