Iniesta abre o livro sobre a sua depressão

O espanhol de 34 anos jogou quase toda a sua vida no Barça e recorda agora a depressão que enfrentou depois do triplete do clube em 2009. Acusa ainda José Mourinho de criar um ambiente insuportável de “ódio” entre os jogadores do FC Barcelona e do Real Madrid.

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Andrés Iniesta quando jogava pelo FC Barcelona Reuters/JUAN MEDINA

O antigo jogador do FC Barcelona Andrés Iniesta – que joga agora pelo japonês Vissel Kobe – falou sobre a depressão que lhe foi diagnosticada em 2009, depois de uma série de vitórias no clube e da morte do seu amigo e futebolista Daniel Jarque. Quando se tem depressão, “há algo de errado, mas não se sabe ao certo o quê. Entra-se num ciclo em que sentes sempre vazio”, contou o futebolista ao canal espanhol La Sexta.

Na entrevista transmitida no domingo, o futebolista, agora com 34 anos, explica que tudo começou depois de o seu clube conquistar um triplete em 2009 (com a vitória na Liga dos Campeões, na Copa del Rey e na liga espanhola): “Marcas um golo contra o Chelsea [nas meias-finais da Liga dos Campeões], vences a Liga dos Campeões, ganhas três troféus, um ano inacreditável… Depois chega o Verão e começas a sentir-te em baixo”.

A juntar à depressão, o jogador refere que a morte do seu amigo Dani Jarque (em Agosto de 2009, de ataque cardíaco) agravou a situação. No prolongamento da final do Mundial de 2010, contra a Holanda, Iniesta marcou o golo de vitória aos 116’ e dedicou-o a Jarque, capitão do Espanyol de Barcelona.

“Quando sofres de depressão, não és tu mesmo, estás tão vulnerável que é difícil controlar certos momentos da tua vida”, afirma. Iniesta fez tratamento com a psicóloga do clube espanhol e recorda-se que sentia tanta necessidade e “desespero” que chegava à consulta antes da hora marcada. “Numa situação assim, não tens nada, não sentes as coisas”, afirma ainda o jogador, dizendo que em grande parte dos dias só queria que chegasse a noite para poder tomar um comprimido e descansar.

Críticas a Mourinho (e outros casos)

Na entrevista, o jogador espanhol acusou ainda José Mourinho de tentar criar atritos entre os jogadores do FC Barcelona e do Real Madrid, na altura em que o português liderava o clube do Santiago Bernabéu. “Não era a rivalidade de sempre – era mais ódio, ia além disso. Ele estava a cultivar esse ambiente, e era insuportável. A tensão Barça-Madrid provocada por Mourinho fez muito mal à selecção [espanhola] e aos meus colegas”, refere.

O futebolista espanhol anunciou em Maio, entre lágrimas, que iria sair do FC Barcelona, clube que tinha sido a sua casa durante 22 anos – e, agora, diz que não se arrepende da decisão. “Quem me dera ter podido jogar toda a minha vida no Barça, mas já não estava capaz de estar a 100% no clube”, admite. Depois da sua saída, Iniesta passou a jogar no japonês Vissel Kobe.

No que toca a doenças de foro mental, Iniesta não é, de resto, caso único: o nadador norte-americano Michael Phelps falou este ano sobre a sua depressão. “Eu não queria praticar mais desporto… Eu já nem queria estar vivo”, afirmou o atleta, referindo-se ao período dos Jogos Olímpicos de 2012 – foi nessa altura que se apercebeu de que precisava de ajuda especializada. O mesmo aconteceu com o nadador Ian Thorpe

À lista junta-se o jogador de basquetebol norte-americano Kevin Love, que também tem falado sobre “o grande impacto” que a depressão teve na sua vida, e o futebolista sérvio-espanhol Bojan Krkic – que chegou a ser considerado “o novo Messi”. Foram as expectativas e a pressão elevada que fizeram com que Krkic sofresse ataques de ansiedade, que o impediam de jogar. “Tenho de viver com isso, com as pessoas a dizerem-me que a minha carreira não é aquilo que se esperava”, afirmou numa entrevista ao jornal britânico The Guardian.

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