O Colexpla nasce das cinzas do festival que há 15 anos agregou a cena experimental portuense

Até sábado, passam pelo Teatro Carlos Alberto vários nomes da música experimental e improvisada. Haverá concertos, workshops e instalações sonoras.

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Há 20 anos, quando apareceu, o festival Co-Lab foi fundamental para que vários músicos dispersos se agregassem numa primeira foto de família, esboçando aquele que é hoje o cenário da música experimental portuense. Arrancou em 1998, no café-concerto do então Rivoli Teatro Municipal, ainda como ciclo. Nos anos seguintes, até 2003, evoluiu para um formato maior e mais estruturado, contaminando outros palcos da cidade. Quando terminou, apesar de plantada a semente para uma série de projectos musicais e de ciclos de programação que foram surgindo, deixou uma lacuna: a música experimental e improvisada perdia a visibilidade e a exposição associada às salas que serviam de base para o evento.

Quinze anos depois da sua última edição, surge um parente próximo dessa rampa de lançamento para um nicho que foi crescendo – o Colexpla, que de quarta-feira a domingo levará a um dos palcos mais recorrentes do anterior Co-Lab, o Teatro Carlos Alberto (TeCA), vários músicos da cena experimental nacional e internacional, convocados para um programa que se divide entre concertos, workshops e instalações sonoras. A empreitada surge da parceria entre a associação Sonoscopia, fruto do encontro de um grupo de músicos que se cruzavam no Co-Lab, e o Teatro Nacional São João. 

O director artístico do Colexpla, Gustavo Costa, músico e um dos responsáveis pela Sonoscopia, guia-nos pela agenda de actividades destes quatro dias. Não quer fazer destaques de programação, no sentido de evidenciar um músico dentro do rol que está escalonado. Logo à partida, sublinha os pontos de contacto entre o festival pioneiro e este que agora começa: além da estrutura, há músicos que se repetem, como o britânico Phil Durrant e o portuense, mas radicado desde o início dos anos 1990 em Barcelona, Alfredo Costa Monteiro.

Dos nomes mais estabelecidos do espectro da música improvisada livre, viajam até ao Porto o berlinense Burkhard Beins e o francês Bertrand Denzler, que com Durrant formam o Trio Sowar: actuam já na quinta-feira. Ainda no panorama dos históricos cabem os franceses Lionel Marchetti e Xavier Garcia, que se apresentam no sábado. A representar a área dos “novos instrumentos” estarão o francês Toma Gouband, que explora um instrumento de percussão construído com pedras, e a japonesa Tomoko Sauvage, cujo trabalho se desenvolve em torno da amplificação da água.

Entre os músicos chamados a este primeiro Colexpla há os que lá passarão não apenas para se apresentar em concerto, mas também para mostrar instalações sonoras e exposições, como o norte-americano Ken Butler, “um histórico dos instrumentos alternativos ou novos”, e ::vtol::, representante “mais jovem”, na mesma área. É uma opção consciente: “Tentamos proporcionar um encontro entre alguns históricos e os mais novos”, sublinha Gustavo Costa.

Os norte-americanos MSHR, que já passaram duas vezes pela Sonoscopia, também vão lá estar. Outra presença habitual na sede de associação que agora chega ao TeCA é o espanhol Miguel A. Garcia.

Com uma obra composta exclusivamente para o festival virá Kaffe Matthews, que se divide entre o Reino Unido e a Alemanha. A compositora toca no sábado, acompanhada por um ensemble composto por três portuguesas: Diana Combo, Inês Castanheira e Marta Ângela. Outra visita recorrente, mas que está há mais de dez anos sem passar por Portugal, é a israelita Meira Asher, “talvez o nome mais sonante e com uma carga mais política” do festival, que vem acompanhada por Eran Sachs.

Gustavo Costa sublinha ao PÚBLICO que este é um festival novo, mas que mantém pontos de contacto com o passado: “Passaram-se quase 15 anos, a cidade transformou-se completamente a nível cultural e até o próprio auditório sofreu alterações. Continua a girar em torno da música experimental, mas queremos focar-nos em questões como os novos instrumentos e a música electro-acústica”, salienta.

Esta é também, reconhece, uma forma de alargar o raio de acção da Sonoscopia para lá da sua sede. “Em 2018 faz sentido que o Porto volte a ter um festival de música experimental mais institucional. Temos outros festivais, mas num ambiente mais informal e não num auditório”, esclarece.

O director artístico do Colexpla espera que, tal como o Co-Lab, o novo festival possa funcionar como força agregadora de uma nova fornada de músicos dentro do espectro do experimental e da música improvisada. O ideal seria preencher os cerca de 200 lugares do TeCA e repetir-se nos próximos anos, objectivos para os quais diz já estarem a trabalhar.

Fundador do festival que deu origem a este, Alberto Lopes, aqui director técnico, recorda que foi no Co-Lab que conheceu Gustavo Costa e muitos outros músicos do cenário portuense. “Há 20 anos, além do Jorge Lima Barreto e pouco mais, não havia muitas opções. O Co-Lab acabou por funcionar como ponto agregador desta cena consolidada que hoje temos no Porto”, afirma.

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