Banco de Portugal revê em baixa previsões de crescimento

Banco de Portugal prevê que, depois do crescimento de 2,1% este ano, a economia portuguesa apenas avançará 1,8% em 2019, 0,4 pontos percentuais abaixo do que está inscrito no OE.

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Carlos Costa, governador do Banco de Portugal Enric Vives-Rubio

Uma conjuntura na zona euro que se tornou menos favorável nos últimos meses, reduzindo as expectativas para a procura externa dirigida à economia portuguesa, levou o Banco de Portugal a rever esta terça-feira em baixa as suas projecções de crescimento para este ano e para o próximo. Ainda assim, o cenário traçado pela autoridade monetária é, até 2021, de continuação de descida do desemprego, aumento da produtividade e de ligeira aceleração dos salários.

No boletim económico de Inverno apresentado esta terça-feira, a entidade liderada por Carlos Costa corrigiu as estimativas que tinha apresentado no passado mês de Outubro (apenas para 2018) e em Junho (até 2020), incorporando já os sinais menos positivos que a economia mundial, e em particular a europeia, têm vindo a dar nos últimos meses (e que levaram o BCE a recentemente baixar a sua previsão de crescimento para a zona euro)

Em vez de antecipar uma procura externa dirigida à economia portuguesa a crescer 4,3% em 2018 e 4,4% em 2019, o banco central português não espera agora no seu cenário base mais do que 3,4% este ano e 3,6% no próximo.

A consequência imediata disto é que as previsões para as exportações também tiveram de ser corrigidas. E de forma particularmente acentuada este ano. Se em Junho, o banco previa um crescimento as exportações de 5,5% e em Outubro já tinha baixado para 5%, agora a nova estimativa é de apenas 3,6%. Este resultado explica-se, não só com a deterioração da conjuntura internacional, mas também com alguns factores pontuais, como a existência de constrangimentos na produção da Autoeuropa (relacionada com a homologação de veículos) e a paragem da refinaria de Matosinhos a partir de Setembro. Para 2019, a projecção de crescimento das exportações foi revista de 5% para 4,7%. Pela positiva, continuam a destacar-se as exportações de serviços de turismo, que voltam a ganhar quota de mercado e peso na economia.

Esta quebra das exportações, embora feita a par com um movimento semelhante (mas não tão forte) nas importações, é a principal razão por trás da deterioração ligeira das projecções do Banco de Portugal para a totalidade da economia. Em vez do crescimento de 2,3% que antecipava em Outubro, o Banco de Portugal agora diz que este ano a variação do PIB irá ser de 2,1%, abaixo dos 2,2% esperados pelo Governo. Em 2019, o crescimento previsto passou de 1,9% para 1,8%. Para 2020, o Banco de Portugal mantém a previsão de 1,7%, antecipando um abrandamento que se prolonga por 2021, onde se espera um crescimento de 1,6%.

Para além das exportações, o investimento também desiludiu em 2018. Mas neste caso, se em Junho o banco apontava para um crescimento de 5,8%, foi logo em Outubro que corrigiu a projecção para 2,9%, valor que agora confirma.

Neste caso, o Banco de Portugal até revela optimismo em relação ao que irá acontecer no futuro, acreditando que o desempenho abaixo do esperado em 2018 foi apenas um acidente de percurso. Para 2019, a previsão é de forte aceleração do investimento, para uma variação de 6,6%, a que se segue 5,9% em 2020.

Os motivos para acreditar que o desempenho fraco de 2018 ao nível do investimento não se irá repetir no próximo ano estão na existência de alguns factores que se crêem ser meramente pontuais, como a execução abaixo do esperado do investimento público e os atrasos na construção de barragens em Trás-os-Montes.

Mas se as exportações e o investimento são os indicadores com variações mais acentuadas, é no consumo privado (a componente com mais peso no PIB) que se encontram os motivos para a tendência de abrandamento progressivo antecipado pelo Banco de Portugal. Depois de um crescimento de 2,3% em 2018, prevêem-se aumentos de 2%, 1,8% e 1,6% nos três anos seguintes.

Isto acontece num cenário em que a taxa de poupança apenas aumenta ligeiramente e em que aquilo que limita o ritmo de crescimento do consumo privado é a evolução do rendimento disponível, que se vai tornando mais lenta.

A explicação do Banco de Portugal para esta projecção está no facto de se estar à espera de um abrandamento do crescimento do emprego, que em 2017 e 2018 surpreendeu, aumentando mais do que a própria economia, mas que a partir de 2019 pode voltar a um cenário mais normal de crescimento abaixo da economia. Enquanto o PIB cresce 1,8% e 1,6% nos próximos três anos, o crescimento esperado para o emprego é de 1,2%, 0,9% e 0,4% em 2019, 2020 e 2021, respectivamente. Ainda assim, isto será suficiente, segundo o Banco de Portugal, para colocar a taxa de desemprego abaixo dos 6%, já a partir de 2020 (5,3% e 2021).

Outra notícia trazida pelas projecções do Banco de Portugal é que se irá finalmente começar a assistir a uma aceleração dos salários em Portugal, embora de forma moderada, sendo de destacar o papel desempenhado nessa evolução por aquilo que deverá acontecer no salário mínimo e na função pública.

O crescimento dos salários continuará, contudo, a estar em linha com o aumento da produtividade, que, no período entre 2018 e 2021, se espera passe a dar um contributo positivo para o crescimento da economia ao contrário do que tem vindo a acontecer nos anos anteriores.

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