O cadastro dos administradores da Caixa

A Caixa, o banco que tem a confiança de um número elevado de portugueses, foi gerida sem qualquer noção de honra e quem teve nas mãos o destino do banco público do país revelou uma total e indigna ausência de responsabilidade.

Reserve as quintas-feiras para ler a newsletter de Ana Sá Lopes em que a política vai a despacho.

Delapidação de património público; crime de lesa-Estado em proporções impressionantes – é este o cadastro das administrações que passaram pela Caixa Geral de Depósitos durante os tempos gloriosos a que a auditoria ontem entregue no Parlamento diz respeito. 

A Caixa, o banco que tem a confiança de um número elevado de portugueses, foi gerida sem qualquer noção de honra e quem teve nas mãos o destino do banco público do país revelou uma total e indigna ausência de responsabilidade. Pode entender-se que Paulo Macedo, o agora CEO que não faz parte dessa história, venha deitar alguma água na fervura. “Agora, tentar que qualquer pessoa que tenha passado pela Caixa seja automaticamente culpado ou tenha cadastro, isso não é aceitável”, disse ontem Macedo, enquanto ia reconhecendo “más práticas” que são supostamente más, quando as vemos à luz de hoje”.

É possível que a luz do passado fosse de péssima qualidade, como nos tempos da lamparina a azeite e do candeeiro a petróleo. O que sabemos sobre a crise que começou há dez anos e arrastou vários bancos para a falência mostra que as luzes do passado foram trémulas, apagaram-se em momentos-chave, produziram iluminação intermitente que levou a uma recessão de enormes proporções cujos efeitos ainda hoje sentimos. A banca em geral era dominada, chamemos-lhe assim, por más práticas. Não é por isso que os responsáveis pelo que aconteceu no banco público – exactamente porque é o banco público – devem ter alguma atenuante.

Ninguém conseguirá explicar por que motivo generoso as administrações da Caixa Geral de Depósitos aprovaram 80 créditos sem qualquer controlo que causaram perdas de 769 milhões; a razão de as recomendações desfavoráveis das comissões de crédito de risco serem ignoradas, o que provocou perdas de 48 milhões. Tudo contabilizado, os prejuízos para a Caixa foram de 1847 milhões.

É evidente que os responsáveis por cada uma destas decisões danosas para o banco público têm rostos, nomes, números de telefone, declarações de IRS. O Ministério Público fará o seu trabalho, a comissão parlamentar de inquérito também. O cadastro das perdas está feito na auditoria. Esse cadastro existe, e para já, é o único cadastro que, na realidade, foi produzido.

Sugerir correcção
Ler 14 comentários