Da boa nova aos últimos dias, os Wovenhand são profetas do Apocalipse

Os norte-americanos apresentaram esta quinta-feira no Hard Club o mais recente álbum Star Treatment. Esta sexta-feira descem a Lisboa para concerto no RCA Club.

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Wovenhand, Paulo Pimenta
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E se um mensageiro cantasse a história da vida, da morte e do que está além dela? Da morte? Há vida. Convicção inabalável de David Eugene Edwards, a mente brilhante que deu origem aos norte-americanos Wovenhand, que passaram esta quinta-feira pela sala 2 do Hard Club, no Porto, e apresentam esta sexta-feira o mais recente Star Treatment, no RCA Club, em Lisboa.

Eugene conta-nos essas histórias e leva a sério a missão que acredita ter em mãos. Obra do destino? Não o escolheu. Foi escolhido. Prega a boa nova e as dores dos últimos dias: “Darkness and distress, woe unto them. Their light for darkness, woe unto them, this bitter for sweet”, verso de Hiss, que abriu o concerto.

Há um certo desconforto e angústia na música dos Wovenhand, alternado com momentos de uma luz libertadora carregada de esperança. Eugene é intenso como a mescla de folk, country e rock pintado com o lado mais obscuro do gótico que entrega. Nesta passagem pelo nosso país traz uma versão mais rock da banda que toca essencialmente os últimos dois álbuns: Refractory Obdurate (2014) e Star Treatment (2016), o último.

Durante o concerto, todas as atenções estão viradas para o líder da banda, também fundador dos 16 Horsepower, que a partir do momento em que sobe ao palco entra noutro estado. Um híbrido entre a imagem de um nativo-americano cruzado com a de um colonizador. A estética indígena não disfarça a sua herança europeia, nem a cruz que traz ao pescoço. Quase sempre a tocar de olhos fechados, absorve todo o conteúdo lírico e o ambiente sonoro que debita, que se fundem com o corpo. Naquele momento, no palco, Eugene é Wovenhand.

Toca para ele, para o público ou para as duas partes? Talvez queira antes chegar a uma dimensão espiritual que esteja fora daquela sala ou talvez para Eugene também lá esteja.

No final da segunda música, Crystal Palace, do álbum de 2016, alguém arrisca num “boa noite”. Não era altura ainda para cerimónias. Ficou sem resposta.

Atira-se ao riff de The Hired Hand com uma batida gótica contínua que se mantém até ao refrão esperançoso. Fita pela primeira vez o público e contorce-se em movimentos espasmódicos. “He command the grave and sea. Give up your dead, give up your dead. He command the grave and sea, this brazen we. Give up your dead, give up your dead”, canta. Se houvesse dúvidas, desvenda-se para quem cantam e tocam os Wovenhand. Neto de pastor nazareno segue o mesmo trilho do avô na fé. Eugene sempre fez questão de se demarcar do epíteto de banda cristã que considera “típica”. Para ele a componente musical é tão importante como a lírica e faz questão de que nunca seja relegada para segundo plano. 

The Refractory do penúltimo álbum é um dos pontos altos da noite. Aqui já tinha trocado a guitarra eléctrica pelo bandolim. Ecoa a voz pela sala e chega o mais longe que pode com o refrão que assume proporções épicas. Desperta do transe hipnótico e cumprimenta pela primeira vez o público.

Recuam até 2010, e passam por Sinking Hands. Foi o mais para trás que foram na discografia. Quem lá estava reagiu positivamente à incursão pelo álbum The Threshingfloor, o último lançamento antes dos Wovenhand terem seguido uma via mais suja com músicas mais apoiadas na distorção das guitarras e menos denunciadamente folk. Saem do palco e deixam a tocar um interlúdio que remete para a herança indígena norte-americana.

No regresso tocaram ainda Five by Five e Low Twelve, as duas de Star Treatment, e terminam com King O King de The Laughing Stalk (2012), uma das duas únicas músicas que tocaram e não pertencem aos dois últimos trabalhos.

Já se esperava que o alinhamento não fugisse muito aos álbuns mais recentes. Desde 2005, quando surpreenderam Paredes de Coura ao substituírem os Killing Joke no palco principal, depois dos britânicos terem cancelado o concerto à última hora, são presença regular em Portugal. Quem esperava ouvir faixas de Woven Hand, que faz este ano 15 anos, Consider the Birds ou Mosaic não terá saído satisfeito. Não era este um concerto best of de uma banda que tem apresentado cá todos os álbuns lançados desde a primeira visita. Para o concerto ser perfeito, do último terá faltado tocarem Golden Blossom

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