Carlos Tavares vai rever em baixa resultados do Montepio

A anterior equipa de gestão apresentou um resultado de 30 milhões de euros mas o novo líder da Caixa Económica, Carlos Tavares, vai rever esses resultados para um valor, ainda positivo, mas que deverá ficar abaixo dos cinco milhões de euros.

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Carlos Tavares é o novo líder da Caixa Económica Montepio Geral Fábio Augusto

A Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), actualmente liderada por Carlos Tavares, está em processo de revisão acentuada das suas contas de 2017, que deverão ainda assim ficar positivas, mas em cima da linha verde, e longe dos 30 milhões anunciados pela anterior gestão.

“O actual conselho de administração, responsável pelo fecho das contas, após a devida audição dos auditores e da comissão de auditoria, está a rever as contas de acordo com os seus próprios critérios de prudência”, adiantou fonte oficial da CEMG ao PÚBLICO.

Quando a 8 de Fevereiro de 2018, José Félix Morgado realizou a sua última conferência de imprensa enquanto presidente do conselho de administração da CEMG, o clima era de guerra aberta com o accionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), chefiada por Tomás Correia que, preparava já a nomeação de uma nova equipa de gestão.

A divulgação das contas de 2017 não auditadas serviu para Félix Morgado anunciar que a CEMG tinha entrado num novo ciclo, marcado por resultados positivos, avançando com um lucro de 30,1 milhões de euros, que comparam com os prejuízos de 86,5 milhões de euros apurados em 2016. O banco fechou o exercício com rácios de solvabilidade melhorados: rácio de capital Common Equity Tier 1 (CET1) de 13,5% e rácio de capital total de 13,6%.

Como é regra sempre que uma nova gestão assume funções, os números apresentados pela anterior equipa são alvo de análise e, muitas vezes, acabam revistos. E é o que se verifica com a entrada de Carlos Tavares na CEMG que tem mantido reuniões quase bissemanais no Banco de Portugal, assim como contactos frequentes com a auditora externa KPMG.

Nos encontros, o BdP manifestou várias preocupações no sentido de haver um reforço de imparidades, mas salvaguardando os rácios de capital nos patamares recomendados. E foi o que levou Carlos Tavares a aumentar o nível de imparidades na CEMG, com impacto nos resultados de 2017, que se manterão positivos, embora abaixo dos cinco milhões de euros. Longe, portanto, dos 30,1 milhões adiantados em Fevereiro por Félix Morgado.

A melhoria segue-se a quatro anos consecutivos de prejuízos (2013, 2014, 2015 e 2016), que somaram, em termos acumulados, mais de 800 milhões de euros. Só esta quinta-feira, na reunião do conselho de administração da CEMG, é que as contas do exercício passado ficarão fechadas.

De acordo com os dados de 2017 divulgados em Fevereiro, a administração de Félix Morgado colocou de lado menos “dinheiro” para fazer face a eventuais problemas, o que ajudou a insuflar os lucros. O nível de imparidades (provisões para perdas potenciais) para crédito problemático foi menor do que a quantia inscrita nas contas de 2016: 138 milhões de euros (menos 24%). Já as imparidades para outros activos financeiros situaram-se em 6,7 milhões de euros (menos 85%) e para outros activos em 11,7 milhões de euros (menos 71%). Em Novembro do ano passado, a CEMG comunicou que vendeu a carteira de créditos em incumprimento no valor de 580,6 milhões de euros.

Em cima da mesa continua o tema da criação do banco da economia social, tendo como pivô a CEMG. Na sexta-feira, 20 de Abril, o parlamento recomendou ao Governo que não autorize a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a investir no banco, numa iniciativa que passou com o apoio do PP e do PSD e a abstenção do BE e do PCP. O PS opôs-se.  

O gabinete do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Vieira da Silva (que tutela as misericórdias, as IPSS e a AMMG) respondeu de seguida que ia analisar os diplomas aprovados pela Assembleia da República que o aconselham a recuar na intenção de promover a entrada das misericórdias e das IPSS no banco Montepio. Avisou que só depois tomará uma decisão.  Em causa está um investimento que pode ir até 200 milhões de euros.

Nos últimos meses, foram vários os sinais enviados pelas autoridades no sentido de tranquilizar os clientes da CEMG e os 620 mil associados da Associação Mutualista Montepio Geral. A percepção é de menor pressão para a AMMG injectar fundos, a curto prazo, na CEMG, para onde está projectada uma operação de mercado, entre 200 e 250 milhões de euros, que ajudará a alargar a base de capital do banco. Mas a desistência da Santa Casa e as dificuldades da AMMG em captar fundos - pois no primeiro trimestre do ano, as saídas de aplicações voltaram a ser superiores à entrada de poupanças - podem tornar-se um problema que contamine a CEMG, que, no final de 2017, tinha 3.837 trabalhadores, mais 31 do que em 2016, e 325 balcões, menos dois do que no ano anterior.

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