Há mais vida para além da dívida!

Não obstante os bons resultados económicos e orçamentais atingidos em 2016 e sobretudo em 2017, é necessário começar a pensar o dia depois.

A frase “há mais vida para além do défice” ficou, apesar de Jorge Sampaio não a ter proferido nestes termos. Mas o facto é que a vida dos portugueses ficou à espera que o problema do défice fosse resolvido nos últimos anos. Pensões e salários foram cortados e não foram ajustados à taxa de inflação. O desemprego aumentou. Carreiras foram congeladas. Mas sobretudo as expectativas dos Portugueses baixaram.

No presente, as reivindicações de professores, polícias, militares, médicos e outros profissionais do sector público por progressão salarial, apesar de criticada por muitos, representa o princípio do fim do estado de excepção orçamental. O normal é que não só ocorra a progressão na carreira mas também ajustamentos à taxa de inflação e (eventuais) ganhos de produtividade. Parece, porém, polémico falar desta possibilidade nos tempos que correm!

É importante notar que, se não for reestruturada, a dívida externa e pública continuará a “pairar” durante décadas. E não é razoável assumir que, ao longo de décadas e logo de vidas, os salários e pensões não serão ajustados à taxa de inflação ou que as carreiras irão continuar indefinidamente congeladas.

Não obstante os bons resultados económicos e orçamentais atingidos em 2016 e sobretudo em 2017, é necessário começar a pensar o dia depois, isto é, a debater qual deverá ser o desígnio do País após a normalização da política orçamental. Será que não haverá mais vida para além da dívida, por mais importante que esta seja?

O facto é que o País parece parado no tempo, atrasado em relação à Europa desenvolvida num continente que, por sua vez, perde protagonismo no mundo.

A própria União Europeia parece congelada na sua ambição, agora num interregno que se prolonga devido à dificuldade em chegar a um acordo de “coligação Jamaica” no Bundestag. Com a Alemanha em stand-by, a própria União Europeia parece desaparecida em combate.

As sucessivas reformas estruturais que se fizeram por esta Europa fora conseguiram tornar os salários flexíveis para baixo. Mesmo com crescimento económico e quase pleno emprego em algumas economias como a alemã, os salários continuam estagnados. Mas o desafio, numa era de mudança tecnológica dramática, é colocar os salários e o emprego a crescer de forma sustentada. No presente, nem a Europa nem os EUA o conseguem fazer.

Por outro lado, as iniciativas e livros brancos das instituições europeias parecem pouco ambiciosas e visionárias e as diferenças de interesse e opinião entre países membros agudizam-se.

Por isso, independentemente do que ocorra na frente europeia, é necessário pensar, de forma autónoma, um novo modelo de desenvolvimento do País, que tem de passar por assegurar que desse desenvolvimento não resultam desequilíbrios externos exagerados, ou seja assegurar a sustentabilidade macroeconómica do país. Mas com a ambição de colocar o País a crescer mais rapidamente e de modo menos desigual quer em termos territoriais quer sociais.

Isso sim, seria uma vida muito mais relevante e com sentido. Mais do que a vida do défice ou da dívida!

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