PS dividido sobre “Brexit”: “sinal amarelo” ou “prova da unidade europeia”?

Enquanto António Costa defendeu que o "Brexit" foi uma das manifestações mais importantes da solidez e do futuro do projecto europeu dos últimos anos, Carlos César considerou que “é sinal amarelo” à União Europeia.

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António Costa no Conselho Europeu Reuters/DYLAN MARTINEZ

O primeiro-ministro, António Costa, considerou que o processo negocial que culminou neste domingo com o aval dos 27 ao acordo do "Brexit" foi uma das manifestações mais importantes da solidez e do futuro do projecto europeu dos últimos anos. Já Carlos César, líder da bancada do PS, defendeu que o "Brexit" “é sinal amarelo” à União Europeia.

"Este processo negocial foi uma prova extraordinária da unidade e da solidariedade europeia. Ao longo destes meses, não houve uma única fissura entre os 27 Estados-membros, e por outro lado houve total solidariedade de todos os Estados-membros com cada um dos problemas específicos que alguns Estados-Membros tinham nesta negociação", disse o primeiro-ministro, após a conclusão de um Conselho Europeu dedicado à validação do acordo de saída do Reino Unido da União e da declaração política que estabelece os parâmetros para a relação futura entre as partes.

António Costa referiu-se especificamente ao "braço de ferro" entre o Governo espanhol e Londres devido a Gibraltar, e à questão da fronteira irlandesa, um dos grandes obstáculos com que as equipas de negociadores se depararam para concluir o acordo de saída.

"Ninguém deixou a Espanha isolada na negociação sobre Gibraltar, ninguém deixou o Chipre isolado na negociação com o Reino Unido, ninguém deixou a Irlanda isolada na negociação da sua fronteira. Significa isto que todos podemos contar com a UE e todos, nos momentos difíceis, somos capazes de nos unir", evidenciou.

Costa antecipou ainda a relação futura com o Reino Unido, esperando que esta esteja à altura de ambição expressa pelos dois blocos. "O Reino Unido nunca será para a UE um terceiro estado igual a outros terceiros estados. Será sempre o vizinho mais próximo, o aliado mais importante, o parceiro económico mais relevante, e um amigo para sempre. Por isso a relação futura não pode ser meramente económica, tem de cobrir a área da defesa, da segurança interna e da relação entre os povos", concluiu.

Ocasião para repensar

A partir das jornadas parlamentares do PS, que terminam neste domingo no Algarve, Carlos César expressou uma opinião menos optimista e defendeu que o divórcio do Reino Unido da União Europeia é ocasião para repensar alguns modos de decisão da própria UE.

O líder parlamentar socialista disse mesmo que o “Brexit” foi um “sinal amarelo para a União Europeia” e que deve obrigar os que ficam no clube europeu a repensar modos de decisão e de relacionamento com os cidadãos.

“Temos de considerar que a situação que hoje vivemos e que hoje foi aprovada é um sinal amarelo para a União Europeia. Não é motivo de satisfação, é de interrogação sobre este projecto. Não podemos ignorar que hoje o populismo autoritário e eurocéptico é hoje a terceira força ideológica mais poderosa no contexto eleitoral europeu”, referiu.

Por isso, César entende que é preciso uma “reflexão” para fortalecer o projecto que passa por “nos interrogarmos sobre situações tão diversas como a legitimidade das decisões que hoje se tomam na União, modelos de decisão, e do espaço cada vez mais exíguo que, por força da globalização, é atribuído à expressão das produções regionais e das produções culturais regionais”, defendeu.

"Brexit" no Algarve

O deputado socialista eleito pelo Algarve, Luís Graça, também comentou o assunto pedindo ao Governo uma atenção ao Algarve nos acordos bilateriais com o Reino Unido.

“Quando se passar à fase dos acordos bilaterais, tenham em consideração esta realidade” no Algarve, pediu o deputado eleito pela região e presidente da federação do PS do Algarve, Luís Graça, mostrando que os algarvios estão preocupados com os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia.

De acordo com o socialista, o “'Brexit' é muito importante para o resto do país, mas para o Algarve é absolutamente decisivo” uma vez que o mercado britânico significa, por exemplo, “mais de 50%” das chegadas ao aeroporto de Faro. Além disso, lembrou, dos mais de nove milhões de turistas britânicos em Portugal por ano, mais de seis milhões vão para o Algarve.

Nos números que afectam os algarvios estão ainda os “12 mil britânicos residentes”. Perante esta realidade, o socialista lembrou que é importante acautelar, nos acordos bilaterais, que estes turistas e residentes não têm empecilhos “burocráticos” que dificultem a sua chegada à região.

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