Ex-assessor de Trump mentiu e já não testemunha na investigação sobre a Rússia

Equipa do conselheiro especial Robert Mueller acusa Paul Manafort de mentir e declara nulo o seu acordo de colaboração.

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Paul Manafort (ao centro) foi Julgado por fraude fiscal e bancária em Agosto, na Virgínia. Já tinha sido condenado a dez anos de prisão EPA/SHAWN THEW

Paul Manafort já protagonizou alguns volte-faces na investigação do conselheiro especial Robert Mueller à interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. Agora, apenas dois meses depois de ter concordado em colaborar com a equipa de Mueller, o ex-director de campanha de Donald Trump é acusado de “mentir ao FBI e ao gabinete do conselheiro especial em vários assuntos, violando o acordo”.

Para Manafort, que assegura “ter partilhado informação num esforço para cumprir as suas obrigações de cooperação”, isto pode significar muitos anos na cadeia.

Julgado por fraude fiscal e bancária num outro processo, em Agosto, na Virgínia, já tinha sido condenado a dez anos de prisão. Entretanto, como parte do acordo com Mueller, declarou-se culpado de uma acusação de conspiração para obstruir a justiça e outra para defraudar os Estados Unidos – evitando assim um segundo julgamento por lavagem de dinheiro e outros crimes.

“As consequências são potencialmente devastadoras para Manafort”, diz à agência Reuters o advogado Shanlon Wu, que representou antigo sócio de Manafort, Rick Gates, antes de este se declarar culpado e se tornar na principal testemunha dos procuradores no julgamento de Manafort na Virginia.

Para a investigação de Mueller, estes desenvolvimentos também podem ser devastadores. Afinal, Manafort seria com grande probabilidade a sua mais valiosa testemunha – terá estado presente nas discussões mais importantes para determinar se algum membro da campanha conspirou com a Rússia para influenciar a votação.

Corrida contra o tempo

O republicano empresário, consultor político e lobista, ganhou dezenas de milhões de dólares a trabalhar para políticos ucranianos pró-russos antes de se juntar à campanha de Trump.

Sabe-se que esteve presente na agora infame reunião na Trump Tower com um grupo de russos que ofereciam informações prejudiciais à rival democrata de Trump, Hillary Clinton, que o republicano haveria de derrotar em Novembro. A ligação de Manafort a um oligarca próximo do Presidente russo, Vladimir Putin, era outra razão para acreditar que a sua cooperação poderia ser importante para Mueller.

“É mau para a investigação de Mueller como um todo”, diz, citado pela Reuters, o criminalista Patrick Cotter, ex-assistente da Procuradoria de Nova Iorque. “Hoje ele tem menos uma testemunha.”

Apesar disso, nota o jornal The Washington Post, “os procuradores podem saber mais sobre as interacções de Manafort do que ele percebeu, permitindo-lhes apanhá-los nas alegadas mentiras”. E Cotter também diz que a sua cooperação pode ter sido importante, conduzindo Mueller a outras fontes de informação.

Seja como for, o conselheiro especial está numa corrida contra o tempo: um dia depois das eleições em que os republicanos perderam a maioria na Câmara dos Representantes, Trump afastou o attorney general (equivalente a ministro da Justiça) Jeff Sessions e deixou interinamente no seu lugar Matthew G. Whitaker, que desconfia que a investigação de Mueller "possa ser uma mera caça às bruxas".

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