Pediatria alerta para casos de vigorexia entre os jovens

Pediatra alerta para os sintomas de uma doença pouco conhecida, que tem como ponto fundamental o facto de os doentes terem uma imagem distorcida do seu corpo. Pode traduzir-se na obsessão pelo aumento da massa muscular, ao recurso a horas de ginásio e numa alimentação restrita.

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Miguel Manso

Uma distorção da imagem corporal pode levar jovens à obsessão pelo aumento da massa muscular, ao recurso a horas de ginásio e a uma alimentação com restrições, traduzindo-se numa doença chamada vigorexia, alertou esta sexta-feira o pediatra Pascoal Moleiro.

Responsável pela consulta de Medicina do Adolescente no Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria, Pascoal Moleiro admitiu à agência Lusa que os casos ainda são raros, mas que a doença é também desconhecida da maioria das pessoas e, que por isso, poderá chegar ao pediatra já num quadro avançado.

“Não é algo novo. Está descrito em termos de classificação médica há algum tempo, mas fala-se pouco. Como agora há estas questões da moda do ginásio e de fazer desporto, começa a existir mais foco e mais alertas para a existência destes casos”, adiantou o especialista.

Revelando que ainda só diagnosticou dois casos de rapazes, Pascoal Moleiro sublinhou a necessidade de advertir para esta doença. “É preciso alertar para os riscos e fazer o diagnóstico correcto. O médico de família terá um papel importante na detecção e saber que existe esta entidade para ser detectada”, afirmou.

A situação pode passar despercebida, porque se pode confundir com “um jovem que está a ‘fazer’ mais ginásio e uma alimentação um pouco diferente”.

“Claro que podemos dizer que há muitos jovens que querem aumentar a massa muscular e não têm vigorexia. A fronteira é muito ténue. O ponto fundamental é que há distorção da sua imagem. Podem ter uma massa muscular já relativamente aumentada, mas continuam a percepcionar-se como tendo pouca. Nesta procura incessante de massa muscular, começam a entrar numa tentativa de fazer exercício intenso para esse efeito”, explicou o pediatra.

Isolamento e baixa auto-estima

Segundo Pascoal Moleiro, estes jovens sofrem de “algum isolamento, começam a não ter amigos, há alguma baixa auto-estima, estão constantemente no ginásio, aproveitando todas as horas vagas e sentem-se mal quando falham um exercício”.

Os riscos para a saúde podem passar por “grandes sobrecargas de exercício”, que podem provocar lesões musculares e carências alimentares, devido a uma dieta de restrição. “Diria que um aspecto fundamental é o psicológico. Muitas vezes existe psicopatologia”, como “depressão e ansiedade”, o que “também pode passar despercebido”.

Pascoal Moleiro sublinha que a vigorexia “não é um distúrbio alimentar, embora, às vezes, possa entrar no conjunto dos distúrbios alimentares, porque há algumas características que podem ser partilhadas”. “A parte comum com o distúrbio alimentar é que começam a entrar em dietas para aumentar a massa muscular, comendo mais proteína, mais arroz e deixando alguns alimentos de parte. Daí que, às vezes, se possa um pouco confundir esta entidade com os distúrbios alimentares.”

Pascoal Moleiro reafirmou: “Se tivermos um jovem a procurar incessantemente exercício físico, com uma percepção da sua imagem corporal alterada, no sentido de querer ganhar massa muscular, mesmo tendo uma relativamente boa e continua a achar que não é suficiente, acompanhado ou não de uma alimentação com algumas restrições ou muito dirigida, poderá ser um jovem que está a entrar neste tipo de situação.”

A “obsessão” pelo exercício pode ser um dos pontos de alerta. “Em termos de classificação médica, são os distúrbios chamados somatoformes, ou seja, da forma corporal. Por exemplo, há pessoas que podem achar que têm os lábios muito alterados e estão constantemente a fazer cirurgias e acham sempre que aquilo não está perfeito. É um pouco neste grupo de doenças que entra a vigorexia, com a imagem corporal e com os comportamentos associados a isto. Claro que é obsessivo e muito focado.”

Quando é diagnosticado, a intervenção é feita através de uma equipa multidisciplinar, que inclui não só um pediatra, mas também um pedopsiquiatra e psicólogo. “Poderá ser necessário fazer alguma psicoterapia e dar algum suporte familiar e também dar algumas competências ao jovem para aquilo que é o seu autoconceito que está um pouco em baixo.”

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