Rui Rio quer ter 3 ou 80%?

O eleitoralismo parece ser um vírus que se pega.

O PSD teve, um dia, um líder que dizia preferir ter 3% dos votos e não fazer falsas promessas do que 80% a prometer aquilo que não podia cumprir. Chamava-se Manuela Ferreira Leite. E lembrei-me disso quando ouvi esta semana Rui Rio, o presidente do PSD que se dizia ser o mais parecido de sempre com Ferreira Leite, que esteve à frente do partido entre 2008 e 2010. E, tal como Rio, Manuela Ferreira Leite teve que enfrentar num só ano (2009) umas eleições europeias e umas legislativas. Ganhou as primeiras e perdeu as segundas, quatro meses depois. 

E o que é que Rui Rio veio dizer esta semana?

  • "Ganhando o PSD as eleições, a carga fiscal não sobe e o esforço tem que ser todo para descer"
  • "Se há verba, acho que a medida [Programa de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos - PART], que entrou hoje em vigor] faz sentido, como é lógico"
  • "Os magistrados têm o subsídio de residência que agora está englobado no seu vencimento, um professor do Porto que é colocado em Bragança não tem subsídio"
  • "Sinto uma injustiça completa [nos descongelamentos de carreiras na função pública]. Os enfermeiros é de uma maneira, os professores é de outra maneira, os militares é de outra e os juízes é de outra maneira"
  • "Tenho uma opinião mas não é para exprimir ainda em público”, respondeu, quando questionado sobre as propostas de repor o IVA da restauração nos 23% e as 40 horas de trabalho semanais na função pública, defendidas a título pessoal por Joaquim Miranda Sarmento, que é também o porta-voz do PSD para a área das Finanças 

O eleitoralismo parece ser um vírus que se pega. Nas últimas semanas, e muito por causa do anúncio do Governo sobre a baixa do preço dos passes para os transportes, o PSD desdobrou-se em acusações de que António Costa e o PS estavam a adoptar medidas eleitoralistas. A apresentação do passe social único é “uma medida eleitoral como nunca se viu”, classificou mesmo o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, dirigindo-se a António Costa, num debate quinzenal em Março.

Agora, pelo que ouvimos da boca do líder do partido na segunda-feira, parece que o PSD está tentado a subir também o tom das promessas, em especial, para os funcionários públicos. Terá isso a ver também com alguma euforia pelo facto de as últimas sondagens darem o PSD a crescer nas intenções de voto como há muito não se via?

Na apresentação do livro “A Reforma das Finanças Públicas em Portugal”, de Joaquim Miranda Sarmento, que é também porta-voz do PSD para a área das Finanças, Rui Rio reagiu esta quarta-feira já com algum embaraço perante as polémicas propostas - leia-se, pouco populares do ponto de vista da captação de votos entre funcionários públicos e conservadores de direita - daquele social-democrata. "[Miranda Sarmento] tem liberdade de pensamento e terá vontade que o PSD abrace as suas ideias. Mas umas serão acolhidas, outras não”, respondeu aos jornalistas quando o que se estava a falar era a subida de IVA, 40 horas na administração pública ou um mínimo de impostos a pagar pelos mais pobres. Por sinal, propostas que muitos dos novos desafiadores de Rui Rio agrupados no Movimento 5.7 até subscreveriam.

São tempos interessantes, estes. Veremos o que trará o programa eleitoral de Rui Rio às eleições legislativas. E, já agora, o programa às europeias - faltam 50 dias para estas eleições e ainda ninguém o viu.

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