PS e Governo voltam a trocar as voltas ao Bloco com as renováveis

Apesar das afirmações do ministro do Ambiente ao Bloco no Parlamento, os socialistas recuaram no fim da isenção da CESE às centrais eólicas dos concursos públicos, como as da Trustwind, EDP Renováveis, China Three Gorges e Generg.

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António Costa com Augusto Santos Silva e Mário Centeno no debate de encerramento da discussão na especialidade do OE 2019 LUSA/ANTONIO COTRIM

Na quarta-feira o PS retirou das votações do Orçamento do Estado (OE) para 2019 a proposta de alteração que alargava a Contribuição Extraordinária sobre o Sector Energético (CESE) às centrais eléctricas atribuídas por concurso público, sustentando que esta “não reunia um consenso” com o Bloco de Esquerda (BE).

Já nesta quinta-feira foi a vez do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, justificar a medida: "Manter a isenção decidida na atribuição de licenças prende-se com uma questão de segurança jurídica", vincou o governante na Assembleia da República.

A actuação da bancada parlamentar socialista pôs em evidência novo foco de tensão entre Governo e Bloco em torno da remuneração dos produtores de renováveis (depois do episódio do chumbo da taxa para o OE de 2018) e um recuo do Governo face à decisão de acabar com a isenção da CESE para as centrais eólicas que tinham sido licenciadas no âmbito de concursos públicos de 2006 e 2007. Isto apesar dos sinais positivos transmitidos aos bloquistas pelo ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, dias antes, no debate do OE na especialidade.

A 14 de Novembro, Matos Fernandes tranquilizava o Bloco ao afirmar que o Governo procuraria corrigir aquilo a que o deputado bloquista Jorge Costa chamava um “erro” – o facto de a extensão da CESE às renováveis proposta no Orçamento do Estado para 2019 manter a isenção às centrais eólicas atribuídas por concurso, o que cortaria para cerca de metade os 30 milhões de euros de receita prevista com a medida na proposta orçamental.

“Relativamente à questão dos concursos (…) tudo faremos para que o desafio que nos foi lançado tenha uma resposta afirmativa, e tê-la-á, certamente”, respondeu o ministro ao deputado Jorge Costa. A proposta de alteração ao OE que os socialistas entregaram dois dias depois na Assembleia da República efectivamente punha fim à isenção às centrais eólicas dos concursos de Sócrates, embora também previsse um desconto de 50% na CESE precisamente para as empresas dos consórcios vencedores, a Eneop (EDP, Generg e Endesa – comprada entretanto pela Enel) e a Ventinvest (Galp e Martifer) que contribuíram, como contrapartida dos concursos, para o Fundo de Apoio à Inovação (FAI).

Verdade seja dita que, na mesma ocasião em que respondeu ao Bloco sobre a intenção de dar resposta positiva ao tema das isenções, Matos Fernandes também mostrou sensibilidade para com as empresas: “É absolutamente fundamental que ao estender a CESE às renováveis não nos equivoquemos e que nada façamos que incentive o menor investimento”, disse o governante.

A proposta que o BE também apresentou sobre esta matéria (para “corrigir um lapso assumido pelo Governo", como referiu a deputada Mariana Mortágua) foi rejeitada com os votos contra do PSD e do PS e a abstenção do CDS-PP. Agora, com a marcha atrás da banca socialista, volta tudo à casa de partida, ou seja, as centrais construídas no âmbito dos consórcios mantêm-se fora do âmbito da aplicação da CESE, ficando por saber qual será o efeito desta isenção na receita que o Estado vai arrecadar.

Alguns destes activos entretanto até já trocaram de mãos. Por exemplo, a Trustwind (detida pela Trustenergy, que é uma joint venture entre a francesa Engie e a japonesa Marubeni) comprou activos eólicos da Generg que faziam parte do portefólio da Eneop. A EDP Renováveis, que vendeu à China Three Gorges, sua accionista, activos da Eneop, adquiriu à Galp e à Martifer parques eólicos da Ventinvest.

Se ainda é cedo para saber quanto será a receita a angariar pela CESE das renováveis, é mais que certo que este é um tema em que Governo e um dos seus parceiros de governação continuam a fazer faísca. Na quarta-feira, o deputado socialista Fernando Rocha Andrade até justificou a retirada da proposta socialista com a falta de acordo com o Bloco: “Verificou-se, face à proposta do PS, que ela não reunia um consenso com esses partidos, nomeadamente o BE, e, portanto, chegou-se à conclusão que mais valia retirar a proposta do PS e regressar à posição original do Governo uma vez que ela também, como tinha sido apresentada, não reunia esse acordo”, disse Rocha Andrade à Lusa.
 

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