Figueira da Foz vai ter navios maiores e quer mais operações ferroviárias

Projecto envolve os principais operadores do porto e a Câmara Municipal. Objectivo é alargar o hinterland (zona de influência do porto) e abranger a zona Centro e Oeste.

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SERGIO AZENHA / PUBLICO

Se em 2005 as dragagens efectuadas no porto da Figueira da Foz para aumentar de 5,5 para 6,5 metros o calado dos navios permitiu a duplicação da carga movimentada, há boas razões para crer que novas obras para aceitar embarcações de oito metros levem a um ainda maior aumento da procura.

E não se trata só de crer. A Comunidade Portuária do Porto da Figueira da Foz, que é composta pelos principais empresas que ali operam, tem estudos de mercado que demonstram que basta um investimento de 16 milhões de euros para reposicionar aquela infra-estrutura no mapa dos portos marítimos nacionais.

“O movimento portuário tem vindo a crescer imenso. Entre 2008 e 2017 passámos de um para dois milhões de toneladas movimentadas, sobretudo devido às obras de prolongamento do molhe Norte em 400 metros e às dragagens que permitiram receber navios com 6,5 metros de calado”. Gonçalo Vieira, presidente da Comunidade Portuária, sublinha que a Figueira da Foz , entre 2008 e 2017 foi o segundo porto com maior crescimento médio anual (7%) logo a seguir a Sines (8%). Em média, os principais portos portugueses cresceram 4%.

Operadores, carregadores e a própria câmara municipal querem agora avançar com um investimento de 16 milhões de euros para fazer três coisas relativamente simples: dragar até aos 10 metros para se poder receber navios com oito metros de calado, alargar a bacia de manobras do porto e melhorar a frente de acostagem através da expansão dos cais.

A rentabilidade estimada do projecto permite que os privados estejam dispostos a entrar com 25% do financiamento, contando que o restante seja suportado em partes iguais pelo Estado e por fundos comunitários.

Para Gonçalo Vieira este projecto é imprescindível até porque os navios de pequena dimensão que hoje ali atracam estão a desaparecer. “A quantidade que existe a nível mundial é muito reduzida e já não se constroem navios destas dimensões. Os que restam ligam alguns portos no Norte da Europa ou fazem cabotagem na costa de África. O futuro são os navios de maior calado e a Figueira da Foz não pode deixar de se preparar para os receber”.

Navios de maior dimensão, significa maior capacidade de carga e por isso está em curso um plano de promoção do porto para atrair mais clientes.

O presidente da Comunidade Portuária da Figueira da Foz diz que o projecto tem o apoio da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e que o investimento previsto não é apenas importante pela movimentação das cargas que vai proporcionar, mas também pela dinamização do cluster da economia do mar, dado que dinamiza também a pesca, os desportos náuticos, a reparação naval e o turismo.

“Já tivemos um navio de cruzeiro de pequena dimensão aqui atracado e contamos que as obras permitam receber mais “, diz Gonçalo Vieira.

Mas o grande impacto do investimento é mesmo o alargamento do hinterland (zona de influência do porto) da Figueira da Foz e um maior uso da ferrovia dado que, em média, só dois comboios de mercadorias servem diariamente o porto. Trata-se de um transporte de pasta de papel da Altri que vem de Vila Velha de Ródão, mas Gonçalo Vieira, ele próprio director logístico da Navigator (antiga Portucel), diz que haverá condições para receber mais e maiores comboios quando os navios tiverem maior calado.

O responsável está atento a um concurso que a Infraestruturas de Portugal (IP) vai lançar em 2019 para a concessão do terminal de mercadorias da estação de Leiria e diz que isso vai permitir que as empresas do eixo industrial Leiria/Marinha Grande façam transportar os seus produtos em contentores para aquele terminal, que seguirão depois, em comboio, para a Figueira da Foz.

Segundo os seus cálculos, basta um comboio com 24 vagões entre Leiria e Figueira da Foz para que o preço do contentor transportado seja 25% a 30% mais barato do que por via rodoviária.

“A linha do Oeste é uma oportunidade que não está a ser aproveitada”, diz Gonçalo Vieira, que lamenta que a modernização prevista seja só de Meleças até às Caldas da Rainha e não se prossiga já com a electrificação de toda a linha pois, com a melhoria da infra-estrutura e electrificação da linha, os custos do transporte de mercadorias para a Figueira da Foz reduzir-se-iam consideravelmente.

De resto, a ideia é que o hinterland se alargue até Alcobaça e Caldas da Rainha, cujas empresas exportadoras beneficiarão em escoar os seus produtos pela Figueira da Foz.

Por outro lado, a Comunidade Portuária conseguiu que a IP não desmantelasse a antiga via férrea da Figueira da Foz a Pampilhosa e mantivesse o canal ferroviário, que poderá vir um dia a ser útil numa ligação directa para a Beira Alta e Espanha.

 

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