Seis listas, com operários e pessoal de escritório, disputam eleições que definem futuro da Autoeuropa

Resultados da votação para a comissão de trabalhadores da fábrica de Palmela serão conhecidos terça-feira à noite.

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O T-Roc foi um dos carros em destaque no último salão automóvel de Frankfurt Reuters/KAI PFAFFENBACH

As eleições para a comissão de trabalhadores (CT) da Autoeuropa, que se realizam esta terça-feira após uma semana de campanha, estão a ser alvo de uma disputa elevada, com seis listas, uma das quais, encabeçada por Paulo Marques, distingue-se por ter também candidatos ligados à área de escritórios (designados “técnicos indirectos”). 

“A ideia foi juntar pessoas de todas as áreas da fábrica”, explica Paulo Marques (que trabalha da área das Finanças), acrescentando ser a primeira vez que há uma lista que inclui técnicos indirectos. Estes têm uma boa representatividade na Autoeuropa, que, actualmente, emprega mais de quatro mil pessoas.

Depois, há as listas lideradas por Fernando Sequeira – que nas últimas eleições estava com António Chora, ligado ao Bloco de Esquerda e que se reformou no início do ano –, Isidoro Barradas – ligado ao Sindel/UGT –, José Silva – do Sitesul/CGTP, que tem ganho bastante protagonismo –, Fausto Dionísio e Fernando Gonçalves.

No caso de Fernando Sequeira, este está a recandidatar-se, uma vez que a CT que liderava se emitiu no início de Agosto após a maioria dos trabalhadores ter rejeitado o pré-acordo que tinha sido estabelecido com a administração da empresa.

Neste momento, a fábrica da VW, liderada por Miguel Sanches, aguarda a formação da nova CT para retomar negociações, cruciais para a plena produção do novo modelo que está a ser construído em Palmela, o T-Roc (um veículo desportivo utilitário).

A empresa sublinha que é preciso transformar o sábado num dia normal de trabalho, e, em troca, haveria “uma folga fixa ao domingo e outra rotativa ao longo da semana”. Isto para que houvesse, a partir do início do próximo ano, três turnos diários em seis dias da semana. A VW efectuaria então “um pagamento mensal de 175 euros adicional ao que está previsto na lei, 25% de subsídio de turno e a atribuição de um dia adicional de férias”. Rejeitado esse cenário, resta agora saber quais as alternativas que serão colocadas em cima da mesa pela gestão e pela nova CT.

O facto de existirem seis listas poderá dificultar que um dos candidatos ganhe por maioria (controlando o órgão representativo dos trabalhadores, ao ocupar seis dos 11 lugares), conduzindo a uma estratégia de alianças.

“Pela primeira vez na história da Autoeuropa, estão seis listas a concorrer à comissão de trabalhadores”, refere Isidoro Barradas. Questionado sobre o acto eleitoral, diz esperar que “todos os trabalhadores contribuam com o seu voto para a constituição de uma CT forte e responsável neste período que a fábrica está a passar com o aumento da produção e alteração de horários”.

O modelo usado para a selecção dos membros das listas mais votadas é o método Hondt, de representação proporcional. Este, conforme refere a Comissão Nacional de Eleições, “assegura boa proporcionalidade (relação votos/mandatos)”, mas, diz, tende a “favorecer os partidos maiores”.

Uma vez escolhidos os 11 representantes dos trabalhadores, estes escolhem uma comissão executiva, que funciona como uma espécie de “núcleo duro” da CT, e poderá reflectir, ou não, a diversidade eleitoral. Apesar da existência de uma comissão executiva, Isidoro Barradas diz que “será com todos os 11 elementos” da CT “que a administração irá retomar a negociações”.

A fabricação do T-Roc faz parte do plano de recuperação do grupo alemão após o escândalo da manipulação das emissões de veículos a diesel, pelo que a VW está particularmente atenta ao diferendo laboral em Palmela, que levou à greve de 30 de Agosto, e quer o assunto resolvido em Outubro, de modo a não falhar as metas de produção para o ano que vem.

Até agora, foram produzidas algumas centenas de unidades, e a primeira carga para comercialização sairá do porto de Setúbal na semana de 16 de Outubro, tendo a Alemanha como destino. Até ao final do ano, a estimativa é chegar às 28 mil unidades, número que dispara para cerca de 180 mil em 2018.

O peso da fábrica de Palmela para a economia portuguesa também tem uma forte expressão. Em Junho, além do contributo das exportações de serviços, por via do turismo, que irão continuar a crescer, o Banco de Portugal destacava que as vendas ao exterior iriam ainda beneficiar “no final de 2017 e ao longo de 2018 do aumento previsto da capacidade produtiva de uma unidade industrial do sector automóvel”, ou seja, da Autoeuropa.

Incluída na lista das maiores empresas exportadoras (muitos componentes são também importados, não obstante o contributo de componentes nacionais), esta fábrica tem um peso da ordem do 1% do PIB e de 4% nas exportações nacionais, de acordo com os dados da própria empresa.

Actualmente, além do recém-chegado T-Roc, a Autoeuropa produz três outros modelos, o Scirocco, o Alhambra e o Sharan (Seat).

De acordo com os últimos dados disponíveis da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), entre Janeiro e Agosto a Autoeuropa produziu 59.296 veículos, o que corresponde a uma subida de 3,5% face a idêntico período de 2016. O principal mercado foi a Alemanha, com 16.758 unidades (28,6% do total), seguindo-se a China (10.178) e o Reino Unido (10.125).

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