Tem mais de 23 milhões de dígitos e é o maior número primo descoberto até agora

Dizem que se o escrevêssemos de uma assentada ele ocuparia o mesmo espaço de duas edições da obra Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. É o 50º número primo de Mersenne e a descoberta foi feita por um engenheiro dos EUA.

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Calma. Se vai começar a ler este artigo com o pé atrás por sentir que é “um zero à esquerda” em matemática, não desista já. Não é nada assim tão complicado. Foi anunciada esta semana a descoberta de um número primo que que será o maior encontrado até hoje, com 23.249.425 algarismos. Chama-se M77232917 e é o 50.º número primo do tipo de Mersenne.

Os números primos são divisíveis apenas por um e por si próprios. Assim, 2, 3, 5, 7, 11, e por aí fora, são números primos. Por exemplo, 10 não é um número primo, porque é também divisível por 2 e 5. Um número primo de Mersenne é uma forma rara de número primo: tem a forma de 2 elevado a P menos 1, em que P é um número primo. Assim, os primeiros números primos de Mersenne são 3, 7, 31, 127, 8191, e por aí fora. O nome da fórmula vem do monge francês Marin Mersenne, que estudou estes números no século XVII. Até agora, existiam 49 destes números raros identificados. Jonathan Pace, um engenheiro electrotécnico de 51 anos, do Tennessee, nos EUA, encontrou o 50.º número primo do tipo de Mersenne.

Por incrível que pareça, há pessoas que são “caçadores” de números primos. Jonathan Pace é um deles e já se dedica a esta “causa” há 14 anos. É voluntário no projecto Great Internet Mersenne Prime Search (GIMPS), criado em 1996 e que junta milhares de voluntários em todo o mundo. Qualquer pessoa pode participar.

O engenheiro terá criado um software específico no seu computador pessoal e conseguiu os cálculos necessários para chegar ao 50.º número primo de Mersenne. Só podemos imaginar que se divertiu em busca deste número (até agora) desconhecido.

Para a maioria das pessoas, o resultado desta aventura são milhões de algarismos juntos. Para uma grande parte dos matemáticos, é algo admirável. O resultado foi obtido calculando 2 elevado a 77.232.917 menos 1. E o produto desta simples “conta” é, reforçamos, um número com mais de 23 milhões de algarismos, que se o escrevêssemos num papel ocuparia o mesmo espaço de duas edições da obra Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Ou, se preferir algo menos literário, o equivalente a 118 quilómetros com dois dígitos por centímetro. Assim, escusado será dizer que o número completo não cabe aqui, mas, para os mais curiosos, pode ser consultado na Internet.

O cálculo já terá sido verificado e confirmado por outras pessoas que usaram diferentes softwares e hardwares. Jonathan Pace poderá receber um prémio no valor de três mil dólares (2490 euros).

E agora? Para que serve este número primo com milhões de algarismos? Estes números têm usos práticos, por exemplo para garantirem chaves criptográficas e, assim, manterem as comunicações na Internet seguras.

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