Venham, a blockchain está na mesa! (e a realidade aumentada deu uma ajuda)

Espanha, Japão, Israel, Itália e República Checa são os países na final do primeiro concurso de startups gastronómicas da Organização Mundial do Turismo.

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Há aplicações para profissionais que os ajudam a identificar o estado de conservação de produtos frescos como frutas ou vegetais Daniel Rocha

Estão escolhidos os finalistas do primeiro concurso promovido pela Organização Mundial do Turismo (OMT) dedicado a startups gastronómicas. Um deles desenvolveu uma aplicação de realidade aumentada, para profissionais, que os ajuda a identificar o estado de conservação de produtos frescos como frutas ou vegetais.

E perguntamos nós: o que é feito da ancestral técnica de ver com os olhos, cheirar, sentir com a mão? Essa foi uma das dúvidas que colocámos aos fundadores da Arthylen, a startup espanhola que desenvolveu esta tecnologia. E quem responde é Alvaro Lopez-Amo.

“Neste momento, a aplicação é para o uso de profissionais, mas temos previsto o lançamento de uma app de descarga gratuita para particulares”, começa por dizer este responsável.

“Desenvolvemos um algoritmo de inteligência artificial que reconhece um produto fresco tanto pela forma dele como pela textura e características da pele desse produto. Isso permite identificar o estado de maturidade ou a existência de algum problema, como fungos.”

Além destas funcionalidades, que podem ser úteis para profissionais de cozinha ou, por exemplo, do retalho alimentar, a aplicação permite planificar tarefas logísticas, como o desenho virtual de distribuição e apresentação de produtos, produção online de fichas de cada produto e controlo online do trabalho, explica o mesmo responsável.

Esta startup nasceu pela mão de três entidades. Duas delas, a Alianza Formación e a ARC Eurobanan, já cooperavam há anos na formação de trabalhadores do sector da distribuição alimentar, incluindo programas de capacitação para o reconhecimento de produtos frescos.

“Ao longo do tempo, descobrimos que, quando os nossos alunos se incorporavam nas empresas, inicialmente melhoravam muito a produtividade em dois aspectos: redução do desperdício e as vendas por secção”, garante Alvaro. Porém, as melhorias eram temporárias. “Passado algum tempo, essas melhorias estagnavam e os indicadores de melhoria reduziam-se. A partir disso, pensámos em criar um assistente virtual que ajudasse os trabalhadores num momento de dúvida sobre um produto, as características ou como geri-lo.”

Estávamos em 2013 e a realidade aumentada era uma tecnologia que começava a ganhar visibilidade. E combinando a necessidade de uma solução profissional com as potencialidades dessa tecnologia, a Arthylen desenvolveu uma solução que agora está na corrida ao prémio da OMT. “A necessidade de uma ferramenta digital que ajude em tempo real, no posto de trabalho e dispensando aulas ou formações, foi o ponto de partida da nossa ideia que, com o tempo, tem evoluído e agora pode satisfazer outras necessidades”, conclui Alvaro.

Este ajudante virtual integra reconhecimento de imagem, realidade aumentada, deep learning e redes neuronais artificiais para dar o apoio prometido pelos criadores. A utilização desta app pode ser feita em três modelos: por subscrição; por contrapartida (em que o cliente partilha investimento e o benefício); e por personalização. A versão aberta a todos os consumidores ainda não tem data.

As outras quatro startups finalistas são a Ginkan (Japão), a Dinify (Rep. Checa), a ARB (Itália) e a BiteMojo (Israel).

Recompensado à mesa

O concorrente asiático aposta na tecnologia blockchain (a mesma por detrás das criptomoedas) e na chamada economia de tokens (uma espécie de recompensa digital, como por exemplo pontos num programa de fidelidade). Concorre com a SynchroLife, uma app de recomendação de restaurantes, disponível em iOS (só na loja japonesa) e Android. Ao contrário do habitual, esta app não recorre a críticas ou avaliações de outros utilizadores, nem a promoções, garantem os criadores. Ao invés, centra-se nos gostos pessoais de cada utilizador e (a principal novidade é que) incorpora tecnologia blockchain e um token chamado SynchroCoin, que é usado para “premiar” utilizadores pelo conteúdo que geram e pode ser usado para fazer pagamentos em restaurantes.

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Lisboa é a única cidade na BiteMojo, por agora DR

Este conceito é mais ou menos igual ao que propõe a BiteMojo, uma app criada em Israel que também permite ter experiências gastronómicas guiadas por uma aplicação que incorpora uma “moeda virtual”, a que chamaram Bite coins (não confundir com bitcoin...!). A app propõe roteiros organizados por cidades, sendo Lisboa a única representante portuguesa, por agora. Por 35 euros (ou 18.000 bite coins), pode-se embarcar num percurso de três horas, com seis pontos de paragem, cada um deles dedicado a iguarias gastronómicas típicas. Além disso, há sugestões para descobrir “pérolas escondidas” e pode-se ganhar e acumular bite coins através da interacção com amigos.

Esta espécie de gamification da experiência turística e o recurso a “recompensas” são duas das tendências que vão mexer com a forma como viajamos, segundo prevê a Euromonitors International e como a Fugas já deu conta.

Resta falar da Dinify, que ajuda restaurantes a traduzir ementas para diferentes idiomas (se vingar no mercado, lá se vão as ementas com erros celebrizadas em tantos memes por essa Internet fora) e da ARB, que dá apoio ao turismo agro-gastronómico. Fundada por dois consultores italianos, a ARB trabalha sobretudo com quintas e produtores que queiram desenvolver essa linha de negócio.

Havia duas empresas portuguesas na corrida (a Pologastronómico e a Tertúlia Algarvia), mas ficaram pelo caminho. O vencedor do concurso da OMT será anunciado a 3 de Maio, em San Sebastián, no País Basco, em Espanha, que será palco do Fórum Mundial de Turismo Gastronómico.

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