Trump demite Sessions e deixa no seu lugar crítico da investigação à Rússia

Afastamento de attorney general põe em causa investigação sobre as alegadas interferências russas na campanha de 2016, avisam os democratas.

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Trump e Sessions juntos em Dezembro de 2017 Reuters/JONATHAN ERNST

Muito se tinha especulado sobre a vontade de Donald Trump deixar de contar com Jeff Sessions na sua Administração. O momento chegou: “Agradecemos ao attorney general [equivalente a ministro da Justiça] pelo seu serviço, e desejo-lhe o melhor! Um substituto permanente será anunciado mais tarde”, escreveu o Presidente americano no Twitter, um dia depois das eleições em que o Partido Republicano perdeu a maioria na Câmara dos Representantes.

“Estamos contentes por anunciar que Matthew G. Whitaker, chefe de gabinete do attorney general Jeff Sessions no Departamento da Justiça, vai ser o novo attorney general dos EUA em funções. Vai servir bem o nosso país…”, lia-se no tweet anterior.

Na conferência de imprensa em que comentara os resultados das eleições, Trump disse esperar unidade e boa cooperação bipartidária no Congresso que saiu das eleições. Mas também deixou um aviso ao Partido Democrata: se os congressistas lançarem investigações contra si não haverá qualquer colaboração bipartidária. Apesar de terem ficado em minoria na Câmara dos Representantes, os republicanos reforçaram a maioria no Senado.

O Presidente anunciou ainda que tencionava fazer mudanças nos lugares cimeiros da Administração; não disse quais, só acrescentou: “Não será nada monumental”, disse poucas horas antes de se desmentir.

A notícia do afastamento de Sessions traz imediatamente à memória às tentativas de Trump para o convencer a pôr fim à investigação do conselheiro especial Robert Mueller sobre as suspeitas de interferência da Rússia nas eleições que o levaram à Casa Branca, em 2016.

O mal-estar entre o Presidente e o responsável pelo Departamento da Justiça começou poucas semanas depois da tomada de posse, quando Sessions, um dos primeiros apoiantes de Trump na campanha, ainda em 2015, decidiu afastar-se do inquérito do FBI às possíveis interferências russas para evitar um conflito de interesses. Sessions entregou o controlo do inquérito ao seu vice, Rod Rosenstein, e não demorou muito até haver notícias de que este pretenderia demitir-se antes de ser afastado pelo Presidente.

Rosenstein, que em Maio de 2017 nomeou Mueller como procurador especial do Departamento da Justiça para o inquérito, ficou e, pelo menos até agora, esteve a supervisionar a investigação.

Em Agosto do ano passado, dois meses antes de integrar o Departamento da Justiça, Whitaker escreveu numa coluna para o site da CNN que se o inquérito de Mueller começasse a investigar o Presidente ou a sua família isso “levantaria graves preocupações que a investigação do conselheiro especial possa ser uma mera caça às bruxas”.

“Tendo em conta os seus comentários anteriores defendendo a imposição de limites e a diminuição do financiamento à investigação Mueller, Whitaker deve afastar-se da monotorização do inquérito enquanto durar o seu mandato como attorney general em funções”, defendeu Charles Schumer, líder da minoria democrata no Senado.

"A seu pedido, apresento a minha demissão." Assim começa a carta de Sessions a Trump, divulgada pelo Departamento da Justiça. "Tive a honra de servir como seu attorney general e de ter trabalhado para pôr em prática a agenda anti-crime que foi uma parte central da sua campanha para a presidência", diz.

Imediatamente antes do Twitter sobre a saída de Sessions, Trump publicou um tweet sobre uma sondagem que questionou os americanos precisamente sobre esta investigação: "De acordo com a NBC News, os Eleitores em todo o País desaprovam a chamada Investigação-Mueller (46%) mais do Aprovam (41%). Quer dizer que finalmente começaram a perceber que tudo isto é uma Caça às Bruxas repugnante, liderada por 17 Democratas Zangados".

Poucos minutos depois do anúncio de Trump, Schumer afirmara que qualquer substituto de Sessions “não poderá interferir com a investigação Mueller”. Jerry Nadler, outro congressista democrata, que poderá presidir ao Comité Judicial da Câmara dos Representantes, defendeu que “os americanos têm de ter respostas imediatas sobre os motivos por trás da demissão" de Jeff Sessions. “Por que é que o Presidente está a fazer esta mudança e quem é que tem autoridade sobre a investigação do conselheiro especial Mueller?”

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