Médium brasileiro João de Deus vai ser julgado por violação de centenas de mulheres

O curandeiro mais célebre do Brasil é acusado por centenas de mulheres de abusos sexuais ao longo de décadas. Novas acusações envolvem-no numa rede internacional de tráfico de bebés.

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João de Deus (no centro) foi considerado réu e irá responder por vários crimes de abuso sexual LUSA/FILIPE CARDOSOS HANDOUT

O mais famoso médium e curandeiro brasileiro, conhecido como João de Deus, vai ser julgado por vários crimes de violação sexual. O religioso de 76 anos está no centro de um mega-escândalo, depois de centenas de queixas de abuso sexual terem sido conhecidas nas últimas semanas.

João de Deus foi preso a 16 de Dezembro e foi investigado por denúncias de violação sexual, violação de pessoa vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de armas. A defesa rejeita todas as acusações, mas o Ministério Público de Goiás apresentou uma denúncia, que foi agora aceite pelo tribunal de primeira instância.

Ao longo de décadas, o curandeiro construiu um império tendo como base a sua fama como médium, recebendo milhares de pessoas todas as semanas no seu “centro espiritual” em Abadiânia, no estado de Goiás. Os seus seguidores, muitos dos quais estrangeiros, acreditam que João de Deus possui poderes curativos.

No mês passado, um grupo de mulheres revelou num programa de televisão que o médium as violou durante uma sessão de cura. Esta revelação permitiu que muitas mais viessem ao de cima e, em poucos dias, o MP de Goiás contava já com 300 queixas. João de Deus foi preso pouco tempo depois, embora tenha sempre negado as acusações.

Investigações posteriores da Polícia Civil apreenderam armas e dinheiro em moradas associadas ao curandeiro.

Venda de bebés

Esta semana, o Ministério Público de São Paulo encaminhou para o Ministério Público Federal novas informações que dão conta do alegado envolvimento de João de Deus numa rede internacional de tráfico de bebés e de escravização de mulheres.

As acusações foram apresentadas pela activista Sabrina Bittencourt, do grupo “Somos Muitas” que tem trazido a público as denúncias contra João de Deus.

Bittencourt diz que a rede a que pertencia o médium aproveitava-se de mulheres pobres que viviam nas proximidades de Abadiânia, obrigando-as a engravidar a troco de comida. As crianças seriam depois vendidas a clientes estrangeiros através de “guias turísticos espirituais, ex-funcionárias e cidadãos de Abadiânia, que já estão fartos de serem coniventes, de forma coagida, com a quadrilha de João de Deus”, explicou a activista, citada pela Folha de São Paulo.

A defesa do curandeiro diz que não foram apresentadas quaisquer provas quanto ao envolvimento de João de Deus no esquema criminoso e considera que as acusações “desmerecem maior consideração”.

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