Macedónia há só uma? Gregos exigem que sim

As negociações para a alteração da designação da Macedónia têm agitado a sociedade grega, envolvendo até ameaças de morte. E a culpa é de Alexandre, o Grande.

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A manifestação contra a inclusão do termo "macedónia" no nome da ex-república jugoslava levou centenas de milhares de pessoas ao centro de Atenas EPA/ALEXANDROS VLACHOS

Ver a Praça Sintagma, no centro de Atenas, cheia de multidões durante os anos de chumbo da crise da dívida tornou-se uma imagem recorrente. Este domingo, a praça da capital grega voltou a ser palco de uma gigantesca manifestação, mas as suas motivações têm raízes com mais de dois mil anos. Em causa está um possível acordo entre a Grécia e a Macedónia sobre a nova designação para o país oriundo da ex-Jugoslávia.

Desde a independência da Macedónia em 1991, na sequência do desmembramento da Jugoslávia, que o nome do país tem motivado um apaixonado debate entre gregos e macedónios. Macedónia é também o nome de uma região grega no Norte, que inclui a cidade de Salónica, a partir de onde Alexandre, o Grande, terá iniciado a expansão do seu império no século IV a.C. que se expandiu até ao território onde hoje fica a Índia.

Até ao início do século XX, a Macedónia era uma província que integrava o Império Otomano, mas as guerras nos Balcãs que antecederam a I Guerra Mundial acabaram por dividir aquele território. O Sul passou a fazer parte da Grécia e o Norte passou para as mãos da Sérvia – essa divisão fixou as linhas de combate até hoje. À conta da discórdia, a Grécia tem bloqueado a adesão dos vizinhos à NATO, ao mesmo tempo que também trava as negociações para uma futura integração na União Europeia.

Nome provisório

Em 1993, para tentar pôr fim à polémica, a Macedónia passou a adoptar o nome oficial de Antiga República Jugoslava da Macedónia, uma designação provisória que se pensava ser suficiente para desfazer qualquer confusão com a região grega com o mesmo nome e para garantir a entrada nas Nações Unidas.

Porém, o problema manteve-se e transformou-se numa das principais causas do movimento nacionalista grego, que defende que o topónimo “macedónia” e o gentílico “macedónios” apenas podem ser utilizados para referir a região grega e os seus habitantes.

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A maioria dos gregos está contra a inclusão do termo "Macedónia" no nome do país vizinho Costas Baltas/REUTERS

O anterior Governo macedónio, liderado pelo nacionalista Nikola Gruevski, também aproveitou a controvérsia para aumentar a sua popularidade. Vários espaços públicos, incluindo o aeroporto da capital, adoptaram o nome de Alexandre, o Grande, e no Verão de 2011 foi inaugurada uma gigantesca estátua em Skopje de um combatente a cavalo da Antiguidade com muitos traços semelhantes ao da descrição histórica do conquistador.

A chegada ao poder de um governo mais moderado e apostado em reforçar os laços com a UE abriu uma janela de oportunidade para um entendimento. Atenas e Skopje regressaram à mesa de negociações, com mediação da ONU, para enterrarem de vez o assunto. Desta vez, a proposta passa por uma fórmula que marque a diferença entre país e região, como “Nova Macedónia” ou “Macedónia do Norte”.

“Há diferenças quanto às posições dos dois países, mas estou optimista”, dizia esta semana ao Financial Times o mediador da ONU, Matthew Nimetz.

Porém, uma sondagem recente mostra que a maioria dos gregos está contra a inclusão do termo “macedónia” no nome do país vizinho, diz a Reuters. E as ruas de Atenas demonstraram-no este domingo. Centenas de milhares de pessoas com bandeiras gregas concentraram-se na Praça Sintagma e deram largas ao seu patriotismo.

“Se desistirmos, estamos a deixar as portas abertas para que uma trágica mentira histórica fique escrita para sempre”, dizia à multidão o compositor veterano Mikis Theodorakis, que tem liderado a oposição aos esforços diplomáticos.

O Governo liderado pelo Syriza está numa posição delicada. A sua maioria no Parlamento depende do apoio dos Gregos Independentes, uma formação nacionalista, e não seria a primeira vez que um governo caía por causa desta questão – aconteceu em 1993, com um executivo liderado pelos conservadores da Nova Democracia.

O tema assume frequentemente contornos dramáticos e o momento actual não é excepção. Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Kotzias, que tem sido o rosto do Governo nas negociações, recebeu uma carta anónima com uma ameaça de morte contra si e a sua família.

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