Retrato de grupo com “gestos de cinema muito fortes” no IndieLisboa 2018

Paulo Carneiro, Susana Nobre, André Gil Mata, João Viana, Sandro Aguilar: eis os cinco realizadores que a competição nacional do festival junta para nos propor outra história do cinema português. De 26 de Abril a 6 de Maio.

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André Gil Mata abre o festival com A Árvore, o filme que em Fevereiro estreou na Berlinale NUNO FERREIRA SANTOS
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Sandro Aguilar traz à competição nacional Mariphasa, que já mostrou no Curtas Vila do Conde MIGUEL MANSO
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Tempo Comum, de Susana Nobre, chega ao IndieLisboa vindo do Festival de Roterdão MIGUEL MANSO
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João Viana também traz à competiçãonacional um filme mostrado na Berlinale, Our Madness NUNO FERREIRA SANTOS
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Paulo Carneiro apresentará o seu filme neste IndieLisboa em estreia mundial DR

Os cinco filmes da competição nacional de longas-metragens – Bostofrio, où  le ciel  rejoint  la  terre, de Paulo Carneiro, Tempo Comum, de Susana Nobre, A Árvore, de André Gil Mata, Our Madness, de João Viana, e Mariphasa, de Sandro Aguilar – são-nos propostos pelo IndieLisboa 2018 como um “retrato de grupo”. Os directores e programadores Nuno Sena e Miguel Valverde entreviram essa possibilidade, contam, em cinco “gestos de cinema muito fortes”, de “uma coerência exemplar”, de gente que está entre os 35 e os 45 anos, Um “retrato de grupo” que talvez só tenha sido possível fazer anteriormente, na competição de 2015 do festival, com os laços de família entre os filmes, e nos filmes, de Catarina Mourão (A Toca do Lobo), Margarida Leitão (Gipsofila), António Borges Correia (Os Olhos de André) e Márcio Laranjeira (Uma Rapariga da Sua Idade).

O filme de Paulo Carneiro é uma estreia mundial. Os outros títulos estiveram na competição do Festival de Roterdão (o de Susana Nobre) e no Forum de Berlim (João Viana, Sandro Aguilar e André Gil Mata). Também isso (não) é (apenas) um detalhe deste retrato: houve uma altura em que os cineastas portugueses se exportavam à unidade (Oliveira primeiro, Pedro Costa depois...), agora o tempo é outro, vão em grupo, os programadores internacionais vêem-nos aparecer como cogumelos e abrem os braços.

Esta selecção de cinco e a evidência de cinema neles teve consequências para a forma de programar as secções desta 15.ª edição, que esta terça-feira são anunciadas – às 10h30 no Palácio Galveias, em Lisboa. Desde logo, não fazia sentido, em nome da coesão que nesse grupo se exibe, partilhar algum desses títulos com a competição internacional, como às vezes acontece. Por isso também um cineasta como Serge Tréfaut, “o mais premiado” dos realizadores portugueses no Indie (três vezes vencedor), está nesta edição fora de concurso – Raiva, a partir de Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, é o filme de encerramento. Por isso também, pela preponderância que toma este ano a competição nacional, fez sentido para os programadores destacar A Árvore, de André Gil Mata, como filme de abertura. Tudo decorre entre 26 de Abril e 6 de Maio.

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Da competição internacional já tinha havido notícias na semana passada: haverá quatro documentários em dez títulos. Noutra “zona” do festival, Lucrecia Martel e Jacques Rozier são os Heróis Indie. A retrospectiva dedicada à cineasta argentina será integral nas longas, incluindo a última, Zama, fotografada pelo português Rui Poças, que se estreará comercialmente em Portugal nessa altura, e o documentário de Manuel Abramovich filmado durante a rodagem do filme, Años Luz. Exclui três curtas que a realizadora não autoriza que sejam exibidas e inclui uma masterclass (29 de Abril). A retrospectiva dedicada a Rozier, “o menos conhecido dos nomes da primeira vaga da Nova Vaga”, como diz Nuno Sena, já que não teve nem a (inicial) fortuna comercial, nem a duradoura fortuna crítica dos seus contemporâneos chamados Godard, Truffaut, Varda ou Rohmer, está a ser “complicada” de montar, sinal de que Rozier, que realizou a primeira curta, Rentrée des classes, em 1956, é trabalhoso de recuperar. “Há muito trabalho de restauro que não está feito, alguns filmes serão exibidos em cópias da época”, revela o director.

A secção Silvestre, que se quer afirmar como a mais livre do festival (e que nesta edição se afirma também como competitiva, com o seu júri autónomo), programou-a o romeno Radu Jude (The Dead Nation, sobre o anti-semitismo na Roménia dos anos 30 e 40), Le Lion est mort ce soir, de Nobuhiro Suwa, com Jean-Pierre Léaud, Hong Sang-soo (Grass), James Benning e os seus leitores, Readers, ou os dois últimos filmes de Paul Vechiali, que foi Herói Indie na última edição do festival.

Na competição de curtas, Miguel Valverde chama a atenção para o novo de Miguel Seabra Lopes e Karen Akerman (Num País Estrangeiro), Amor, Avenidas Novas, de Duarte Coimbra (“vai dar muito que falar”), Anjo, de Miguel Nunes (“uma espécie de Verão Danado em curta, no sentido em que estamos a ver os actores e estamos a ver também a vida deles”), o filme que João Salaviza e Ricardo Alves Jr. rodaram no Bairro do Aleixo (Russa), Sleepwalk, de Filipe Melo, adaptação ao cinema do seu, e do argentino Juan Cavia, conto de BD, em que o protagonista percorre o interior da América na década de 1980 em busca de uma tarte de maçã (rodagem na paisagem americana), ou Self Destructive Boys, a curta com que André Santos e Marco Leão saem da infância e da adolescência e espreitam o porno – há outras coisas novas neste filme para além do sexo ou da pornografia: a ironia, auto-ironia até, que faz sentir Self Destructive Boys como o gesto que fura a bolha em que o cinema da dupla de forma estupenda se manteve.

Espreitando a secção Director’s Cut: Hitler’s Hollywood, de Rudiger Suchsland, mergulho nos melodramas e musicais nazis, ou Star, proposta cósmica de Johann Lurf, compilação de céus estrelados do cinema desde Star Wars a O Estranho Caso de Angélica, de Manoel de Oliveira. E ainda a série Sara, que Marco Martins escreveu e realizou para televisão – o Indie apresenta dois dos oito episódios das desventuras de uma actriz (Beatriz Batarda) que está farta de ser dramática e quer fazer rir.

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