Saudades do crepe Suzette? Regresso aos anos 70 no Altis

Até ao final de Janeiro é possível almoçar ou jantar no ambiente criado por Daciano da Costa e escolher da carta original do restaurante, de 1973.

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Um sumo de tomate, um Martini tinto, dois espargos quentes, três rins flambé – a primeira conta do Grill D. Fernando, o restaurante no 12.º andar do Hotel Altis da Rua Castilho, data dos anos 70 e mostra bem o que estava na moda na época.

Agora, até ao final de Janeiro, e para celebrar os 45 anos do hotel, é possível fazer essa viagem no tempo e, num espaço que pouco mudou desde a inauguração, em 1973, vermos a arte de um chefe de sala a trinchar uma peça de carne, a preparar um peixe ou a cozinhar os icónicos crepes Suzette.

A carta disponível até essa data é a mesma que os clientes dos anos 1970 recebiam nas mãos quando aqui chegavam. A louça, toda identificada com o nome do restaurante, foi recuperada dos armazéns do Altis (que, nesta unidade da Rua Castilho, tem até, nas caves, uma carpintaria própria para a manutenção de todo o material).

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O maitre Caldas a trinchar a carne dr

Começamos com uma bebida no bar, em frente da porta do restaurante. As flutes são as da época, assim como as poltronas, desenhadas, como todo o hotel – incluindo as fardas dos funcionários, o mobiliário, o monograma com as letras H e A sobrepostas e o nome do restaurante – pelo arquitecto e designer Daciano da Costa. Nesta passagem pelo bar, é aconselhável olhar para o tecto, onde, pela mão também de Daciano, as luzes embutidas estão dispostas como estrelas, formando constelações.

Este foi o primeiro Altis, nascido no centro de uma Lisboa que daí a pouco iria viver a revolução. Ao longo das décadas seguintes, a cadeia fundada por Fernando Martins foi crescendo, e hoje este hotel inicial passou a chamar-se Altis Grand Hotel para não se confundir com os outros. Conhecido por ser o cenário das conferências de imprensa do Partido Socialista nas noites eleitorais, o hotel, com os seus 300 quartos e 17 salas de reuniões, é muito mais do que isso – passados 45 anos, é, sobretudo, um grande clássico.

E, dentro dele, nada mais clássico do que o Grill D. Fernando, onde somos recebidos pelo chefe de sala Artur Caldas, que aqui trabalha há 17 anos e que aprendeu com o maître original. Aí, logo à entrada, foi colocada uma mesa com uma pequena exposição do que eram os objectos clássicos dos anos 70. Além da já referida primeira conta do restaurante, encontramos a baixela de porcelana, que voltou agora ao serviço, uma bandeja de room service, uma colher para servir molhos, um shaker primitivo, um garfo de marisco, uma colher para o gelo e até a pequena bandeja que permitia enviar, discretamente e com a ajuda do empregado, um bilhete para outra mesa.

O maître Caldas passa-nos para as mãos a carta, reprodução da original dos anos 70, e é quase inevitável escolhermos como entrada um cocktail de gambas Neptuno, que é servido também numa taça especial, com gelo por baixo. Para segundo prato, há quem escolha o tregado corado à gastrónomo, mas nós optamos pelo robalo cozido “en court bouillon”, deixando para outra oportunidade o linguado à Costa Verde. Nas carnes, as opções eram entre, por exemplo, um tornedó à D. Fernando ou umas costeletas de borrego grelhadas com molho de hortelã.

E na sobremesa, embora as fatias da China sejam uma tentação e o babá com rum um clássico, os rrepes Suzette são incontornáveis, até porque dão ao maître (que já tinha mostrado a sua prática a preparar o peixe, dispondo-o em cada prato juntamente com os elegantes legumes torneados) a oportunidade para os cozinhar à nossa frente, preparando o molho e depois dobrando cada crepe num triângulo, usando com destreza os talheres. No Grill D. Fernando, até ao final de Janeiro, será assim, old school como já raramente se vê.

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O babá ao rum e as cadeiras de Daciano da Costa dr
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