PCP questiona se apoio ao Novo Banco abre as portas a um “grande banco ibérico privado”

Jerónimo de Sousa foi a Belém afirmar ao Presidente a disponibilidade dos comunistas de “dar uma contribuição, à luz do interesse nacional”, à solução governativa que sair das próximas legislativas.

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Jerónimo de Sousa em Belém LUSA/TIAGO PETINGA

O PCP está preocupado com os “factores variáveis” que podem inverter o rumo do crescimento económico nacional, entre eles a situação da banca, com a questão do Novo Banco a levantar a dúvida aos comunistas sobre o que realmente se pretende com o “grande empréstimo” que o Estado vai fazer à estrutura.

“Será apenas para facilitar o negócio, criando condições para um desfecho que pode permitir especulações, a favor da criação de um grande banco ibérico privado?”, questionou Jerónimo de Sousa à saída da audiência com o Presidente da República no Palácio de Belém.

“A situação é inaceitável. É mais uma injecção financeira do Estado ao banco que acaba por abrir um buraco noutras áreas cruciais como a saúde”, lamentou o líder do PCP. “O Governo chama-lhe empréstimo, mas nada indica que possamos recuperar esse empréstimo, eu não tenho tanta certeza como o primeiro-ministro. Se é o Estado que paga, porque é que o Estado não gere esse banco?”, questionou.

Ainda assim, o PCP foi a Belém afirmar ao Presidente da República a disponibilidade para “dar uma contribuição à luz do interesse nacional”, para continuar o caminho da reposição dos direitos e rendimentos. “Este caminho tem um grande valor e leva a uma conclusão óbvia: a necessidade de avançar”, disse, referindo-se à solução governativa mas sem o dizer claramente. Isto porque, acrescentou, “apesar desses avanços continuam por resolver problemas de fundo, em particular nos serviços públicos – na saúde, nas escolas, nos transportes”.

“Esta ideia vai estar presente nas batalhas eleitorais, não fazendo juízos prévios porque é o povo português que decidirá os resultados, mas da nossa parte há uma afirmação clara de que continuamos disponíveis para dar uma contribuição à luz do interesse nacional”, disse ainda. Mas não quis ir mais longe, pois só “os resultados em Outubro determinarão as soluções políticas e programáticas”.

Questionado pelos jornalistas sobre se está de acordo com o entendimento da CNE em matéria de propaganda durante o período eleitoral, Jerónimo disse que não apoia a interpretação, embora defenda que deve haver “um sentido de neutralidade, de não abuso de inaugurações injustificadas”.

Mas já não considera que se devam impedir os partidos de dizer que contribuíram para políticas como a redução dos preços dos passes sociais nas áreas metropolitanas. “É uma medida de grande importância social que abrange mais de cinco milhões de portugueses e muitas famílias verão as suas vidas facilitadas”, sublinhou, considerando por isso que “os partidos que deram uma contribuição para que isso acontecesse têm o pleno direito e cabimento de o dizerem na sua campanha de esclarecimento”.

Governo é “direcção de campanha do PS”

Se o PCP considera que não é preciso mudar a lei das campanhas eleitorais para prevenir abusos, já o CDS continua a apontar baterias ao Governo, que acusa de se ter transformado numa “direcção de campanha do Partido Socialista”.

“O Governo não faz outra coisa que não seja gerir o tempo eleitoral, todas as semanas vimos anúncios, assistimos a supostas inaugurações que não passam de assinaturas de contratos, violando o que está na lei”, reafirmou Assunção Cristas, a única líder da direita a ser ouvida esta segunda-feira pelo Presidente da República.

Foi por isso que, recordou Assunção Cristas, o CDS apresentou uma queixa na CNE contra as inaugurações e promete continuar a denunciar os “abusos de um Governo que, com o erário público, faz campanha eleitoral”.

Confrontada com as preocupações de Marcelo Rebelo de Sousa com a fragilidade da direita, Assunção Cristas afirmou que “o CDS trabalha para representar uma alternativa de centro-direita” e que “tudo fará para que a direita obtenha mais de 116 deputados no parlamento” para criar “uma verdadeira alternativa em Portugal”.

Sobre o Novo Banco, a líder do CDS repetiu as dúvidas sobre os montantes que vão ter de ser injectados: “Continuamos sem saber se há necessidade de ir além dos 3,9 mil milhões de euros, porque esses já são conhecidos desde 2017. Suspeitamos que não é apenas essa quantia que está em causa, mas tudo o que é necessário para garantir a solvabilidade do banco”. Cristas lembrou ter questionado o primeiro-ministro no último debate quinzenal sobre se esse tema, mas ficou sem resposta.

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