Quem subiu e quem desceu nas eleições espanholas

As vitórias e as derrotas em política são mais do que a mera aritmética dos números, conjugando outros factores, como os objectivos traçados, as expectativas criadas por discursos ou sondagens. A jornada eleitoral espanhola deste domingo não foi excepção

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Pablo Casado perdeu mesmo para Pedro Sánchez Adriano Miranda

Para cima

Pedro Sánchez

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Adriano Miranda

O Partido Socialista (PSOE) subiu de 85 deputados em 2016 para 123 e mais 38 deputados é sem margem para dúvida uma vitória, mesmo assim, no seu conjunto, o resultado eleitoral não é totalmente satisfatório para os socialistas. Primeiro, o partido não teve sozinho uma votação confortável que lhe permita arriscar governar sozinho com acordos pontuais à esquerda e à direita; em segundo, a soma à esquerda ficou aquém da maioria, sobretudo, pela queda do Unidas Podemos; em terceiro, os resultados também não permitem uma maioria juntando os partidos não independentistas; em quarto, a possibilidade de um novo acordo com o Cidadãos (como aquele que foi chumbado no Parlamento em 2015), que ambos os partidos já rejeitaram na campanha e depois, mas a pressão para que se concretize é muita, deixa Sánchez com uma alternativa viável ao acordo com os independentistas.

Santiago Abascal

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Juan Carlos Hidalgo/EPA

Quando um partido que vinha de 0,2% (em 2016) e nenhum deputado consegue 10,2% e 24 deputados é forçoso que esteja no lado dos vencedores. E, no entanto, há nuances neste irromper do Vox na política nacional espanhola. As sondagens foram-lhe dando um peso nas urnas que não se concretizou: chegou-se a falar na possibilidade dos 15%, de superar o Unids Podemos como quarta força política, de uma bancada de 38 a 40 deputados. É certo, como afirmou Abascal, que no Congresso espanhol passa a estar representada a extrema-direita (ideologia política que sempre lá esteve, mas que se abrigava na respeitabilidade do PP), mas é uma bancada que não vai somar para nada porque a direita saiu derrotada, não é o mesmo que aconteceu na Andaluzia, onde o apoio do Vox é essencial para governar. E uma coisa é a política dos comícios e das redes sociais, outra, muito diferente, é a política das instituições.

Para o  lado

Albert Rivera

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Alejandro García/EPA

Obter mais um milhão de votos que em 2016 e mais 25 deputados (passando de 32 para 57 deputados) é um excelente resultado para o Cidadãos e para Albert Rivera. O partido assume-se cada vez mais como a grande força do centro-direita liberal espanhol. Só que a agressividade e a euforia de Rivera no último terço da campanha, quando se afirmava a ponto de superar o PP, com dados de sondagens que colocavam o partido empate técnico com os populares, contrasta com os números saídos das urnas. Nem na pior hora do PP, a grande subida do Cs chegou: menos 220 mil votos e nove deputados. E das duas uma, ou o PP está a caminho da extinção, ou esta foi a pior hora dos populares e a diferença entre os dois será maior nas próximas eleições. Não basta repetir que se é líder da oposição, como Inés Arrimadas, a número dois do partido, o fez esta segunda-feira, é preciso que os números correspondam a esse epíteto.

Pablo Iglesias

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Juan Medina/EPA

Como em tudo na vida política, uma vitória pode ser uma derrota e vice-versa. O Unidas Podemos (UP) foi um derrotado da noite eleitoral, ao perder 1,3 milhões de votos e 29 deputados em relação a 2016. E Pablo Iglesias admitiu o fraco resultado no discurso da noite eleitoral (“gostava de ter tido um resultado melhor”). Mesmo assim, o bloco da direita não ganhou e o UP pode acabar no governo ou pelo menos a influenciar as políticas do próximo executivo de Pedro Sánchez, o que, dentro do mau, resulta positivo para uma formação política que sofre as dores de um movimento de rua que se institucionalizou como partido.

Para baixo

Pablo Casado

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Juan Medina/EPA

Se há um derrotado claro destas eleições espanholas é Pablo Casado. O Partido Popular não só obteve a sua pior votação de sempre, como se viu reduzido a menos de metade dos deputados que elegeu em 2016 (passou de 137 para 66). O único consolo de uma noite aziaga para o PP, e a que o partido se agarrou aferradamente, é o de se manterem como o maior partido da direita espanhola, evitando que o crescimento do Cidadãos se transformasse num pesadelo de dimensões cataclísmicas. Casado também está a pensar que, em 2015, Pedro Sánchez também não se demitiu quando o PSOE tinha tudo para ganhar e perdeu e hoje é primeiro-ministro.

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