Unilever vende margarinas Becel e Flora por 6,82 mil milhões

Em Portugal, onde a parceria com a família Soares dos Santos data de 1949, Unilever produz na unidade de Santa Iria de Azóia. Gestora de fundos norte-americana KKR é a compradora

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Divisão de margarinas da Unilever vai ser vendida. Teve receitas de 3,03 mil milhões em 2016 Ronald Rammelkamp

A anglo-holandesa Unilever – que em Portugal detém uma parceria de mais de mais de 68 anos com a família Soares dos Santos, dona da companhia de distribuição Jerónimo Martins – vai alienar a sua divisão global de margarinas aos fundos da gestora KKR. A área de negócio, que se estende por 66 países, inclui as marcas Becel, Flora e Planta, que em Portugal são produzidas na fábrica da Fima-Olá.

De acordo com o comunicado emitido pela Unilever no passado dia 15 de Dezembro, a multinacional com sede em Londres e Amesterdão “recebeu uma oferta vinculativa da gestora de fundos KKR para a compra o negócio global de margarinas por 6,82 mil milhões de euros”, isenta de dívida.

A norte-americana KKR (sigla formada pelos sobrenomes dos fundadores Jerome Kohlberg, Henry Kravis e George R. Roberts), nascida em 1976, é hoje uma gestora global, com interesses na área de bens de consumo, energia, infra-estruturas, imobiliário e saúde. É accionista, por exemplo, da norte-americana Toys'R Us, da consultora alemã GfK e do parque espanhol PortAventura. A compra de parte do negócio da Unilever será financiada pelos fundos europeus e norte-americanos de private equity da KKR.

A oferta agora conhecida da KKR está “sujeita a determinadas autorizações regulatórias e à consulta dos trabalhadores em certas jurisdições”. Mas, caso seja aprovado, o negócio deverá estar concluído “em meados de 2018”, adiantou em comunicado a Unilever – multinacional dona de marcas tão variadas como Axe, Dove, Knorr, Lipton ou Rexona.

Em todo o mundo, “o negócio das margarinas da Unilever inclui marcas como Becel, Flora, Country Crock, Blue Band, I Can’t Believe It’s Not Butter, Rama e ProActiv”, diz a nota no site da companhia, a que se poderia somar ainda a portuguesa Planta, lançada em 1958. A divisão “opera em 66 países”. Registou, em 2016, receitas de 3,03 mil milhões de euros para a Unilever e representa activos de 1,1 mil milhões de euros.

Uma longa parceria

Um dos activos agora em questão é a unidade industrial em Santa Iria da Azóia, da antiga Fima, onde, avançou esta segunda-feira, 8 de Janeiro, a Fiequimetal, “mais de 100 postos de trabalho estão afectados” pela potencial venda da área de negócios mundial de margarina da Unilever. No comunicado, a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas, afecta à CGTP-IN, garante que “a Jerónimo Martins, também vendeu a sua parte”.

Na realidade, a Jerónimo Martins SGPS já não é dona de 45% na joint-venture Unilever Jerónimo Martins (UJM), que há dez anos passou a consubstanciar a parceria entre ambas as empresas, a uma proporção de 55%-45%. Detinha, indirectamente, até 30 de Setembro de 2016, a participação de 45% na UJM via sociedade Monterroio – Industry & Investments BV, com sede na Holanda.

A Monterroio, criada sob a holding Jerónimo Martins em 2011, agregava, no fundo, todas as participações da JM SGPS na área da indústria, assim como outras sociedades de representação de marcas e serviços. A área industrial dos óleos e azeite (Gallo) já sido autonomizada da UJM em 2009, mantendo a participação de 55% para a Unilever e de 45% para a JM, também agregada na Monterroio. Tinham ambas também, via a mesma parceria, a Iglo em Portugal, mas venderam em 2006, no âmbito do desinvestimento global da Unilever na área de comida congelada.

Mas, em 2016, a administração da JM, liderada por Pedro Soares dos Santos, decidiu vender os 100% que detinha da Monterroio, por 310 milhões de euros, com uma mais-valia de 75 milhões de euros. No fundo, mudavam então de mãos as participações industriais da JM – fundadas a partir da parceria industrial com a Unilever em mais de seis décadas nas áreas das margarinas (antiga Fima), gelados (Olá), azeites (Gallo Worldwide) e limpeza e higiene pessoal (antiga Lever Elida), cuja unidade industrial em Sacavém foi encerrada em 2013.

Mas, na altura, os activos não foram para muito longe: a compradora da Monterroio foi a Sociedade Francisco Manuel dos Santos BV, também com sede na Holanda, detida pela família Soares dos Santos e pelos herdeiros de Francisco Manuel dos Santos. A Sociedade Francisco Manuel dos Santos controla 56,1% do capital da cotada Jerónimo Martins SGPS (dona do Pingo Doce) e a gestora do Oceanário de Lisboa.

A acompanhar a Unilever na venda da área de produção de margarinas em Portugal, caso o negócio global com o KKR avance, será a accionista da JM, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, e não a cotada JM a alienar esse activo, uma vez que já o fez em Setembro de 2016, ao seu próprio accionista.

Na próxima quinta-feira, 11 de Janeiro, a JM divulga ao mercado as vendas preliminares consolidadas em 2017, primeiro ano completo sem o efeito da participação da Monterroio, e da sua venda.

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