O mistério de António Costa

Costa decidiu acrescentar mais uma camada de mistério, ao transformar as eleições europeias num plebiscito ao Governo.

Há personagens muitos ricos na Guerra dos Tronos, mas poucos tão políticos e misteriosos como Lord Varys, conselheiro de reis que ajuda a subir e a apear do trono sem que se perceba muito bem quais são as suas reais motivações. Questionado sobre isso pela última pretendente, Daenerys Targaryen, Varys responde da seguinte forma: “Quer saber com quem está a minha verdadeira lealdade? Não com nenhum rei, nem nenhuma rainha, mas com o povo. O povo que sofre com os déspotas e prospera com um governo justo, o povo cujo coração você quer conquistar.”

O político António Costa também tem crescido em mistério nos últimos tempos. Um dos maiores é sem dúvida o da escolha de Pedro Marques para cabeça de lista às europeias. Ninguém lhe consegue vislumbrar especial carisma ou peso político num ministro, que, apesar das inaugurações, deixa pouca obra para mostrar. Não percebem os comentadores e não percebem os militantes, nomeadamente os autarcas, que nunca morreram de amores pelo responsável das Infra-Estruturas e que são decisivos em qualquer campanha eleitoral.

Agora, Costa decidiu acrescentar mais uma camada de mistério, ao transformar as eleições europeias num ​ plebiscito ao Governo. É sabido que quando as europeias são próximas e antecedem as legislativas servem como uma espécie de almofada para o protesto contra quem está no poder. Por isso torna-se um mistério perceber por que razão Costa decidiu desperdiçar essa válvula de escape.

Será que elevou a fasquia porque percebeu o fraco candidato que tem e necessita de animar a “máquina” partidária, perante a qual não se pode arriscar a vencer por “poucochinho”? Perde obviamente a discussão sobre a Europa que queremos, embrulhada numas pré-legislativas, mas isso é inevitável porque tanto​ Rui Rio como o CDS já aceitaram ir a jogo.

Outra hipótese é ele acreditar que já conquistou o “coração do povo” quando o livrou dos “déspotas” da troika e governou de forma que todos prosperassem. Se for esse o caso, é melhor que alguém o aconselhe a ser um pouco como Lord Varys e a arranjar uns “passarinhos” que lhe vão ao ouvido sussurrar o que se passa no país, porque não há fiabilidade popular nestes tempos em que reina a volatilidade política. Saia da bolha da capital já agora, peça a alguém que não tenha medo da verdade, aquilo que Daenerys Targaryen pediu a Lord Varys no final da conversa: “Jura que se alguma vez eu falhar ao povo não conspirarás nas minhas costas. Vais olhar-me nos meus olhos e dizer-me a verdade.”

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