Morreu o ensaísta e crítico João Bigotte Chorão

Professor, crítico literário e um dos grandes especialistas na obra de Camilo faleceu em Lisboa, aos 85 anos. Bigotte Chorão deixa aos leitores "o que de melhor definiu a sua vida como missão: o subtil diálogo entre a escrita, o escritor e o seu decifrador no tempo e para além dele", realça Marcelo Rebelo de Sousa.

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João Bigotte Chorão DR

O ensaísta e crítico literário João Bigotte Chorão, considerado um dos maiores especialistas na obra de Camilo Castelo Branco, morreu no sábado à noite em Lisboa, aos 85 anos, revelou à Lusa fonte da família.

O velório do ensaísta decorrerá a partir das 16h deste domingo na Igreja do Campo Grande, em Lisboa. O funeral realiza-se na segunda-feira, a partir das 10h na mesma igreja, seguindo depois para a Lousã (Coimbra), com uma cerimónia reservada à família – Bigotte Chorão era pai do poeta e crítico (e conselheiro cultural do Presidente da República) Pedro Mexia​.

Nascido na Guarda em 1933, João Bigotte Chorão formou-se em Direito e trabalhou na Editorial Verbo, na qual coordenou a publicação de várias enciclopédias, entre as quais a Enciclopédia do Século XXI e a Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia Logos.

Fica conhecido sobretudo como ensaísta e autor de uma "crítica humanista ou ontológica", que "parte da obra para o homem, tantas vezes esquecido numa visão apenas formalista da literatura", como o descreveu a editora Quetzal, quando publicou Além da Literatura (2014).

João Bigotte Chorão, estudioso da literatura autobiográfica, deixa vários ensaios sobre a obra de Camilo Castelo Branco. Foi membro da Academia das Ciências de Lisboa e do Instituto Luso-Brasileiro de Filosofia, tendo dirigido também o Círculo Eça de Queiroz.

Em 2008, foi distinguido com o Grande Prémio de Literatura Biográfica pela Associação Portuguesa de Escritores, pelo seu Diário Quase Completo, editado pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda. Uma década depois, João Bigotte Chorão publicou, com a mesma chancela, um volume de 300 páginas diarísticas, Diário 2000-2015.

Marcelo Rebelo de Sousa lamentou o desaparecimento do professor e ensaísta, homenageando-o numa mensagem colocada no site da Presidência da República. Aí enaltece o seu "constante empenho no conhecimento e na valorização da literatura portuguesa". O chefe de Estado sublinha também a "incansável curiosidade e poderosa capacidade reflexiva" de Bigotte Chorão, e recorda a sua "riquíssima ensaística e a criativa crítica literária, que se debruçaram sobre autores dos séculos XIX e XX", com destaque, além de Camilo, "para Almeida Garrett, Eça de Queiroz, Carlos Malheiro Dias, Tomaz de Figueiredo ou João de Araújo Correia".

João Bigotte Chorão deixa aos leitores "o que de melhor definiu a sua vida como missão: o subtil diálogo entre a escrita, o escritor e o seu decifrador no tempo e para além dele", acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

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