David Neeleman impedido de votar entrada da Azul na TAP

Azul comprou 90 milhões de euros em obrigações convertíveis em acções, com o apoio dos chineses da HNA. Novo acordo de accionistas diz que Neelman, que detém capital das duas empresas, não pode fazer parte da decisão de entrar na TAP.

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David Neeleman aposta numa aproximação entre a Azul e a TAP Nuno Ferreira Santos

Quando a Azul, a companhia aérea brasileira, se reunir para decidir se converte ou não em acções os 90 milhões de euros de obrigações compradas à TAP, David Neeleman não poderá ter voto na matéria. Isso mesmo ficou estipulado no novo acordo de accionistas da Azul, divulgado esta semana pela empresa. Um pedido de explicação feito pelo PÚBLICO junto da Azul ficou sem resposta, mas o facto de Neeleman ser accionista desta empresa, e também da TAP, através da Atlantic Gateway, seria razão suficiente para o impedimento agora conhecido.

O tema da conversão de obrigações da TAP em acções é estratégico para as duas empresas, já que, quando acontecer, dará à Azul uma fatia de 6% do capital da transportadora aérea portuguesa, mas que equivale a 41,2% dos direitos económicos (como os dividendos).

Actualmente, Neeleman é dono de 43,4% do capital da Atlantic Gateway, o consórcio privado que, por sua vez, detém 45% da TAP. Na Azul, além de ser fundador e presidente do conselho de administração, o empresário é também um dos principais accionistas, ao lado de outros como a United, os investidores ligados à Trip (companhia regional adquirida em 2012) e o grupo chinês HNA.

O mesmo impedimento, no entanto, não parece aplicar-se à HNA, já que nada é dito sobre o assunto no acordo de accionistas. Neste momento, através da Hainan, a HNA é accionista tanto da Azul como da TAP.

No caso da transportadora aérea portuguesa, a HNA é, desde Julho, dona de 5,6% da Atlantic Gateway, ao lado de Neeleman e de Humberto Pedrosa. Já a entrada dos chineses na Azul ocorreu em Agosto do ano passado (temporalmente, após a privatização da TAP), tendo pago 450 milhões de dólares (cerca de 380 milhões de euros) em troca de títulos preferenciais que a posicionam como o maior accionista em termos de interesses económicos.  

Foi, aliás, a HNA quem financiou a compra de obrigações da TAP efectuada pela Azul. Ao avançar com os 90 milhões de euros em causa, a HNA ficou, segundo o documento entregue ao regulador do mercado de capitais norte-americano, com o “direito de ficar com os benefícios económicos associados a 30 milhões de euros das obrigações compradas à TAP” (ou das acções, se for esse o caso). A HNA pode exercer esse direito, equivalente a 1/3 da posição da Azul, ou 17,13% dos direitos económicos, até ao final deste ano. A Azul garante, no entanto, que ficará sempre com a titularidade das obrigações (ou acções).

Azul e TAP mais próximas

A aproximação entre a Azul e a TAP será também efectuada através de uma joint-venture entre as duas empresas para explorar melhor as ligações entre Portugal e o Brasil (ao nível da partilha de custos e de aviões, por exemplo, e com mais troca de informações comerciais), conforme foi recordado recentemente por Trey Urbahn, próximo de David Neeleman e alto quadro da TAP, em declarações ao site especializado FlightGlobal. A ideia inicial da transportadora era apresentar os detalhes desta operação à autoridade da concorrência do Brasil no primeiro semestre, mas tal ainda não aconteceu. Existe um acordo de code-share entre as empresas, e a Azul já voa para Lisboa a partir de S. Paulo, mas é a TAP quem assegura mais rotas entre os dois países.

Até há pouco tempo, Trey Urbahn estava na comissão executiva da TAP, mas foi substituído em Julho por Antonoaldo Neves, que ocupava o cargo de presidente executivo da Azul desde Janeiro de 2014. Ex-quadro da Mckinsey, o gestor foi apresentado aos trabalhadores como alguém que está ligado ao sector da aviação há 15 anos e que ajudou “a consolidar a fusão [da Azul] com a Trip, em conjunto com David Neeleman”.

No seu curriculum está a entrada em bolsa da Azul nos mercados de São Paulo e Nova Iorque, realizada em Abril, um caminho que a TAP também quer seguir. E, olhando para o futuro, Trey Urbahn afirmou à FlightGlobal que Antonoaldo Neves é “o sucessor lógico” do actual CEO da TAP, Fernando Pinto. Em Março do próximo ano, quando se realizar a assembleia geral da TAP, ver-se-á se Fernando Pinto cumpre mais um mandato ou se a entrada do ex-CEO da Azul foi feita a pensar na mudança de cadeiras. Além de Fernando Pinto, de David Neeleman e de Antonoaldo Neves, a comissão executiva é composta também por Neng Li (que representa os interesses da HNA e pertence à administração da Azul), e por David Humberto Pedrosa (filho de Humberto Pedrosa).

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