Jornalista Luís Godinho vai ser o próximo director do jornal Diário do Alentejo

O actual director do Diário do Alentejo acusou a Comunidade Intermunicipal de ter lançado um concurso "viciado" para escolher o seu sucessor.

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Paulo Pimenta

O próximo director do Diário do Alentejo vai ser o jornalista Luís Godinho Maneta, correspondente em Évora da SIC e vencedor do concurso público lançado pela dona do jornal e que foi criticado pelo actual director e preocupou o Sindicato dos Jornalistas, foi agora divulgado.

Num comunicado enviado à agência Lusa, Jorge Rosa, presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), a dona do Diário do Alentejo, de Beja, o único jornal público em Portugal, refere que Luís Godinho vai iniciar a prestação de serviços como director do semanário "a partir do dia 01 de Fevereiro", por um período de 12 meses e com possibilidade de mais duas renovações.

Segundo Jorge Rosa, o conselho intermunicipal da Cimbal aprovou nesta segunda-feira o projecto de decisão final e a respectiva minuta do contrato relativos ao concurso público para aquisição de serviços para a direcção do jornal.

O concurso foi lançado no passado dia 17 de Dezembro e durante o período de apresentação de propostas na plataforma electrónica AcinGov "foi apenas submetida uma proposta", a de Luís Godinho, "a qual respeitou os requisitos do caderno de encargos e do programa de concurso".

O júri do concurso reuniu no dia 03 de Janeiro e concluiu que a proposta de Luís Godinho "cumpria todos os requisitos e critérios estabelecidos" e propôs "a sua aceitação".

Jorge Rosa refere que, no dia 27 de Dezembro, também "foi recepcionada uma mensagem de correio electrónico" do actual director do jornal, o jornalista Paulo Barriga, "na qual explicava que não havia conseguido submeter a sua proposta na plataforma, em tempo útil, por falta de assinatura electrónica".

A mensagem incluía as peças da proposta de Paulo Barriga, nomeadamente o preço e a demonstração de que preencheria os critérios relativos à qualidade (experiência comprovada de jornalista e realização de vídeos/documentários), mas não cumpriu o critério preço, "excedendo o montante máximo em cerca de 16%".

No passado dia 27 de Dezembro, o actual director do Diário do Alentejo acusou a Cimbal de ter lançado um concurso "talhado" para lhe "fazer um saneamento político" e "viciado" para escolher o seu sucessor.

O concurso teve como critérios de avaliação das propostas e adjudicação da prestação de serviços o preço (50%), a experiência profissional de jornalista (30%) e a realização de vídeos/documentários (20%).

Segundo Paulo Barriga, que dirige o Diário do Alentejo desde Janeiro de 2011 e foi o primeiro director do jornal escolhido por concurso público, "há qualquer coisa que não faz sentido" no concurso "quando se pretende que o director de um jornal tradicional em papel com 86 anos tenha experiência de realização de vídeos e documentários" e quando o critério de avaliação "com mais peso" é o preço, ou seja, a remuneração do director.

Na altura, Jorge Rosa rejeitou as críticas de Paulo Barriga, disse que "não pode haver saneamento político de uma pessoa que até iniciou funções quando o PS presidia à Cimbal" e argumentou que o concurso é "totalmente transparente" e foi aberto porque "a prestação de serviços do actual director", por lei, "já não podia voltar a ser renovada".

No dia 07 deste mês, o Sindicato dos Jornalistas pediu uma audiência à Cimbal para perceber como decorreu o concurso, após várias dúvidas levantadas.

O sindicato disse que acompanha as preocupações dos "que não compreendem" o facto de o concurso ter tido "como principal critério de selecção o preço" e o peso atribuído "à experiência na realização de vídeos e documentários audiovisuais - quando o Diário do Alentejo tem edição impressa apenas".

Também o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires questionou na reunião da Cimbal, realizada esta manhã, alguns dos critérios de selecção, nomeadamente: “o peso do valor do seu vencimento, o comprovativo da realização de vídeos multimédia, o (pouco) tempo para a apresentação das candidaturas e a falta de informação relativa à constituição do júri” do concurso. “Este conjunto de procedimentos não estão correctos”, criticou o autarca, argumento que não alterou a decisão final da Cimbal.

Jorge Rosa lamentou a posição de Tomé Pires, lembrando-lhe que o assunto esteve em discussão nas reuniões da Cimbal “vários meses”. Como tal, o autarca de Serpa “deveria ter percebido a situação deficitário do jornal”.

Instado pelo PÚBLICO a comentar as críticas formuladas por Tomé Pires, o presidente da Cimbal disse que os autarcas “são donos do Diário do Alentejo e é a Cimbal que paga o défice do jornal”, destacando que o concurso “correu com toda a normalidade embora tenha tido o desfecho que teve”, envolto em polémica e com a suspeição da “competência editorial ter sido menorizada”, como salientou o Sindicato dos Jornalistas.

A formação do júri de selecção foi atribuída aos autarcas de Beja, Barrancos e Castro Verde, composição que o autarca de Serpa diz “não ter sido referida em nenhum documento”. O presidente da Câmara de Castro Verde, António José Brito, jornalista antes de assumir funções autárquicas, esclareceu o PÚBLICO que o júri tinha um membro independente, ao contrário do que referiu o Sindicato dos Jornalistas, quando disse que eram “todos” militantes do PS. O elemento do júri independente era do executivo de Castro Verde e avançou porque o presidente da câmara recusou participar na selecção de candidatos.