As avarias, os bugs e os SPMS

A generalidade dos cidadãos ficaria surpreendida com a quantidade de programas informáticos diferentes, janelas, avisos e cliques que são usados para uma simples consulta.

Uma das maiores dores de cabeça de um profissional de saúde é ter de enfrentar, diariamente, um dos vários programas informáticos disponibilizados pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).

Não tem sido uma tarefa fácil...

Constantes avarias, disfunções, inadaptações, incompatibilidades, bugs permanentes, transformam o dia-a-dia dos médicos num calvário informático.

A informatização dos serviços de saúde deveria constituir um fator de progresso, acompanhar a evolução tecnológica e científica, organizar e facilitar o acesso à informação. A informatização dos registos, dos procedimentos e dos dados deveria aliviar a burocracia e permitir aos médicos dedicarem-se ao exercício da sua profissão e concentrarem-se no seu doente.

Os milhões de euros gastos em programas e material informático justificariam essa simplificação.

Ao invés, atualmente, a informatização do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o maior entrave ao desenvolvimento do sistema de saúde e a principal causa do caos administrativo e assistencial nas instituições da saúde. Perante este cenário caótico, a informatização não veio para facilitar, mas sim para complicar e obstaculizar.

A generalidade dos cidadãos ficaria surpreendida com a quantidade de programas informáticos diferentes, janelas, avisos e cliques que são usados para uma simples consulta. Ficariam estupefactos ao perceber que uma falha informática nas dezenas de procedimentos obrigatórios (e muitas vezes sem qualquer sentido) pode arruinar uma manhã de consultas. Uma ferramenta que deveria servir para ajudar, acaba, afinal, por constituir um enorme entrave.

No relatório “O Momento Atual da Reforma dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal 2015/2016” publicado, em Maio, pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, os problemas informáticos são das principais preocupações identificadas pelas médicos de família desde 2011.

Noutro estudo da Ordem dos Médicos, de 2014, os profissionais de saúde referem ter de dedicar uma média de 24,8 minutos por hora, com programas informáticos permanentemente disfuncionantes. Nesse mesmo estudo, 88% dos médicos reconheciam que o mau funcionamento do programa de prescrição eletrónica prejudica o seu trabalho.

A multiplicidade de programas informáticos, os computadores e monitores obsoletos e escassos, as permanentes avarias e interrupções no sistema têm semeado a confusão nos hospitais e centros de saúde.

Mas, mais grave ainda do que o problema, é a negação desse problema.

No país dos SPMS tudo é maravilhoso. Infelizmente, a realidade nos hospitais e nos centros de saúde é muito diferente. O caos informático e o desespero dos profissionais estão longe dessa realidade idílica.

Por mais avisos que sejam lançados, os SPMS mantêm a mesma incapacidade em construir um sistema informatizado funcionante e em resolver os problemas criados. Continuar nesta confusão contribui para atrasar a modernização e desburocratização do SNS.

A verdadeira notícia que todos anseiam é “Esta semana não houve falhas informáticas no SNS”. Será pedir muito?

Ao manter este caminho para o abismo informático, não há Simplex que nos valha!

Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos

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