Director do Diário do Alentejo alega saneamento político, dona do jornal rejeita

Trata-se do único jornal público do país detido por 13 câmaras, que abriram concurso público para cargo de director.

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O director do Diário do Alentejo, o único jornal público em Portugal, acusou esta quinta-feira a comunidade intermunicipal dona do jornal de ter lançado um concurso “viciado” para escolher o seu sucessor, mas a associação rejeitou as críticas.

A Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), dona do semanário Diário do Alentejo, de Beja e dirigido pelo jornalista Paulo Barriga, lançou um concurso público para aquisição de serviços para a direcção do jornal, cujo anúncio de procedimento foi publicado em Diário da República a 17 de Dezembro. Segundo o anúncio, os critérios de avaliação das propostas e adjudicação dos serviços são o preço (50%), a experiência profissional de jornalista (30%) e a realização de vídeos/documentários (20%).

“Encaro o concurso com muita preocupação, está talhado para fazer um saneamento político ao actual director, precisamente porque não é um político. É um jornalista que pôs sempre à frente a questão editorial do jornal, que normalmente é contrária aos intentos dos donos do jornal, que são os políticos”, sublinha Paulo Barriga.

Para o jornalista, que se encontra à frente do semanário desde Janeiro de 2011 e foi o primeiro director da publicação escolhido por concurso público, “há qualquer coisa que não faz sentido quando se pretende que o director de um jornal tradicional em papel com 86 anos tenha experiência de realização de vídeos e documentários”. E quando o critério de avaliação “com mais peso” é o preço, ou seja, a remuneração do director.

Apesar de se assumir como defensor “em absoluto” da escolha do director através de um procedimento concursal, Paulo Barriga critica “um concurso público viciado à partida, com critérios que não lembram ao menino Jesus”. Os autarcas dos municípios liderados pelo PS e pela CDU que integram a Cimbal “não controlam editorialmente” o Diário do Alentejo e isso “obriga-os a este tipo de manobras perniciosas para tentarem controlar a linha editorial do jornal”, insiste o queixoso.

O presidente do conselho intermunicipal da Cimbal, o socialista Jorge Rosa, que é também presidente da Câmara de Mértola, rejeita as críticas de Paulo Barriga, que considera “um director isento”, e argumenta que o concurso público é totalmente transparente. “Não pode haver saneamento político de uma pessoa que até iniciou funções quando o PS presidia à Cimbal. Tanto quanto sei, Paulo Barriga tem sido um director isento”, afirma. O concurso público foi aberto, justifica, porque “a prestação de serviços do actual director, por lei, já não podia voltar a ser renovada”.

“E o concurso público é a coisa mais transparente que pode haver”, frisa o autarca, realçando que “qualquer profissional da área”, desde que cumprisse “o caderno de encargos estabelecido”, poderia ter concorrido ao concurso, cujo prazo de apresentação de candidaturas terminou na quarta-feira. Segundo Paulo Barriga, as autarquias em causa querem fazer do jornal “um boletim intermunicipal” e de “propaganda política”.

“Há aqui um assalto claro de políticos, do PS principalmente, mas também do PCP, à linha editorial do jornal, que é isenta”, argumenta, lembrando que, sob a sua batuta, o Diário do Alentejo seguiu um “projecto editorial arriscado e uma agenda própria” e recebeu “mais de 20 prémios” por trabalhos jornalísticos e de ilustração publicados e da autoria de colaboradores seus.

Já o presidente da Cimbal assinala que as 13 câmaras da comunidade intermunicipal “votaram favoravelmente” a abertura do concurso público e explica que a estratégia passa por “modernizar o jornal”, que “é um título histórico, de grande importância na região, mas não tem tido qualquer evolução”.

“Definimos como um dos objectivos modernizar o jornal e, para isso, temos de levá-lo a um maior público, ganhar maior amplitude geográfica, ter uma edição online e uma página de Internet moderna e actualizada e uma presença dinâmica nas redes sociais”, explica.

Para tal, conclui: “Precisamos de um profissional com experiência no jornalismo, na produção e direcção de jornais, mas também na produção de conteúdos multimédia e para as plataformas online, para poder dirigir a equipa nesse sentido.”

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