Rússia acusada de difundir vídeo falso para provocar reacções antifeministas

Vídeo em que uma mulher despeja água sobre homens que se sentam de pernas abertas em transportes públicos, e que gerou comentários críticos nas redes sociais, terá sido encenado.

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O vídeo foi publicado no final de Setembro e soma mais de 6,4 milhões de visualizações DR

Uma mulher caminha com uma garrafa de plástico na mão no metro de São Petersburgo, na Rússia. Cada vez que encontra um homem sentado de pernas abertas, a tirar espaço a quem se senta ao seu lado (um comportamento conhecido como manspreading), a mulher despeja um líquido sobre as virilhas do passageiro.

O vídeo, inicialmente apresentado como um protesto feminista contra aquele comportamento de alguns homens em transportes públicos, somou mais de 6,4 milhões de visualizações ao longo das últimas semanas. Foi partilhado por um suposto movimento de activistas feministas, mas surge agora a acusação de que se trata afinal de um vídeo de propaganda, cuja divulgação foi coordenada pelo Governo russo com o objectivo de gerar reacções negativas contra movimentos feministas.

A alegação é da revista russa Paper, que traça o percurso que o vídeo fez pelas redes sociais. Foi originalmente publicado pelo In The Now, uma página do canal RT, estação televisiva noticiosa russa que transmite em várias línguas, especializada em distribuir conteúdo viral. Logo nessa publicação é dito que há dúvidas sobre a autenticidade do vídeo, mas é em todo o caso apresentado como sendo real.

Na realidade, denuncia a Paper, o vídeo foi feito por actores. Um dos alegados participantes, Stanislav Kudrin, escreveu numa rede social que foi pago para interpretar o papel: "Eles atiraram-nos água. Naturalmente, foi encenado. Aquela sensação de quando vais gravar com dois pares de calças e sais com salário". A revista implica ainda um estúdio cinematográfico com ligações ao Kremlin, o My Duck's Vision.

A divulgação do vídeo tinha gerado inúmeros comentários críticos do suposto protesto feminista, acompanhados de inultos misóginos.

A peça de propaganda também foi denunciada pelo site "EU versus Disinformation", ligado a um projecto da União Europeia de combate à desinformação e propaganda

A utilização de vídeos falsos, páginas de propaganda e trolls nas redes sociais pelo governo russo não é uma novidade. No início deste ano, a equipa que está a investigar as suspeitas de interferência de Moscovo nas eleições presidenciais norte-americanas, liderada pelo procurador especial Robert Mueller, acusou formalmente uma conhecida "fábrica de trolls" russa, a Internet Research Agency, pela autoria de uma campanha de desinformação que terá beneficiado Donald Trump e Bernie Sanders e prejudicado Hillary Clinton.

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