A arte de transformar derrotas em vitórias

Na rara arte de transformar derrotas em vitórias e crises em oportunidades, Portugal tem um campeão: chama-se António Costa.

Na rara arte de transformar derrotas em vitórias e crises em oportunidades, Portugal tem um campeão: chama-se António Costa e este domingo pela hora da missa voltou a mostrar ao país o seu domínio da táctica política e deu a volta a uma das mais graves crises políticas do seu mandato. Ao transformar a substituição de um ministro na mais profunda remodelação de um governo nos últimos 17 anos, António Costa ergueu uma parede de imunidade ao contágio da desastrada saída de Azeredo Lopes. Mas fez mais: recuperou a iniciativa, deixou no ar a sensação de que o Governo parte para a sua última sessão legislativa revigorado e apontou até baterias ao horizonte pós-eleitoral – não passa pela cabeça chamar o embaixador da União Europeia em Brasília, João Gomes Cravinho, apenas para cumprir tarefas até 2019.

Costa é, bem o sabemos, um mestre em baralhar e dar de novo. Em 2015 saiu derrotado pela coligação que aplicara ao país a mais severa terapia de choque em décadas e o que faz? Dá um salvo em frente inventando a “geringonça”. Em 2018 tem a dura tarefa de resolver a crise com a saída de um ministro que defendera irrevogavelmente apenas dois dias antes e o que acontece? Limpa a praia de ministros (e um secretário de Estado) desgastados ou definidos pelo tempo como simples figurantes e recentra a discussão na agenda que lhe convém. Dizer que tudo é malabarismo é disparate, porque havia áreas da governação a precisar de nervo – em particular a Economia. Mas aceitar que tudo é prodigioso é ilusão.

Pode dizer-se ainda que nasceu um governo mais coeso por revelar o poder indiscutível de António Costa – as escolhas de próximos, amigos ou correligionários é evidente – e também que dificilmente será pior do que o anterior. Azeredo Lopes estava mais focado em procurar o ministério do que a governá-lo, Caldeira Cabral e Castro Mendes há muito que haviam deixado de ser interlocutores dos agentes da cultura ou dos empresários e Adalberto Campos Ferreira estava perdido entre as pressões corporativas, o erro inadmissível das 35 horas que arrasou a qualidade dos serviços e as cativações de Centeno.

Com este lastro, Costa faz aprovar o Orçamento e parte com esta aura de ar novo para as legislativas com um novo ânimo. Como diria o antigo primeiro–ministro Jim Callaghan no auge das incertezas do Reino Unido no final dos anos 70: “Crise? Que crise?”

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