O Instapaper voltou, mas há milhares de sites ainda indisponíveis na Europa
Grandes títulos da imprensa norte-americana como o Los Angeles Times continuam a barrar os leitores europeus para não ter de cumprir o Regulamento Geral de Protecção de Dados, mais de dois meses após a sua entrada em vigor.
Mais de dois meses depois da entrada em vigor do Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD), que obriga empresas de todo o mundo a adoptarem medidas reforçadas de segurança dos dados pessoais dos seus consumidores na União Europeia (e que prevê multas pesadas em caso de incumprimento), vários sites e serviços online internacionais continuam indisponíveis para os europeus por ainda não cumprirem a nova lei.
Um deles era, até esta semana, o Instapaper, um serviço que permite guardar artigos para ler mais tarde num tablet ou smartphone. O site esteve indisponível desde 23 de Maio, permitindo apenas aos seus utilizadores a descarga de um ficheiro Excel com os links guardados até então.
“Durante os últimos dois meses, tomámos uma série de medidas para responder ao RGPD, e é com satisfação que anunciamos o nosso regresso à União Europeia”, lê-se no blog da empresa, que vai recompensar os seus utilizadores europeus com seis meses grátis da versão paga do seu serviço.
Mas se o Instapaper está de volta, continua a não haver novidades em relação a milhares de outros sites e serviços, e em especial sobre inúmeros sites norte-americanos de notícias que desde Maio barram o acesso aos leitores europeus.
Esta semana, o site do Nieman Lab, da Fundação Nieman de ensino de jornalismo, ligada à Universidade de Harvard, fazia um balanço: serão mais de mil os jornais, rádios e cadeias de televisão norte-americanas inacessíveis na Europa, entre grandes títulos como o Los Angeles Times, o New York Daily News ou o Chicago Tribune, até uma miríade de órgãos regionais e locais, bem como publicações temáticas.
A lista tem crescido à medida que entusiastas como o britânico Joseph O’Connor, que mantém um registo actualizado dos sites bloqueados, vão monitorizando o número de publicações indisponíveis.
E se em muitos países como Portugal existe um hábito frequente de consulta de jornais internacionais, como refere no artigo do Nieman Lab o jornalista Flávio Nunes, do Eco, há outros casos em que a leitura é quase diária: entre norte-americanos residentes na Europa, europeus com ligações pessoas aos EUA, ou jornalistas e académicos para quem alguns órgãos norte-americanos são referências, por exemplo, do ponto de vista da inovação digital, como afirma Sarah Toporoff, da Global Editors Network, sediada em Paris.
Quando é que o bloqueio será levantado? As respostas recolhidas pelo Nieman Lab sugerem que não será tão cedo. A Lee Enterprises, uma companhia que detém mais de 300 publicações, incluindo 46 jornais diários nos EUA, não tem quaisquer planos para passar a cumprir o RGPD. “O tráfego online dos nossos jornais locais com origem na União Europeia é mínimo, e acreditamos que bloquear o tráfego é do melhor interesse dos nossos leitores locais”, disse um porta-voz da empresa. Da parte da Tronc (Chicago Tribune, New York Daily News) e da GateHouse (144 jornais), apenas silêncio. Do ponto de vista económico, a perda de leitores e anunciantes europeus não parece preocupar alguns dos maiores publishers norte-americanos.