Tirar os médicos do computador e “nova política de contratação”. Os desafios lançados à nova ministra

Bastonário dos médicos lança vários desafios para melhorar o Serviço Nacional de Saúde. Ministério da Saúde diz que “dá especialmente atenção à voz dos médicos”.

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Marta Temido, ministra da Saúde, e Miguel Guimarães, bastonário dos Médicos tiago Petinga/Lusa

Uma nova política de contratação para fixar os jovens médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o combate directo às desigualdades sociais em saúde, ter sistemas informáticos que não obriguem os médicos a estar metade do tempo da consulta a escrever no computador. Estes são alguns dos desafios lançados pelo bastonário da Ordem dos Médicos à nova ministra da Saúde. Marta Temido, que assumiu funções há menos de duas semanas, diz que o ministério “dá especialmente atenção à voz dos médicos”.

“Precisamos de uma nova política de contratação. Os bons serviços são aqueles que misturam a experiência que têm os mais velhos com a apetência pela tecnologia dos mais novos. A actual política não tem contribuído. Os atrasos [nos concursos] e as alternativas mais cativantes de outros países têm levado muitos jovens a abandonar o SNS”, afirmou o bastonário na sessão de abertura do 21.º Congresso da Ordem dos Médicos, que decorre esta sexta-feira e sábado em Lisboa, com o mote O Futuro na Medicina.

As palavras foram dirigidas à nova ministra da Saúde, que marcou presença na sessão de abertura do evento. Miguel Guimarães aproveitou o momento para deixar uma lista de desafios para o último ano desta legislatura e o primeiro de Marta Temido à frente da pasta da saúde.

A lista foi encabeçada pela integração dos sistemas informáticos, que tantas queixas tem originado por parte dos médicos. “Têm de ser a favor do doente, nunca um obstáculo. Mais de 50% do tempo que serve para ajudar as pessoas é usado para estar a escrever ao computador ou à procura de uma impressora que funcione. Isto é lamentável”, afirmou o bastonário, que engrossou a lista de desafios com a necessidade de reforçar a resposta dos serviços de saúde nas regiões mais periféricas, assim como de todo o SNS.

Combater desigualdades

Miguel Guimarães defendeu ainda que é preciso combater as desigualdades sociais em saúde. “Ficaria satisfeito se dentro do Orçamento [do Estado] houvesse uma verba específica para combater as desigualdades sociais na saúde. Não podemos ter cidadãos de primeira categoria e outros de segunda”, afirmou.

Acrescentou que é preciso também dar maior enfoque à qualidade, devendo por isso a percentagem dedicada a esta questão nos contratos-programa feitos com os hospitais ser maior.

Para o bastonário, é também fundamental uma maior aposta na investigação, na formação dos médicos e no objectivo de centrar a saúde nos cidadãos.

Governo dá atenção à "voz dos médicos"

Marta Temido, que no final da sessão de abertura se escusou a prestar declarações aos jornalistas, disse que o programa do Governo define as que as pessoas são a principal prioridade e o ministério que agora tutela irá contribuir um sistema de saúde em que as pessoas façam parte da decisão.

Numa palavra dirigida aos médicos, a nova ministra afirmou que estes profissionais serão sempre um elo indispensável. “A lei de bases da saúde refere que expressamente que cabe ao médico um especial relevo. A sociedade sabe que são os médicos os detentores de conhecimento. Confere aos profissionais um poder sem paralelo, mas também uma enorme responsabilidade. O Ministério da Saúde dá especialmente atenção à voz dos médicos.”

“Possivelmente não teremos sempre o mesmo prisma para resolver os problemas. Mas trabalharemos sempre para encurtar a distância”, rematou Marta Temido.

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