Liga Árabe quer reconhecimento de Jerusalém Leste como capital da Palestina

Um conjunto de países vai tentar responder assim à decisão de Trump de mudar a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém, considerando a cidade como capital israelita.

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Os responsáveis árabes querem que a ONU reconheça pretensão palestiniana MUHAMMAD HAMED/Reuters

Um grupo de estados árabes vai começar uma iniciativa para que as Nações Unidas reconheçam um Estado palestiniano, com Jerusalém Oriental como capital.

O anúncio foi feito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, que não deu detalhes sobre o calendário para este processo nem disse a que organismo da ONU se referia (uma resolução vinculativa seria certamente sujeita a um veto americano no Conselho de Segurança, já na Assembleia-Geral não seria vinculativa mas precisaria apenas de uma maioria de votos favoráveis para passar).

A discussão sobre Jerusalém foi aberta há cerca de um mês pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, quando declarou que iria mudar a embaixada norte-americana de Telavive (onde estão todas as embaixadas) para Jerusalém (onde existem apenas alguns consulados), considerando assim os Estados Unidos reconhecem a cidade como capital de Israel – uma declaração polémica porque Trump ignorou a pretensão palestiniana à parte Leste da cidade para capital do futuro Estado.

Israel considera Jerusalém a sua capital “indivisível”, mas a sua anexação da parte oriental da cidade não foi nunca reconhecida pela comunidade internacional, que continua a considerar Jerusalém Oriental território ocupado. Nas resoluções da ONU sobre o conflito israelo-palestiniano sempre ficou estabelecido que a questão de Jerusalém seria definida em negociações entre as duas partes.

O grupo que irá levar a cabo esta iniciativa é liderado pela Jordânia e incluirá o Egipto, Marrocos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, e palestinianos.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, disse que iria ainda ser discutida a continuação do papel de mediador de Washington em qualquer futuro processo de paz já que a declaração mostrou favorecimento a Israel.

Na sequência da declaração de Trump, mais de 120 países votaram a favor de uma resolução na Assembleia Geral da ONU apelando aos EUA para voltarem atrás no reconhecimento. Trump ameaçou cortar financiamento a países que votassem a favor da resolução, e mais tarde, ameaçou também cortar as verbas americanas para a agência da ONU para os refugiados palestinianos, a UNRWA, porque, acusou, os palestinianos “já não querem negociar a paz”.

Os objectivos da UNRWA

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu este fim-de-semana o fim desta agência. A UNRWA, acusou, existe para explorar os refugiados palestinianos “com o objectivo de destruir o Estado de Israel”. No início da reunião do Governo do primeiro dia útil da semana, que em Israel é o domingo, Netanyahu declarou mesmo: “A UNRWA deve desaparecer do mundo”.

As palavras vão contra relatos na imprensa israelita de que o Governo estaria a tentar convencer Trump a não cortar o financiamento à agência por medo de consequências devastadoras na Faixa de Gaza, território sujeito a bloqueio de bens e de onde os habitantes só podem por regra sair se tiverem uma emergência médica (apenas em alguns casos), e que está, segundo um relatório da ONU de Julho de 2017, a tornar-se “inabitável”.

Israel critica a UNRWA há muito tempo, dizendo que escolas geridas pela agência demonizam Israel e dão protecção a guerrilheiros em Gaza. O facto da protecção da agência ser estendida aos descendentes dos refugiados que fugiram de Israel quando foi criado o Estado hebraico e nas guerras de 1948/49 e 1967 perpetua a questão dos refugiados palestinianos.

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