O problema das armas nos EUA em números

Apesar de a população norte-americana representar apenas 4,4% da população mundial, quase metade das armas privadas existentes em todo o mundo estão nos EUA.

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Em média, nos últimos anos, por dia, mais de uma pessoa morreu nos EUA na sequência de homicídios em massa Reuters/JOSHUA ROBERTS

Os Estados Unidos foram confrontados, neste domingo, com mais um massacre. Desta vez, no Texas, morreram, pelo menos, 26 pessoas que assistiam à missa na igreja baptista de Sutherland Springs depois de um homem ter disparado, alegadamente uma arma semi-automática, indiscriminadamente contra quem aí se encontrava. A cada ocorrência deste género - e são muitas em território norte-americano -, o debate sobre o controlo de armas regressa. E os números e estatísticas também.

São muitas as estatísticas, e os pontos de vista a partir das mesmas, que explicam esta relação especial entre os norte-americanos e as armas bem como a violência provocada pelo seu porte.

EUA são o país desenvolvido com mais homicídios provocados por armas – de longe

No chamado mundo desenvolvido, os EUA lideram, destacados, a tabela de homicídios provocados por armas. Segundo dados das Nações Unidas de 2012, os EUA registam uma taxa de homicídio com armas seis vezes superior à do Canadá ou quase 16 vezes maior do que na Alemanha. Concretamente, esta taxa indica que 2,97 por 100 mil americanos foram mortos a tiro.

EUA têm o maior número de armas privadas – de longe, outra vez

É mais uma tabela que os norte-americanos lideram com larga distância. Há uma equação simples para se perceber a dimensão: segundo dados de 2007, recolhidos pelo Washington Post, a partir da organização Small Arms Survey, nos EUA estão quase metade das armas detidas por civis em todo mundo. Isto apesar de a população norte-americana representar 4,43% da população mundial.

Visto de outra perspectiva, estes números dizem que existem 88,8 armas por cada 100 americanos, o que faz com que haja quase uma arma por cada pessoa e mais do que uma por cada americano adulto.

Porém, e na verdade, todas estas armas estão concentradas numa minoria da população norte-americana – segundo o Pew Resarch Center, em 2013, 37% dos agregados familiares tinham, pelo menos, um adulto com uma arma.

Mais de uma morte por dia em homicídios em massa

De acordo com a organização Gun Violence Archive, estima-se que 346 pessoas tenham morrido na sequência de homicídios em massa, só este ano (referem-se a homicídios em massa os incidentes que resultam em mais de quatro vítimas). Os números são semelhantes aos registados nos últimos anos (note-se que faltam ainda dois meses para terminar 2017): em 2016 registaram-se 432 mortes; e em 2015, 369 pessoas morreram. Ou seja, estes resultados dão uma média de mais de uma pessoa morta por dia neste tipo de tiroteios.

No período entre 2010 e 2017, existiu, em média, um intervalo de apenas 72 dias entre homicídios em massa. Segundo os dados compilados pelo Mother Jones, entre 2000 e 2010, o intervalo foi de 162 dias.

Recorde-se que os piores homicídios em massa, de que há registo nos EUA, ocorreram nos últimos dois anos – o tiroteio num concerto de Las Vegas já este ano e o massacre na discoteca Pulse em Orlando.

No que toca a incidentes com armas no geral, o Gun Violence Archive diz que, em 2017, registaram-se mais de 52.400, em que mais de 13.100 pessoas morreram.

Mas são os suicídios a maior causa de morte com armas

Apesar do destaque mediático e do horror subjacente a um homicídio em massa como aquele que aconteceu no domingo no Texas, este tipo de incidentes nem é aquele que tira a vida a mais americanos.

Segundo o Departamento de Saúde e de Serviços Humanos dos EUA, em 2013, por exemplo, 500 americanos morreram na sequência de homicídios em massa, 11.200 foram mortos num homicídio direccionado e quase 21.200 suicidaram-se com uma arma.

De uma forma mais ampla, entre 2001 e 2013, mais de 400 mil pessoas morreram como resultado da violência com armas. Destas, quase 240 mil mortes foram provocadas por suicídio. Ou seja, o suicídio é, de forma destacada, a principal causa de morte com armas. E é nos estados norte-americanos, com maior número de armas privadas, que se registam as maiores taxas de suicídio.

Interesse por armas costuma aumentar depois de um homicídio em massa

Segundo o FBI, registaram-se 270 milhões de verificações de antecedentes para a compra de armas desde Novembro de 1998 e o número continua a aumentar. Estes dados não representam o número de armas vendidas mas lançam luz ao interesse dos americanos: o mês em que se realizaram mais verificações desde tipo foi Dezembro de 2015, com 3,3 milhões. O aumento poderá estar relacionado com o massacre de San Bernardino, em Novembro do mesmo ano, altura em que 14 pessoas morreram.

Este padrão pode ser, à primeira vista, surpreendente, visto que um massacre deste tipo deveria provocar o efeito contrário. Mas é o que está previsto na Constituição: as pessoas têm direito à posse de arma por razões de segurança. Quando um atirador entra numa comunidade abatendo quem lhe passa no caminho, a primeira reacção dos americanos, segundo estes dados, é adquirir uma arma para se protegerem.

O New York Times identificou, também, no ano passado, outro factor que leva as pessoas nos EUA a procurar armas. Segundo o jornal, a possibilidade de serem aprovadas restrições à compra de armas faz aumentar as vendas. Isso pode ser também aplicado ao caso do ataque de San Bernardino, visto que, na sequência deste massacre, Barack Obama apelou a que fossem aprovadas medidas para apertar o controlo.

Americanos apoiam cada vez mais o direito à posse de armas

Segundo uma sondagem feita, este ano, pelo Pew Research Center, a maioria dos americanos apoia medidas de controlo à venda de armas, tais como as verificações de antecedentes, a proibição de venda de armas de assalto, de munições de alta capacidade, de vendas de munições na Internet ou uma base de dados federal para rastrear as vendas de armas.

No entanto, por outro lado, os americanos apoiam, cada vez mais, o direito consagrado na Constituição, de possuir armas.

Concretamente, 51% dos americanos apoiam o controlo à venda de armas e 47%, os direitos à posse de armas. Para se perceber a evolução, em Maio de 1999, 65% dos norte-americanos era a favor do controlo à venda de armas.

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