Sonda InSight já aterrou em Marte para estudar o coração do planeta

Pela primeira vez, uma missão vai estudar o interior profundo de Marte. O grande objectivo é sabermos mais sobre a formação e evolução dos planetas rochosos do nosso sistema solar.

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Imagem artística da entrada da InSight na atmosfera de Marte NASA/JPL-Caltech
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As comemorações da chegada da sonda à superfície Bill Ingalls/NASA
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A primeira imagem de Marte Bill Ingalls/NASA

Correu tudo bem: esta segunda-feira aterrámos em Marte. Pouco antes da 20h de Lisboa, a sonda da NASA InSight chegou à superfície do planeta vermelho sem problemas. A bordo foi a ambição de compreendermos melhor a formação e evolução inicial dos planetas rochosas, incluindo da Terra. Afinal, esta é a primeira missão a Marte que estudará o seu interior profundo. 

Já chegou uma primeira imagem da nova casa da InSight: vêem-se pequenos pontos pretos, que se pensa serem grãos de poeiras na cobertura da câmara, que vai ser posteriormente removida. Já depois das 3h de Lisboa desta terça-feira soube-se que os painéis solares da sonda – que garantem que a InSight recarregue as baterias – se accionaram correctamente. A partir daí, houve (finalmente) a certeza de que tudo tinha corrido bem nesta aterragem.

Entretanto, recebemos na Terra outra fotografia tirada pela sonda. “Há uma beleza tranquila aqui. Anseio por explorar a minha nova casa”, lê-se no Twitter da NASA sobre a InSight

Deveria ter partido em 2016, mas falhas nos seus instrumentos científicos adiaram a sua viagem. Só em Maio deste ano partiu em direcção a Marte e levou consigo o legado de outros dois veículos espaciais da NASA: da sonda Mars Polar Lander, que se espatifou em 1999 na chegada à superfície do planeta; e da Phoenix Mars, que alcançou o planeta há dez anos.

Mas se o caminho da InSight (Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) se fez sem percalços até Marte, os cientistas da NASA já estão estão totalmente descansados. Só ficaram tranquilos quando as três pernas da sonda tocaram no solo marciano. Antes, houve sete minutos de terror – o tempo de desaceleração extrema.

“Há uma razão para os engenheiros chamarem à aterragem em Marte ‘sete minutos de terror’”, considerava Rob Grover, responsável pela entrada atmosférica da NASA, num comunicado da agência espacial norte-americana emitido há alguns dias. “Não podemos controlar a aterragem, então temos de confiar nos comandos e tivemos de pré-programá-los na sonda. Passámos anos a testar os nossos planos, aprendendo com outras aterragens em Marte e estudando todas as condições em Marte que se podem virar contra nós.”

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Sonda InSight na planície de Elysium Planitia, a região escolhida para a sua aterragem NASA/JPL-Caltech

Aterrar em Marte não é tarefa fácil. Apenas cerca de 40% das missões enviadas para este planeta tiveram sucesso, segundo a NASA. “A fina atmosfera indica que há pouco atrito para desacelerar a sonda”, refere-se em comunicado, acrescentando-se que apenas as missões da NASA conseguiram aterrar em solo marciano. “Vamos estar atentos até que a InSight se instale na sua casa na região de Elysium Planitia”, garante Rob Grover.

Dança de veículos espaciais

O principal objectivo desta missão é compreender a formação e evolução de Marte, investigar a dinâmica da sua actividade tectónica e impacto dos meteoritos. Para quê? Para nos dar pistas sobre os mesmos fenómenos na Terra. “A InSight é a primeira missão a fazer um exame completo a Marte”, lê-se no site da agência espacial norte-americana. “A equipa da InSight espera que, pelo estudo do interior profundo de Marte, possamos aprender como outros mundos rochosos, incluindo a Terra e a Lua, se formam”, acrescenta-se. “O nosso planeta e Marte foram moldados do mesmo material primordial há mais de 4500 milhões de anos, mas tornaram-se um pouco diferentes.”

Para Marte, a sonda leva três instrumentos científicos: um sismómetro para registar as vibrações causadas pela actividade interna de Marte e nos dar pistas sobre as propriedades da crosta, manto e núcleo; uma sonda de fluxo térmico, para saber que quantidade de calor circula no interior profundo do planeta; e um sistema de comunicação de rádio, que medirá as mudanças de localização da sonda e como Marte se movimenta na sua órbita. Como a InSight irá estudar os sinais vitais, o pulsar e a temperatura do planeta, precisa de um local calmo, daí a escolha da planície Elysium Planitia.

Atrás da InSight viajam ainda duas mini-sondas chamadas MarCO (Mars Cube One). Tal como a InSight, foram lançadas em Maio no mesmo foguetão, mas são de uma missão independente e fizeram a sua própria trajectória para Marte. “A MarCO é a primeira missão ao espaço profundo de CubeSats, uma classe de sondas muito pequenas”, refere-se no site da NASA.

Para o momento da aterragem estava programada uma espécie de dança: quando a InSight estiver a chegar ao solo de Marte, as MarCO irão passar a 3500 quilómetros por cima dela e enviar dados para a Terra. “Os dois veículos espaciais – a MarCO A e o MarCO B – irão executar uma dança bem coreografada com a InSight, dizia há dias Brian Clement (a trabalhar na missão MarCO) ao site da estação televisiva australiana ABC News.

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Comemoração da equipa da NASA no momento em que se soube que a sonda tinha aterrado em Marte MIKE BLAKE/Reuters

“Aterrar em Marte é entusiasmante, mas os cientistas estão ansiosos para que isto passe”, confessa Lori Glaze, directora interina da Divisão de Ciência Planetária da NASA. Agora ela e a equipa da NASA, todos aos abraços e aplausos quando receberam as boas notícias de Marte, já podem respirar de alívio.

“Uma vez instalada a InSight no planeta vermelho, começaremos a recolher informação valiosa sobre a estrutura interior de Marte”, Lori Glaze. Até agora, só se investigou a “pele” do planeta vermelho. E, como diz Sue Smrekar, uma das investigadoras desta missão: “Os cientistas mal podem esperar para explorarem o coração de Marte.”

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