Russos avaliam prejuízos causados pela Protecção Civil

Empresa subcontratada que foi expulsa do hangar de Ponte de Sor diz que declarações da Autoridade Nacional de Protecção Civil são “infames”. Eduardo Cabrita diz que foi em nome do interesse nacional.

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Kamov estão todos parados desde o início do ano Rui Farinha/nFactos

A Heliavionicslab, a empresa subcontratada pela Everjets para fazer a manutenção dos Kamov, está a avaliar o que fazer em relação à decisão da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) de fechar as instalações onde estavam a trabalhar nas aeronaves e de os expulsar das instalações. Neste braço-de-ferro entre contratante e contratada, o ministro da Administração Interna já veio apoiar a decisão da ANPC, porque diz que foi em “defesa do interesse nacional”.

Num comunicado enviado às redacções, a empresa russa diz que se “encontra actualmente a avaliar os prejuízos e as consequências que advêm da actuação da ANPC resultantes do impedimento de acesso ao hangar onde se encontram as aeronaves Kamov e consequente expulsão do mesmo das equipas de técnicos destacados pelo fabricante da Rússia para Portugal, bem como das graves e reiteradas insinuações que a ANPC efectuou sobre pretensos movimentos não autorizados de peças de Kamov!”, lê-se no comunicado.

Nesta quarta-feira, a ANPC confirmou a notícia avançada pelo PÚBLICO de que teria encerrado o hangar de Ponte de Sor, alegando que o fez porque tinha indicação que estavam a ser manuseadas peças sem autorização e que o “encerramento do hangar foi a única medida que, no imediato e face à omissão de qualquer actuação e/ou esclarecimento por parte dos técnicos da Everjets presentes no local, permitiu acautelar os bens da ANPC e o interesse público”.

A Heliavionicslab qualifica estas declarações como “infames” por a ANPC dar a entender que se trata de “um eventual desvio de peças das aeronaves”. E garantem que prestaram todos os esclarecimentos que foram pedidos. “A Heliavionicslab já prestou os esclarecimentos à sociedade Everjets tendo informado esta que não se encontrava a efectuar qualquer desvio de peças ou componentes das aeronaves Kamov, limitando-se a transportar peças que se encontram a ser objecto de acções de manutenção para o seu laboratório aeronáutico, a menos de 300 metros do hangar da ANPC, ambos dentro do perímetro do aeródromo de Ponte de Sor. Aliás, como sempre efectuou desde o início da execução do contrato de manutenção desde há mais de dois anos”, escrevem.

Tendo em conta este argumento de que estaria a fazer o normal, a empresa diz que não percebe o que foi diferente desta vez para que a ANPC tenha decidido selar o hangar e expulsado os técnicos do local. “A Heliavionicslab encontra-se assim impedida de prosseguir as acções de manutenção que se encontrava a efectuar, tendo a presente actuação da ANPC provocado graves prejuízos à Heliavionicslab, designadamente, à sua imagem e bom-nome”, escrevem.

Além dos técnicos da subcontratada, foram também expulsos os técnicos do fabricante. Os russos da Kamov que se encontravam no hangar a certificar a manutenção das aeronaves foram eles próprios impedidos de se aproximar dos três aparelhos e, como tal, dizem as empresas que têm o contrato de manutenção e operação dos Kamov, tiveram de abandonar o país, o que demorará a certificação dos trabalhos e o consequente atraso na entrega dos helicópteros.

Esta é uma posição da empresa numa altura em que estão em jogo milhões de euros. A ANPC e a Everjets têm um contrato para a manutenção dos seis Kamov do Estado que termina este ano e desde Janeiro que há problemas acrescidos com as três aeronaves que ainda podem voar. A Everjets não consegue licença de voo por parte da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) por não substituir uma peça que a reguladora aérea considera fulcral. A decisão da ANPC de interditar o hangar está agora na base dos argumentos da empresa para dizer que não consegue entregar os Kamov dentro do tempo, quando essa situação já estava dificultada pela falta de licenças de voo.

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