Está a ser preparado um sistema para "ler" a cara dos alunos durante as aulas

Projecto é da Universidade de Aveiro e o seu objectivo oficial é o de permitir a medição das oscilações de foco por parte dos alunos e assim permitir aos professores ver em que partes da aula estes se desinteressaram. Serão captadas imagens constantes dos rostos de modo a que possam ser avaliadas por um servidor informático.

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Experiência de utilização do novo sistema durante uma aula na Universidade de Aveiro DR

Ainda está longe de ficar operacional e a sua utilização até poderá ser inviabilizada devido às novas normas de protecção de dados, mas na Universidade de Aveiro (UA) já se está a trabalhar para que, num futuro próximo, a atenção dos alunos numa aula seja monitorizada por via de um sistema informático que permitirá a leitura das suas expressões.

Para esse efeito, explica uma nota da UA, este sistema englobará “uma câmara instalada na sala para captar toda a plateia ao longo da aula” e que enviará continuamente imagens das caras dos alunos para um servidor que, por sua vez, extrairá “os dados necessários para estimar o foco dos estudantes ao longo da sessão”. Todos os rostos têm de estar identificados para que este processo se concretize.

Será este sistema uma forma de operacionalizar mais um super big brother de vigilância e controlo? “É um dos nossos medos. E temos insistido por isso que o objectivo do nosso projecto não é, de forma alguma, o de controlar os alunos”, afirma ao PÚBLICO Daniel Canedo, um dos dois investigadores do Instituto de Engenharia Electrónica e Informática de Aveiro responsáveis por este estudo.

Daniel Canedo admite, aliás, que a operacionalização deste sistema “vai ser complicada”, até porque à luz do novo regulamento de protecção de dados será necessário ter o consentimento dos estudantes, o que não se afigura uma tarefa fácil. Recorde-se que este regulamento impõe condições especiais de autorização para a utilização de “dados sensíveis”. E é nesta categoria que se inserem os chamados dados biométricos, entre os quais figuram por exemplo a identificação a partir da íris ou do rosto, o que nos remete de novo para o projecto da Universidade de Aveiro.

"Resultados ainda são muito preliminares"

Para já, adianta Daniel Canedo, os “resultados são ainda muito preliminares”, não sendo expectável que o novo sistema esteja pronto a ser aplicado antes do final de 2020, que coincide com o final do prazo de três anos dado a este projecto. O investigador adianta que foi a Universidade de Aveiro que pediu ao seu departamento que desenvolvesse um sistema com vista à monitorização da atenção dos alunos. “Não sei se a universidade tem a intenção de o implementar nas suas salas de aula”, refere.

O investigador explica que este sistema calculará “a pose da cabeça de cada pessoa utilizando um conjunto de características retiradas da face de modo a avaliar para onde estão a olhar”. O que por si só não é suficiente para aferir a atenção porque se “pode estar a olhar para um orador ou para conteúdos projectados durante a aula e ao mesmo tempo ter a mente a divagar por outros lados”, ressalva Daniel Canedo.

Como a atenção é por isso “algo complicado de estimar”, os investigadores estão a centrar-se por agora nas formas de avaliar o “foco” de cada aluno. Têm na base investigações já desenvolvidas na Alemanha e nos Estados Unidos da América que dão conta da “forte ligação entre a posição da cabeça e o foco” e daí a aposta no cálculo desta posição.

Os resultados serão apresentados por via de gráficos, um para cada aluno, o que permitirá ao professor “perceber em que parte da aula não conseguiu manter o foco destes e ajustar os seus métodos de ensino para o futuro”.

Na sua nota de apresentação do projecto, a Universidade de Aveiro explicita que este sistema poderá também ser utilizado "em congressos, palestras ou em qualquer outro tipo de evento com público e oradores".

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