Médicos testam nova técnica de ressonância magnética em doentes com cancro do recto

A nova tecnologia pode ajudar os médicos a definirem a estratégia de tratamento mais adequada. Apesar de ter sido testada no cancro do recto, a técnica poderá vir a ser usada para determinar a malignidade dos gânglios linfáticos noutros tumores, como o da mama.

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A nova técnica foi testada por uma equipa do Centro Champalimaud, em Lisboa Daniel Rocha

Cientistas e médicos do Centro Champalimaud dizem ter testado com êxito uma nova técnica de ressonância magnética que permite determinar com precisão, antes de uma cirurgia, se os gânglios linfáticos de doentes com cancro do recto foram afectados.

A técnica, descrita num artigo publicado esta quarta-feira na revista da especialidade Cancer Research, poderá ajudar os médicos a definirem a estratégia de tratamento dos doentes mais adequada, nomeadamente seleccionar melhor os doentes que beneficiam mais de radioterapia ou quimioterapia antes da remoção cirúrgica do tumor.

A nova tecnologia de imagiologia por ressonância magnética foi testada no cancro do recto, mas, eventualmente, pode ser usada para determinar a malignidade dos gânglios linfáticos noutros tumores, como o da mama, de acordo com os autores do artigo. Os gânglios linfáticos envolvidos no cancro apresentam células malignas grandes e compactas.

No caso do cancro do recto, o estado dos gânglios linfáticos no mesorrecto (tecido que envolve o recto) é considerado um importante indicador de prognóstico dos doentes. Contudo, actualmente, com as técnicas de imagem em vigor na prática clínica, o conhecimento do estado dos gânglios linfáticos dos doentes com cancro do recto antes da cirurgia “é limitado”, assinala a primeira autora do artigo, Inês Santiago, citada em comunicado pela Fundação Champalimaud. Segundo a radiologista, “a tomada de decisão” dos médicos sobre a prescrição de radioterapia ou quimioterapia antes da cirurgia para remover o tumor, o recto e o mesorrecto “baseia-se em grande parte noutras características do tumor”. 

Inês Santiago descreveu à Lusa que a nova técnica “permite extrair parâmetros” que “classificam os gânglios com uma acuidade superior” à das técnicas convencionais, ao “aumentar a sensibilidade” das células a “pequenas perturbações do campo magnético”. Na prática, a técnica permite visualizar a assinatura magnética dos gânglios linfáticos, diferenciando os que são benignos (que apresentam células pequenas e não muito densas) dos que são malignos.

A equipa de cientistas e médicos do Centro Champalimaud, em Lisboa, testou a nova técnica de ressonância magnética em fragmentos de gânglios extraídos de doentes com cancro do recto operados, tendo confirmado os dados com os resultados obtidos nos exames patológicos. Depois, aplicou a técnica a doentes antes de serem operados, adaptando-a a scanners convencionais, que têm um campo magnético mais fraco, e voltou a confirmar os dados com os exames patológicos feitos após a cirurgia.

Num próximo passo, o grupo, que inclui especialistas em ressonância magnética e análise de imagem, pretende validar a técnica em mais doentes com cancro do recto e com outros tumores, testar um campo magnético mais forte e estender a aplicação experimental da técnica a instituições com equipamentos diferentes dos que são utilizados no Centro Champalimaud.

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