Protecção Civil recebeu menos "50%" de informação, mas não houve problemas no socorro à população

Comandantes distritais contactados pelo PÚBLICO revelam que o boicote dos bombeiros está a funcionar, mas não houve problemas no socorro à população. Presidente da ANPC diz que está a prestar-se maior atenção a “acidentes” ou outras ocorrências “de maior dimensão que possam ocorrer”.

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Rui Gaudencio

O presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) afirmou esta segunda-feira que, apesar das dificuldades provocadas pela falta de informação que está a chegar por parte dos bombeiros, "está completamente garantida a segurança dos portugueses". A falta de informação reduziu em 50% as informações que chegam aos comandos distritais (CDOS). Em quatro distritos, sentiu-se o boicote, mas sem problemas de maior.

Para o tenente-coronel Mourato Nunes, não está em causa o socorro. O presidente da ANPC acredita que, se houver uma ocorrência grave, estará toda a gente presente. "Num cenário crítico todos estaremos presentes", assegura.

No que aos números diz respeito, Mourato Nunes afirmou que a Autoridade Nacional de Protecção Civil tem "50% menos ocorrências reportadas do que habitualmente", mas que isso não põe em causa "a protecção".

"O que é preciso uma atenção maior a determinado tipo de pormenores e acidentes que possam ocorrer com uma grande dimensão e estamos atentos a essa situação", garantiu o presidente da ANPC, que lamentou que o sistema não esteja a funcionar como habitualmente.

"Se me perguntam se não gostaria que estivesse tudo a correr normalmente, normalmente gostaria", disse.

A verdade é que em poucos distritos houve "normalidade". O PÚBLICO fez uma ronda pelos vários CDOS e apanhou várias situações diferentes. Em Aveiro, António Ribeiro, comandante das Operações de Socorro do Distrito de Aveiro, afirma que os bombeiros do distrito estão “solidários com posição nacional tomada pela Liga de Bombeiros, portanto não estão a dar informação nem tem havido comunicação entre o Comando Distrital de Operações de Socorro de Aveiro e a corporação de bombeiros”. Contudo, desde sábado que não tem existido ocorrências relevantes no distrito, logo a ruptura das comunicações entre as duas entidades não têm afectado as operações de socorro à população.

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O comandante desdramatiza a redução do número de ocorrências no seu distrito que, de acordo com dados recolhidos por João Pina do fogos.pt e trabalhados pelo PÚBLICO chegaram aos 90%. "É bom sinal”, diz. Podem ser ocorrências que estejam relacionadas com o sistema integrado de emergência média e não propriamente que tenham a ver com a protecção civil. “É normal que se tiver um familiar a sentir-se mal ligue para os bombeiros em vez de ligar para o 112, esses tipo de ocorrências poderão não estar a ser transmitidas, daí o número de incidentes ter diminuído, mas o que vem via 112 está a ser registado”, garante.

Em Braga, a situação foi de metade/metade. O comandante Hermenegildo Abreu garante que “50% da corporação de bombeiros estão a reportar ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) e os outros 50% não”. Também neste distrito, não houve nenhuma ocorrência digna de grande registo para que possa acontecer a coordenação entre meios da protecção civil. E lembra que os bombeiros que não estão a dar indicação do que estão a fazer ficam à sua própria conta e risco. “Até agora não tivemos nenhuma ocorrência, mas pode acontecer que vários grupos sejam enviados sem necessidades, uma vez que não temos essa coordenação com 50% da corporação de bombeiros”, diz.

Vila Real recebeu menos dados de ocorrências do que é habitual, contudo este é um distrito mais calmo. Álvaro Ribeiro, do comando distrital de Vila Real, afirma que o comando tem recebido algumas comunicações dos bombeiros e ''estão em controlo da situação” e a fazer a gestão normal de ocorrências nesta segunda-feira. “Têm ocorrido alguns acidentes, um deles em que os bombeiros estiveram presentes a fazer o desencarceramento da vítima e nós tivemos conhecimento desse incidente, portanto teve de existir aqui comunicação”, acrescenta.

Faro foi a excepção no mapa nacional. Por ali, os bombeiros voluntários não se juntaram às restantes corporações do resto do país. "Os bombeiros decidiram não aderir a esse boicote por parte dos bombeiros nacionais. Continuam operacionais e a passar informações das ocorrências a que sejam chamados a intervir”, diz Vítor Vaz Pinto, comandante distrital de Faro.

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