Trump chama a atenção em Paris com uma conversa e duas ausências

Presidente americano não visitou um grande cemitério de soldados americanos nem participou num Fórum Multilateral pela Paz. Mas terá tido uma breve conversa com Putin.

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A chegada de Putin: a diferença das expressões de Trump, por um lado, e Merkel e Macron, por outro, foi notada BENOIT TESSIER/Reuters

O Presidente norte-americano, Donald Trump, chamou a atenção por duas ausências e uma incerteza durante a sua visita a Paris.

A incerteza diz respeito a um encontro com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin. Jornalistas especulavam sobre as imagens da chegada do líder russo ao local onde estavam já os líderes francês, alemã e americano – as caras educadamente sombrias de Merkel e Macron contrastando com o sorriso aberto de Trump (e Putin respondeu fazendo mesmo o gesto de polegar estendido, um americano "tudo bem") – se teria havido ou haveria um encontro entre os dois em Paris.

Enquanto de Washington não havia confirmações nem desmentidos, a agência russa RIA citou um porta-voz de Putin dizendo que os dois se encontraram e falaram brevemente. “Foi uma boa conversa”, comentou o porta-voz, Dimitri Peskov, acrescentando que os dois não discutiram a retirada dos EUA, anunciada por Trump, de um tratado de mísseis de médio alcance de meados dos anos 1980 assinado por Gorbachov e Reagan. Trump acusou a Rússia de incumprimento, Moscovo quer dialogar sobre o tema para manter o acordo. 

Mas os dois terão decidido não interromper as celebrações com uma cimeira bilateral e marcaram encontro para a margem da cimeira do G20 em Buenos Aires. 

Paralelamente, também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse ter-se reunido em Paris tanto com Trump como com Putin, agradecendo ao primeiro a decisão “corajosa e importante” de voltar a aplicar sanções ao seu arqui-inimigo Irão, e dizendo que a conversa com Putin (que na Síria é aliado do seu inimigo Hezbollah, milícia libanesa apoiada por Teerão) foi “boa e importante”.

Trump fez-se ainda notar pelas ausências. Este domingo, Macron organizou um Fórum pela Paz para promover o multilateralismo, em que participaram a maioria dos líderes presentes em Paris para as comemorações do Dia do Armistício, e ainda o secretário-geral da ONU, António Guterres. Vladimir Putin esteve na reunião, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também. Trump não.

A intervenção de abertura no Fórum coube a Angela Merkel, que fez eco de algumas das ideias que Macron tinha defendido no seu discurso no Arco do Triunfo. Falou de uma tendência crescente e preocupante de alguns líderes estarem dispostos a promover o seu interesse próprio, deixando de lado alianças e laços que têm sido a base da paz desde o final da II Guerra Mundial.

Merkel sublinhou que não há muitas alternativas ao multilateralismo: “A maioria dos desafios de hoje não pode ser resolvida por apenas uma nação, mas por várias juntas. É por isso que precisamos de uma abordagem comum”, disse a chanceler da Alemanha. “Se o isolamento não era a solução há 100 anos, como poderia ser hoje num mundo tão interligado?” perguntou.

A outra ausência do Presidente americano foi quando, no sábado, por razões logísticas (o helicóptero em que viajaria não poderia voar com chuva ou nevoeiro, segundo a Casa Branca) cancelou a sua visita ao cemitério americano de Belleau, a localidade onde morreram quase dois mil marines numa batalha em Julho de 1918.

O jornal Washington Post fala mesmo, em editorial, do "desprezo" do Presidente pelos militares; o diplomata que serviu Administrações tanto democratas como republicanas, Nicolas Burns, criticou, no Twitter, a escolha de não ir a Belleau, classificando-a como “espantosa”. Trump acabou por visitar, um dia depois, um outro cemitério militar americano, o de Suresnes.

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