Duarte ♥ Susana ♥ Pedro ♥ Catarina ♥ António

O António foi para o Governo. O Pedro foi para o Governo. O Duarte foi para o Governo. A Catarina foi para o Governo. E a Susana foi nomeada pelo Governo. Felizmente, ninguém ficou fora desta história. Tal é a força do amor.

A gente às vezes já não sabe bem se isto é um país, se é um sketch do programa de Ricardo Araújo Pereira. Então não é que depois de descobrirmos, na semana passada, que a mulher de Pedro Nuno Santos foi nomeada para o Governo por Duarte Cordeiro, descobrimos, esta semana, que a mulher de Duarte Cordeiro foi nomeada pelo Governo para coordenar um fundo de 55 milhões de euros acabadinho de criar?

A notícia é da revista Sábado: Susana Ramos, mulher de Duarte Cordeiro — o agora secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares e até há bem pouco tempo vice-presidente da Câmara de Lisboa — foi nomeada para a direcção do Fundo para a Inovação Social (FIS), conforme consta do Diário da República de 16 de Janeiro. Nem sequer é a sua primeira nomeação por parte do Governo.

Susana Ramos, que trabalhou na Câmara de Lisboa ao mesmo tempo que o marido (como directora no Departamento para os Direitos Sociais), também já tinha sido escolhida, em 2017, para coordenar a unidade nacional de gestão da EEA Grants, um mecanismo financeiro patrocinado pela Islândia, Liechtenstein e Noruega com o objectivo de reduzir as disparidades sociais e económicas na Europa. Até 2021, há 102,7 milhões desse mecanismo para distribuir, só em Portugal.

Tanto o FIS como a unidade nacional da EEA Grants são duas estruturas criadas recentemente por este Governo para gerir uma pipa de massa. Susana Ramos, que é mulher de Duarte Cordeiro, que é chefe de Catarina Gamboa, que é mulher de Pedro Nuno Santos, que é ministro de António Costa, tem quase 160 milhões de euros sob a sua tutela directa, para “apoiar projectos de impacto na sociedade”. Não é coisa pouca, ainda que o seu currículo na área da gestão de fundos não pareça particularmente robusto. Robustas, essas sim, são as ligações que estabeleceu com o círculo do PS que neste momento manda em Portugal, num eixo que vai da Praça do Município ao Terreiro do Paço, com passagem por São Bento.

Não vale a pena estar aqui a repetir o ineditismo e a escandaleira desta quantidade absurda de relações familiares, que fazem o Governo de António Costa parecer a Casa de Habsburgo. O melhor mesmo é sugerir a Duarte Cordeiro que siga a fórmula Pedro Nuno Santos e faça uma declaração pública de amor à sua esposa através das redes sociais, explicando nomeadamente que: 1) conheceram-se há muitos anos; 2) Pedro Nuno Santos esteve envolvido de alguma forma no seu encontro; 3) partilharam lindas e enérgicas lutas partidárias; 4) a Susana era gira, brilhante e engraçada; 5) é normal apaixonarmo-nos por quem está ao nosso lado; 6) acontece em todas as profissões; 7) ninguém deve ser prejudicado por ser mulher de um político.

Depois disto, bastará continuar a assobiar para o ar e a cantarolar o “Burbujas de Amor”, que em última análise são poucos aqueles que realmente se chateiam com as regras aborrecidas das democracias civilizadas. Por cá, aquilo que mais importa é a poesia do amor, e o amor, como está na Bíblia, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. Por favor, não inventem boas práticas éticas que o passam abalar. Pedro amava Duarte que amava Susana. Duarte amava Pedro que amava Catarina. Todos amavam António, desde os tempos da Câmara de Lisboa. O António foi para o Governo. O Pedro foi para o Governo. O Duarte foi para o Governo. A Catarina foi para o Governo. E a Susana foi nomeada pelo Governo. Felizmente, ninguém ficou fora desta história. Tal é a força do amor.

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