Fazer um aborto não contribui para o aumento do risco de depressão, aponta estudo

Estudo observou mulheres dinamarquesas antes e depois de fazerem um aborto, assim como outras que nunca o fizeram.

Foto
RUI GAUDêNCIO/Arquivo

As mulheres que fazem um aborto não têm maior probabilidade de desenvolver depressão do que as que não o fazem, enuncia um estudo que observou dados de mais de 395 mil mulheres dinamarquesas, incluindo cerca de 31 mil que fizeram um aborto e 85 mil que foram mães. No total, entre umas e outras, 15% tinha, pelo menos, uma prescrição médica para a toma de antidepressivos.

Os dados observados são do registo nacional dinamarquês de doentes e reportam-se a 396.397 mulheres, nascidas na Dinamarca entre 1980 e 1994, incluindo 30.834 que fizeram um aborto e 85.592 que tiveram um bebé. Comparando as primeiras com as segundas, havia uma probabilidade de 54% de as que fizeram um aborto tomarem um antidepressivo no ano após o procedimento médico – os dados só permitem saber que lhes foram prescritos os medicamentos. Contudo, essa tendência no primeiro grupo já era visível no ano anterior a fazerem-no, quando essas mulheres tinham 46% mais probabilidade de tomar antidepressivos do que as que tiveram filhos.

Esta diferença de 46% para 54%, entre o antes e o depois do aborto, não é grande o suficiente para ser estatisticamente significativa, defendem os autores. “O nosso estudo mostra que houve uma associação entre aborto e uso de antidepressivos, mas como o risco de uso de antidepressivos foi o mesmo no ano anterior e posterior ao aborto e diminui à medida que passa mais tempo do aborto, não se pode afirmar que o aborto tenha causado depressão ou levado ao uso de antidepressivos”, declara a principal autora do estudo, Julia Steinberg, investigadora na área de saúde pública, da Universidade de Maryland, em College Park (EUA).

 “Outros factores – como ter um histórico de doença mental, ser de uma classe desfavorecida ou ter experiências adversas, como a violência doméstica – estão associados a um aborto e à depressão”, continua Steinberg por e-mail. “Esses factores são considerados de risco para a depressão, enquanto fazer um aborto não é um factor de risco para a depressão”, sublinha.

Apesar de estudos anteriores não terem mostrado que o aborto pode ser causa directa de problemas de saúde mental, os defensores do direito à vida têm usado o argumento de este potenciar problemas psicológicos como uma razão para justificar leis que restringem o acesso a este procedimento, observam investigadores em estudos anteriores na JAMA Psychiatry, uma revista científica publicada pela Associação Médica Americana. 

Este novo estudo evita essa falha ao examinar dados nacionais com informações sobre prescrição de medicamentos e de tratamentos em todos os hospitais da Dinamarca, além disso excluiu as mulheres a quem foi diagnosticado um distúrbio de saúde mental na infância ou na adolescência; e aquelas que fizeram um aborto após o primeiro trimestre.

Sugerir correcção
Comentar