Leopoldo Lopéz diz que intervenção militar é constitucional, mas que transição tem de ser pacífica

O líder da oposição venezuelana deu uma entrevista à EFE na embaixada espanhola em Caracas, onde está hospedado (e não exilado). O Governo espanhol já fez saber que não o entrega, apesar do mandado de detenção.

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O líder da oposição venezuelana, Leopoldo Lopéz Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS

O líder da oposição venezuelana Leopoldo “não descarta nenhum cenário” para retirar Nicolás Maduro do poder na Venezuela. Questionado pela agência EFE sobre uma possível intervenção militar, disse ser uma alternativa legal prevista pela Constituição.

"Não descartamos nenhum cenário que esteja dentro da Constituição. Esperemos que não venha a chegar a esse ponto, mas não o afastamos, pois é constitucional e não podemos afastar nenhum cenário que nos permita conquistar a liberdade”, disse.

Leopoldo López está refugiado na embaixada espanhola em Caracas desde que foi retirado do regime de prisão domiciliária na terça-feira. Diz ter sido indultado pelo Presidente que reconhece, Juan Guaidó. Na quinta-feira, o Supremo Tribunal ordenou à secreta militar, a Sebin, que o prendesse. A Espanha já disse que a sua embaixada é território nacional e, por isso, inviolável.

Na entrevista à EFE, salientou que quer que a Operação Liberdade — o nome da fase da insurreição começada na terça-feira — seja “um processo pacífico, que não recorra à violência, mas que conte com a força do povo e com a Força Armada”. Garantiu ter-se reunido, em casa, onde cumpria o regime de prisão domiciliária, com chefias militares e membros destacados do chavismo e que “há um claro interesse, no círculo próximo de Maduro, em que ele saia do poder”. “Existiram várias conversas [entre líderes opositores e o círculo do governante]”. 

"Hoje, Maduro não pode confiar nem em quem lhe serve café”.

López disse que o “medo” entre o aparelho militar começou a cair na terça-feira. “Começámos a derrubar o medo entre os homens e mulheres das Forças Armadas para que tomem decisões e ajam”, disse. Mas sublinhou ao longo da entrevista que apesar de considerar que a hipótese de intervenção militar está prevista na Constituição, a transição “tem que ser um processo pacífico, sem recorrer à violência” e para isso precisa de contar “com a força do povo e dos militares”.

Leopoldo López é o mais radical opositor do regime chavista. Foi preso em 2014 e condenado a mais de 13 anos de prisão, tendo cumprido a pena na prisão militar de Ramo Verde até passar ao regime de domiciliária, em 2017. A Sebin recebeu ordem para o prender caso saia da embaixada.

Em comunicado, citado pelo El País, o Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol informa que o embaixador de Espanha na Venezuela, Jesús Silva Fernández, já contactou com “o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza”.

O objectivo do Governo espanhol é alcançar “uma solução com a maior brevidade possível” – sendo que “em nenhum caso se contempla a entrega de Leopoldo López às autoridades venezuelanas nem a sua retirada da residência do embaixador”, lê-se no mesmo comunicado.

Guaidó apresenta plano para os próximos dias

Juan Guaidó anunciou no Twitter o plano para os próximos dias: nesta sexta-feira começa a greve da função pública e realizam-se assembleias em todo o país para “convocar as próximas mobilizações”; para sábado está marcada uma mobilização cidadã “nas principais unidades militares para que se juntem à Constituição” e, no domingo, assinala-se uma vigília e oração “pelos mártires da liberdade”.

“Convoco todos os sectores do país a manifestar-se publicamente exigindo que termine a usurpação, a actuação constitucional da Força Armada, a sua participação na Operação Liberdade, organizar e realizar um dia de greve ou protesto sectorial durante a próxima semana” – e para isso chama “trabalhadores públicos, sociedade civil, povo na rua e forças armadas”.

Num comunicado, o Guaidó expressou as suas condolências pelo assassinato de quatro jovens durante as manifestações dos últimos dias.

“Saíram às ruas de forma pacífica, a pedir o fim da usurpação, jovens que sonhavam com a liberdade da Venezuela, com um país de oportunidades que nunca conheceram por culpa do regime usurpador”, lê-se no comunicado. “A sua luta é a luta de todos, as suas mortes não serão em vão, juntos na honra a todos os caídos poremos fim ao regime usurpador e içaremos a bandeira da liberdade, porque somos uma geração valente, determinada e incansável de venezuelanos que amam o seu país.”

Número dois da Assembleia Nacional na mira da justiça

O Supremo Venezuelano emitiu na quinta-feira uma autorização para processar Edgar Zambrano, número dois da Assembleia Nacional, órgão dirigido por Juan Guaidó.

Através do Twitter, a Assembleia deixou uma mensagem de apoio e defesa de Zambrano: “O vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, representa a vontade de 14 milhões de venezuelanos como membro da direcção do único poder legítimo, a Assembleia”, lê-se na mensagem.

Zambrano será investigado por crimes relacionados com a sublevação militar de terça-feira: “traição à pátria, conspiração, instigação à insurreição, rebelião civil, concertação para delinquir, usurpação de funções e instigação pública à desobediência das leis e ódio continuado, escreve o El País.

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