Os At The Drive-In precisam de nós e nós precisamos deles

No segundo dia do Vodafone Paredes de Coura, a banda de Cedric Bixler e Omar Rodríguez-López deixou marcas. Mas a jornada ficou marcada por duas surpresas vindas do palco secundário: Jambinai e Ho99o9.

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You Can't Win, Charlie Brown
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Empenhado em bater o recorde do salto mais alto, o vocalista Cedric Bixler sobe para o topo de uma coluna. Do alto, vocifera o refrão de Governed by contagions. Arrisca tudo e lança-se para o estrado do palco. Aterragem perfeita, continua a gritar os versos da música do álbum de regresso. São os At The Drive-In, que após um hiato de década e meia tocam pela primeira vez em Portugal na 25.ª edição do Vodafone Paredes de Coura, que reservou as maiores surpresas do segundo dia para o palco secundário, com as actuações dos imprevisíveis Ho99o9 e dos inspirados Jambinai.

A tradição de pelo menos um dia de chuva em Paredes de Coura ainda não se cumpriu este ano. O sol está do lado do público – e que até soar o último acorde, algures às primeiras horas de domingo, continue assim. Agradecem os comerciantes da vila que têm as esplanadas cheias, agradecem os que descem o anfiteatro relvado para se aproximarem do palco principal sem acidentes pelo caminho e os cerca de 15 mil campistas com tenda montada na Praia Fluvial do Taboão.

O tempo passa devagar na vila minhota. Sem pressas mergulha-se no rio Coura, planeia-se a agenda de concertos para o dia e a melhor altura para esticar as pernas na sombra do relvado junto ao Palco Jazz na Relva.

No recinto, os concertos só começam às 18h. E nesta edição foram os norte-americanos Sunflower Bean a inaugurar o Palco Vodafone FM – no dia anterior, o primeiro, todas as actuações decorreram no palco principal. Enquanto actuavam, preparava-se já o concerto dos portugueses You Can't Win Charlie Brown, que conseguiram dar por bem empregue a aposta da organização em dar-lhes vista privilegiada para o anfiteatro.

O recinto começa a encher, marca-se território para o concerto dos Car Seat Haedrest, de regresso a Portugal depois da passagem pelo NOS Primavera Sound. Que bom seria voltar a ter 20 anos. Que bom é ter 20 anos. Indie rock com borbulhas na cara assegurado por uma actuação madura do grupo liderado por Will Toledo, que, a julgar pela extensa discografia, não terá tempo para dormir. Competentes q.b., transportam para o palco a ideia de que cada riff que sai na garagem é uma música. Há uma ingenuidade e um descomprometimento aparente que os torna genuínos. Preconceitos com qualquer outro género musical garantidamente não existem: a t-shirt da banda clássica de thrash metal, Anthrax, usada pelo guitarrista Ethan Ives, prova-o.

Imagem de pós-adolescente tem também King Krule, que em contraste canta como se a voz tivesse sido marcada pelo tempo. Há uma rouquidão na voz e um peso no semblante de Archy Ivan Marshall que lhe dão o crédito necessário para que se acredite que a música que faz é coisa a sério. Antes dos At The Drive-In subirem ao mesmo palco onde tocou, conseguiu prender a atenção do público com uma sonoridade que tanto pode começar numa espécie de bossa nova como passar pelo jazz e terminar num rock directo e mais punk.

Dezassete anos é muito tempo?

Dezassete anos é muito tempo, mas não o suficiente para os At the Drive-In caírem no esquecimento. Foi o tempo que passou entre o último lançamento e o regresso ao estúdio. Penaram para conseguir um contrato discográfico, tocaram em salas vazias, até se tornarem um dos bastiões do post-hardcore, sem que isso lhes barrasse a entrada noutros circuitos. Interromperam a jornada a meio, após editado o aclamado Relationship of Command, e retomam-na agora com o novo Inter Alia, editado este ano.

Em dia de aniversário do baterista Tony Hajjar, presentearam o público com a primeira aparição em solo nacional. O que esperar do concerto de uma banda que após o álbum mais bem sucedido da carreira não tem a pedalada suficiente para lhe garantir um sucessor? Não é que os membros tenham ficado parados. Cedric Bixler e o guitarrista Omar Rodríguez-López fundaram os Mars Volta e Tony Hajjar tem os Sparta, que em 2013 passaram por Paredes de Coura.

O que se viu foi o esperado para uma banda que conseguiu reunir uma base sólida de fãs e toca pela primeira vez num país onde nunca tinha estado. Portanto, o público estava já do lado da banda antes do primeiro acorde. Mas isso vale apenas para as primeiras músicas. Para os fãs não se dispersarem, até ao final do concerto é preciso mais do que apenas aparecer.

Não será difícil para Cedric Bixler entregar esse extra que faz de um concerto mais do que um alinhamento de músicas. Para o vocalista não há segredos no palco. Com uma energia inesgotável, reclama-o como seu por direito. Marca território, expandindo-se para além do seu. Sobe ao bombo da bateria de Hajjar, a seguir já está em cima de uma coluna, salta para o estrado, alto como sempre o fez, e passeia a base do microfone, a que a dada altura parecia empenhado em dar uso pela última vez, tal a força com que batia com o respectivo suporte no chão.

Novo álbum para apresentar não foi impedimento para percorrer a discografia. Os At The Drive-In tocaram Napoleon solo, do segundo álbum, In/Casino/Out (1998), Arcarsenal, Pattern against user, Enfilade e, claro, One armed scissor, do mítico Relationship of Command (2000). Do novo, foi Governed by contagions que mais agradou ao público – que, no caso da fila da frente, não parou um minuto.

Cedric Bixler agradeceu a todos os “irmãos e irmãs” na plateia, aos quais garantiu não ser possível continuar a fazer o que os At The Drive-In fazem sem eles. A única forma que o público teve de agradecer foi deixar-lhes levarem para casa a imagem de um anfiteatro cheio.

Hip-hop pós-apocalíptico...

Ouve-se uma espécie de throat singing, há um vocalista preso numa camisa de forças, entra o flow compassado de uma segunda voz e de repente há uma explosão de distorção. O que é que se está a passar no palco secundário de Coura? É o cenário pós-apocalíptico criado pela dupla TheOGM e Eaddy, que aguentam os vocais acompanhados por bateria, samples e guitarras distorcidas enlatadas. Se um diz mata, o outro diz esfola. Digamos que se os Prodigy se cruzassem com os Ho99o9 na rua mudavam de passeio, escondiam-se ou fugiam a correr.

Há hip-hop, há punk, peso, balanço e distorção. O que é que há para não gostar? A camisa de forças não aguentou muito tempo. Não há forma de os segurar por muito tempo. O público deixa-se levar pelo inferno sonoro, eles agradecem. “We love you, we love you”, repetem para não haver dúvidas.

Os Ho99o9 (lê-se horror) já tinham experimentado o público português em Barcelos, no Milhões de Festa. Diz quem viu que deixaram marcas impossíveis de apagar. Em Paredes de Coura não foi diferente.

... e um segredo do Oriente

Mais tarde, escondido no After-Hours, está um segredo do Oriente. Era já de madrugada e juntava-se no Palco Vodafone FM quem não debandou após o concerto de Nick Murphy, que fechou a noite no palco principal.

Ouve-se o som de um instrumento de sopro tradicional da Coreia do Sul. Fica a sensação de que algo está para ser anunciado. Entra a guitarra no tempo da bateria e o som quase mágico do haegeum e do geomungo, dois instrumentos de cordas tradicionais sul-coreanos. A música cresce numa explosão conjunta de guitarra e instrumentos tradicionais. Podia ser mais uma banda de post-rock, mas os Jambinai são mais do que isso. Há uma espécie de ancestralidade no som dos sul-coreanos e uma sensibilidade capaz de derrubar fronteiras geográficas. O recurso a instrumentos tradicionais locais catapulta-os para um nível que os distancia de novas propostas de um género mais do que saturado. No segundo dia da 25.ª edição do festival, assinaram um dos concertos mais surpreendentes até à altura. Tivessem tocado no palco de baixo a uma hora menos tardia e talvez estivéssemos a falar de um concerto memorável para figurar no quadro de honra para onde entraram os Arcade Fire em 2005.

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