Morreu Billy Graham, o "pastor da América"

O televangelista que se tornou conselheiro de presidentes e um dos mais importantes líderes religiosos mundiais tinha 99 anos.

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Reuters/Shannon Stapleton

Billy Graham, o “pastor da América”, o líder evangélico que foi conselheiro de vários presidentes dos Estados Unidos e pregou a literalidade da palavra da Bíblia de viva voz, pela rádio, televisão e Internet a 200 milhões de pessoas em 185 países, morreu aos 99 anos, na sua casa na Carolina do Norte.

Ao longo da sua carreira de mais de 70 anos foi ouvido por políticos tão variados como Al Gore e Sarah Palin. Tornou-se o capelão "de facto" da Casa Branca para vários presidentes — sobretudo para Richard Nixon. George W. Bush contou que deixou a bebida por causa de uma conversa com Billy Graham.

Graham levou a sua mensagem — "só Jesus Cristo pode resolver os problemas do mundo" — da  sua Carolina do Norte até à capela real do Palácio de Windsor, onde foi ouvido pela rainha Isabel II e pelo príncipe Filipe, e à Coreia do Norte.

Desde 1955 apareceu mais de 60 vezes na lista Gallup dos homens mais admirados pelos norte-americanos, diz a NBC – basicamente, desde que a empresa de sondagens começou a fazer esta lista. Na festa dos seus 95 anos, num hotel da Carolina do Norte, estiveram 800 convidados, que incluíram Palin, o magnata dos media Rupert Murdoch e Donald Trump.

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Com os ex-Presidentes George H.W. Bush, Bill Clinton eJimmy Carter, na inauguração da Associação Evangélica Billy Graham em Charlotte (Carolina do Norte), em 2007

"Metralhadora de Deus"

"Foi provavelmente o líder religioso mais importante do seu tempo", disse à Reuters William Martin, autor da biografia A Prophet With Honor: The Billy Graham Story. "Não terá havido mais do que dois papas, ou talvez uma ou duas outras pessoas, que se tenham aproximado do que ele conseguiu." 

Encheu estádios, em reuniões a que chamou “cruzadas”, conta o New York Times. Nos seus tempos áureos, Graham disparava discursos de uma oratória rápida e inflamada que lhe valeram a alcunha "Metralhadora de Deus". Espalhou a sua influência através da “convicção religiosa, da presença em palco e do perspicaz uso dos meios e tecnologias de comunicação”, diz o jornal de Nova Iorque. A última dessas cruzadas foi em 2005, em Nova Iorque.

A partir dos anos 1950, levou os evangélicos a reconquistar influência social face aos católicos e protestantes, invertendo a tendência de recuo que se iniciou após o célebre julgamento Scopes, em 1925, em que radicais religiosos tentaram desafiar a Teoria da Evolução através da selecção natural de Charles Darwin, e impedi-la de ser ensinada.

Semeou o terreno para o crescimento da direita conservadora americana. 

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Billy Graham na China, em 1988 Edward Nachtrieb/REUTERS

No entanto, nos últimos anos Graham afastou-se do movimento político evangélico que ajudou a criar e evitou os temas polémicos caros aos conservadores religiosos.

Foi um sólido anticomunista, apoiou a guerra do Vietname e opôs-se aos protestos contra a continuação do conflito. Após o fim da Guerra-Fria, visitou a União Soviética duas vezes e levou as suas cruzadas à Europa de Leste e à China. Em 1990, subiu ao topo do Muro de Berlim e autoproclamou-se "embaixador do Reino de Deus".

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— USA TODAY (@USATODAY) Billy Graham was one of the most admired men in the nation, according to Gallup's Most Admired Man and Woman poll published in December. February 21, 2018 ">

Devia ter ido a Selma

Foi um apoiante de Richard Nixon — a sua voz surgiu em gravações secretas de Nixon, divulgadas apenas em 2002, em que fazia afirmações antissemitas, pelas quais pediu desculpa. Os dois homens diziam que os "judeus liberais" controlavam os media e eram responsáveis por disseminar pornografia.

Quando pediu desculpa, Graham disse que ouvir-se, passados todos aqueles anos, tinha sido "o maior choque" da sua vida.

Apesar de ter começado como um segregacionista, o que estava de acordo com o conservadorismo das suas origens no Sul fundamentalista dos EUA, teve uma evolução. Não apoiou o movimento dos direitos civis dos anos 1960, sublinha o Washington Post. Mas, numa entrevista que deu em 2005 à Associated Press, antes da  "cruzada" final em Nova Iorque, disse que um dos seus grandes arrepedimentos era não se ter juntado a essa luta. 

"Acho que errei ao não ter ido a Selma" com outros líderes religiosos que se juntaram à histórica marcha no Alabama conduzida por Martin Luther King. "Gostava de ter feito mais", disse.

 

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