Putin visita Belgrado depois de denunciar pressões ocidentais nos Balcãs

O Presidente russo começou uma curta visita ao seu mais importante aliado na Europa, onde continua a ser recebido com honras de Estado.

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Milhares de pessoas vieram às ruas de Belgrado prestar homenagem a Putin Reuters/KACPER PEMPEL

Há alguns anos que a Sérvia é o reduto mais ocidental na Europa onde o Presidente russo, Vladimir Putin, tem honras de Estado. A visita do homem forte do Kremlin a Belgrado, que começou esta quinta-feira, não foi excepção, com direito a escolta aérea e a passadeira vermelha.

Num clima de degradação das relações entre Moscovo e as principais capitais europeias – fruto da anexação da Crimeia e do que a União Europeia diz ser a desestabilização do leste da Ucrânia promovida por Moscovo –, a aliança com a Sérvia assume uma grande importância para Putin. Belgrado vê na Rússia um parceiro estratégico, apesar de ter como objectivo uma futura adesão à UE.

Na Sérvia, a forte oposição russa aos bombardeamentos da NATO durante o conflito com o Kosovo, em 1999, e à posterior independência deste território, garante ainda a Putin uma forte dose de popularidade. Cerca de 30 mil pessoas aguentaram horas no frio gélido da capital sérvia para acompanhar a passagem da comitiva do líder russo.

A aliança entre os dois países vem de longe, ancorada na partilha de uma herança cultural eslava, mas tem repercussões nos dias de hoje. O assento permanente e respectivo direito de veto da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas tem inviabilizado a integração do Kosovo, por exemplo.

Acusações aos EUA

Na véspera de visitar a Sérvia, Putin voltou a acusar os Estados Unidos de “desestabilizarem os Balcãs ao quererem impor o seu papel dominante na região”. O líder russo criticou ainda a UE por estar a obrigar a Sérvia a fazer o que diz ser uma “escolha artificial” entre a Rússia e o Ocidente.

Há muito que a Rússia se opõe à integração dos países dos Balcãs em instituições com a UE ou a NATO, que Moscovo encara como ameaças estratégicas. Putin criticou o processo de mudança de nome da Macedónia – condição essencial para uma candidatura à Aliança Atlântica – que disse ter sido forçado pelas potências ocidentais. “O referendo para a mudança do nome do Estado falhou, mas a pressão externa continuou”, afirmou o Presidente russo.

Em Setembro, um referendo deu a vitória à proposta de mudança de nome para Macedónia do Norte, resolvendo desta forma um conflito diplomático com a Grécia, mas a taxa de participação ficou abaixo dos 50%. O Governo decidiu ainda assim avançar com o processo e, na semana passada, o Parlamento aprovou uma alteração constitucional.

Apesar de curta, a visita de Putin foi acompanhada de grandes medidas de segurança, com a polícia a mobilizar sete mil agentes. O Presidente russo encontrou-se com o homólogo sérvio, Aleksandar Vucic, a quem atribuiu a medalha da Ordem de Alexandre Nevski, umas das mais importantes condecorações do Estado russo, pelo seu papel na consolidação das boas relações entre os dois países.

Vucic chegou ao poder em 2012, quando se apresentava como um nacionalista, crítico do status quo do pós-guerra. Hoje é um pragmático que procura jogar em vários tabuleiros, tentando manter a via aberta para Bruxelas, sem abrir mão do aliado histórico. No ano passado, numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, Vucic garantia que a Sérvia quer ser “militarmente neutra”, mas não escondeu o objectivo de integrar a UE. “Temos uma boa relação com a Rússia, e não temos problemas com eles, mas estamos no nosso caminho para a UE”, disse na altura.

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